Paulo Guedes e sua turma chegaram a Brasília imaginando que sua agenda de transformação da economia e do Estado seria implantada num passe de mágica. Se houvesse resistência, ela seria tratorada. A batalha seria ganha no primeiro round.

Obviamente, não foi assim que as coisas aconteceram. Já na tramitação da reforma da Previdência, que ocupou todo o ano de 2019, Guedes fracassou na tentativa de emplacar seu modelo de capitalização. Agora, na reforma tributária, caminha para nova derrota ao defender a adoção de uma nova CPMF.  

Enquanto isso, seus auxiliares também se frustram com as dificuldades e pedem para sair. Nesta semana entregaram os pontos o empresário Salim Mattar, que era secretário de Desestatização, Desinvestimento e Mercados e o executivo do mercado financeiro Paulo Uebel, Secretário Especial de Desburocratização, Gestão e Governo Digital.

É importante, no entanto, registrar a diferença entre os dois pedidos de demissão. 

Mattar publicou ontem um artigo no site Brazil Journal para se explicar. Ele revelou que, por inexperiência, cometeu um erro logo de largada, na formatação de sua Secretaria: ela ficou sem poder de execução. 

Além disso, Mattar, vejam só, descobriu que existe uma diferença entre o setor público e o setor privado. “O arcabouço legal do processo de desestatização é complexo e moroso”, escreveu ele “São quinze agentes envolvidos, do Presidente ao ministro setorial, do TCU ao BNDES. Tudo torna o processo burocrático, lento e, por mais que alguns se esforcem, não conseguem acelerar as coisas.” 

Em resumo: o agora ex-secretário ficou desalentado com as resistências da burocracia. Faltaram-lhe estamina e jogo de cintura para prevalecer. 

Para Paulo Uebel faltou outra coisa: apoio do chefe. E aqui se trata do presidente Jair Bolsonaro, não de Paulo Guedes. 

A reforma administrativa que estava na alçada de Uebel só vai adiante se o presidente tomar a iniciativa de enviar um projeto ao Congresso. Esse projeto já existe desde o começo do ano, mas Bolsonaro o escondeu em alguma gaveta.

A razão é uma só: aquela história de não querer a reeleição, que o presidente tanto alardeou durante a campanha eleitoral, era conversa para boi dormir. Bolsonaro só pensa na reeleição. E ele sabe que reforma do Estado é sinônimo de desgaste com o funcionalismo público, que no Brasil, é um mar de gente. 

Assim, Mattar pode até ter percebido que as privatizações não são a maior das prioridades do governo, mas pediu arrego principalmente porque não soube vencer as barreiras que encontrou. 

Já Uebel entregou os pontos porque percebeu que estava atuando em uma farsa, com roteiro e direção de Jair Bolsonaro.