ROMA, 15 NOV (ANSA) – Uma proposta de reforma do Comitê Olímpico Nacional Italiano (Coni) estudada pelo governo causou revolta no mundo esportivo do país e abriu uma crise entre atletas e dirigentes e o partido ultranacionalista Liga, promotor da iniciativa.   

O projeto, que está a cargo do subsecretário da Presidência do Conselho dos Ministros, Giancarlo Giorgetti, prevê retirar do Coni a prerrogativa de distribuir entre as federações esportivas italianas os recursos públicos repassados à entidade anualmente.   

O governo quer que essa tarefa fique nas mãos do próprio Estado, enquanto ao comitê caberia apenas a gestão de cerca de 40 milhões de euros destinados a atletas olímpicos e de alto nível.   

Em 2017, segundo o site “Il Post”, o Coni redistribuiu 145,8 milhões de euros entre 44 federações esportivas do país.   

A Liga alega que o atual modelo cria uma situação de conflito de interesses, já que o presidente do Comitê Olímpico Italiano, cargo ocupado hoje por Giovanni Malagò, é eleito em uma votação entre as próprias federações.   

Segundo o cartola, a proposta não se trata de uma “reforma do esporte” na Itália, mas sim de uma “ocupação” do Coni. “Até mesmo o fascismo respeitou a história do Coni desde sua fundação”, atacou Malagò na última quinta-feira (15). Um dia depois ele acusou o governo de “assassinar” o comitê.   

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Por sua vez, o ministro do Interior Matteo Salvini, secretário da Liga, afirmou que Malagò está “nervoso” porque “perderá muito dinheiro”. “No mundo dourado dos palácios do esporte, onde há salários de centenas de milhões de euros, é preciso se lembrar que o esporte não é apenas a Série A, o esporte é atletismo, vôlei. Resumindo, mais dinheiro ao esporte de base”, disse.   

Já Giorgetti reforçou que o Coni deve se preocupar com o esporte de “alto nível” e que a entidade terá “autonomia” para isso”.   

Reações – Nos últimos dias, diversos atletas italianos saíram em defesa de Malagò. Em seu perfil no Instagram, Daniele Lupo, medalhista de prata no vôlei de praia dos Jogos Rio 2016 e porta-bandeira azzurro na cerimônia de encerramento, disse que é um “absurdo” a política querer “gerir nosso mundo”.   

Federica Pellegrini, maior nadadora da história do país e porta-bandeira na abertura das últimas Olimpíadas, comentou a postagem do colega: “Absolutamente de acordo, deixemos o esporte nas mãos do esporte”.   

Fabio Basile, judoca medalhista de ouro no Rio, afirmou que Malagò “é o número 1”. “Estou com ele”, acrescentou. Lorenzo Bernardi, ex-jogador da seleção masculina de vôlei, também se juntou aos apelos em defesa do Coni. “Deixem-nos jogar com a liberdade de quem não segue nenhuma bandeira que não seja a nossa amada tricolor. Viva a Itália, viva o esporte, viva o Coni”, escreveu nas redes sociais.   

A polêmica chega enquanto a Itália tenta lançar novamente uma candidatura para sediar os Jogos Olímpicos, desta vez a edição de Inverno de 2026, com Milão e Cortina d’Ampezzo. O país aparece bem posicionado na briga, já que sua única adversária deve ser Estocolmo, da Suécia, mas pode acabar prejudicado por questões políticas.   

Em 2016, a candidatura de Roma aos Jogos de Verão de 2024 foi retirada já no meio da disputa devido à discordância da então nova prefeita da cidade, Virginia Raggi, do antissistema Movimento 5 Estrelas (M5S), que hoje governa a Itália em aliança com a Liga. (ANSA)


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias