Quando era criança, Louise Glück brincava de fazer concursos para eleger o poema mais bonito do mundo, mas sempre mudava de ideia. No discurso da cerimônia em que recebeu o Nobel de literatura, no ano passado, ela finalmente anunciou o vencedor: em sua opinião, é “O Garotinho Negro”, de William Blake. No mundo real, a americana é que levou o prêmio. Ela recebeu o Nobel “por sua voz poética inconfundível que, com austera beleza, transforma a existência individual em universal”, segundo a Academia Sueca. Foi apenas o ápice da carreira de uma autora agraciada com os principais prêmios do mundo, do Pulitzer ao National Book Award.

Lançamento

“Poemas 2006-2014”
Louise Glück Cia. das Letras
R$ 79

O desejo de tornar universal um sentimento pessoal, ou seja, compartilhar o que está dentro de si mas pertence a todos, sempre foi um dos grandes desafios da literatura. Inspirada por cânones da língua inglesa, como William Shakespeare, William Blake e Emily Dickinson, Louise troca belas metáforas por lembranças precisas, além da releitura de mitos e temas clássicos. Em seus poemas não há a matemática parnasiana ou qualquer traço de formalidade excessiva: seus versos são soltos e livres, disfarçados de conversas do dia a dia, como se, ao escrever, ela estivesse revivendo uma memória da qual tem saudade. “Acredito que, ao me conceder esse prêmio, a Academia Sueca está escolhendo homenagear a voz íntima e privada, algo que a expressão pública pode às vezes ocultar e esconder, mas nunca substituir”, afirmou.

A obra de Louise chega ao Brasil pela primeira vez em uma edição que reúne seus três trabalhos mais recentes: “Averno” (2006), baseado no mito de Perséfone, sobre o sequestro de uma deusa; “Uma Vida no Interior” (2009), abordando a história dos moradores de uma pequena cidade e seus laços com a natureza; e “Noite Fiel e Virtuosa” (2014), que trata do envelhecimento e da proximidade da morte. A nova-iorquina de 78 anos escreve sobre experiências comuns a todos nós, como no último verso de “Solstício de Verão”: “Você vai deixar a vila onde nasceu / e em outro lugar vai enriquecer e conhecer o poder / mas para sempre lamentará algo que ficou para trás / mesmo sem saber o que é / até que voltará para buscá-lo.”