Eliminada nas qualificatórias dos 100m borboleta em Tóquio, neste sábado (24), Yusra Mardini é uma das atletas que foram à capital japonesa para competir sob a bandeira da Seleção Olímpica de Refugiados do Comitê Olímpico Internacional (COI).

Apesar do último lugar na eliminatória, o resultado ficou em segundo plano perto da história de superação da síria para estar na piscina olímpica e entre os 29 atletas refugiados.

“Eu sei que talvez não estou carregando a bandeira do meu país, mas estou carregando a bandeira olímpica, que representa todo o mundo.”, disse a atleta ao canal oficial da Olimpíada.

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Salvamento no Mediterrâneo

A síria decidiu fugir da guerra em seu país aos 17 anos com a irmã Sara, em 2015, pois contou que havia bombardeios em sua escola, além de ataques enquanto elas estavam nadando. Com isso, elas deixaram Darayya, na Síria, em busca de chegar à Europa.

Sem conseguir levar a irmã mais nova e a mãe, Yusra e sua irmã mais velha foram até a costa da Turquia que está apenas 10km da ilha grega de Lesbos.

“Estávamos em um bote que deveria ser de férias. Só sete pessoas são permitidas nele, mas éramos 20 pessoas. Normalmente são cerca de 10 km [travessia], então leva cerca de 45 minutos nesses pequenos botes. O barco já estava quebrado de alguma forma e após 15 minutos o motor parou; não funcionou mais”, explicou.

“O vento soprava forte e nosso barco se chocava contra as ondas. A luz estava indo embora. Sara e eu éramos nadadoras experientes, mas os outros no barco não. Nos revezamos na água para deixar o barco mais leve, ajudando-o a enfrentar as ondas, a fim de evitar que ele afundasse. Pedimos ajuda, mas ninguém veio”, detalhou.

Mardini conta ainda que nadou por mais de três horas até que o motor da embarcação finalmente voltasse a funcionar.

“Eu me contorço com essa história, tentando entender por que conseguimos sobreviver e outras pessoas não. Cada vez que ouço que um grupo se afogou no mar, isso me leva de volta para lá, agarrada à corda do barco, batendo as pernas desesperadamente na água”, relembra.

Recomeço na Alemanha

Mesmo com o objetivo alcançado de chegar à ilha de Lesbos, na Grécia, Mardini ainda precisou juntar seus familiares e peregrinar por mais sete países até chegar à Alemanha, onde ela reside atualmente.

“Eu era nadadora desde os três anos de idade, é algo em que tenho trabalhado toda a minha vida. Não me ocorreu apenas quando vim para a Alemanha. É que na Síria, eu não tive a oportunidade. Não tive o apoio da federação.”, finaliza.