No dia 15 de março, mais de um milhão de brasileiros saíram às ruas contra a reforma da Previdência, em diversas capitais do País. No auge dos protestos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, do alto de um carro de som na Avenida Paulista, que o impeachment da presidente Dilma Rousseff colocou no poder um político sem qualquer legitimidade para retirar conquistas históricas dos trabalhadores. À noite, o Palácio do Planalto fez circular a versão de que Michel Temer não recuaria um milímetro em sua reforma da Previdência.

Depois de chegar ao poder sem voto, Temer, de fato, não parece se preocupar com a chamada “voz rouca das ruas”. Seu mantra parece ser o do publicitário Nizan Guanaes, que sugeriu que sua impopularidade lhe daria uma espécie de salvo-conduto para tomar decisões ainda mais impopulares. A opinião dos súditos? Um mero detalhe.

Mais de um milhão de brasileiros foram às ruas e deixaram claro que não aceitam as mudanças na Previdência

Essa lógica, no entanto, não vale para os 513 deputados e 81 senadores, que têm pretensões eleitorais e votarão a reforma proposta pela equipe de Henrique Meirelles. Uma reforma que fixa idade mínima de 65 anos, superior à expectativa de vida em diversos estados do Brasil, iguala as condições de homens e mulheres, a despeito das desigualdades de gênero, e impõe a necessidade de 49 anos de contribuição para a obtenção do benefício integral, mas não toca em privilégios de determinadas castas do funcionalismo, como os militares e os políticos.

Só esses pontos são suficientes para demonstrar o risco eleitoral que correm os parlamentares que decidirem votar a favor da reforma e que, dentro de pouco mais de um ano, voltarão às suas bases para pedir votos dos eleitores. Coincidência ou não, mais de 120 emendas foram apresentadas por deputados da base de Temer. E muitos governistas dizem que, do jeito que está, a reforma não passa. Até porque ela representa um suicídio político para a grande maioria dos parlamentares – especialmente aqueles que vêm do Norte e Nordeste, onde o atual governo é mais impopular.

Até agora, Temer tem conseguido manter a coesão de sua base porque possui uma mercadoria valiosa que Dilma Rousseff foi incapaz de entregar: a proteção da classe política, atingida em cheio pela Lava Jato e pelas delações da Odebrecht. Isso não significa, no entanto, que a retribuição oferecida por deputados e senadores será uma espécie de harakiri. Como são matreiros e experientes, eles saberão ler a mensagem do último 15 de março e dificilmente aprovarão a reforma da Previdência. Afinal, deputados e senadores não são avalistas da dívida de Temer com o setor financeiro.

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