SÃO PAULO, 16 AGO (ANSA) – Por Lucas Rizzi – Uma reforma constitucional aprovada em 2020 arrisca deixar a comunidade ítalo-brasileira sem nenhum representante direto no Parlamento da Itália, apesar das candidaturas de figuras de grande notoriedade pública, como Emerson Fittipaldi e Andrea Matarazzo.   

O país europeu é um dos poucos do mundo que elegem parlamentares para representar especificamente suas comunidades de expatriados, com um sistema de voto pelo correio instituído a partir das eleições de 2006.   

Atualmente, são 12 vagas na Câmara dos Deputados e seis no Senado para os colégios eleitorais no exterior, totalizando 18 cadeiras, das quais seis vão para a circunscrição da América do Sul (quatro na Câmara e duas no Senado).   

No entanto, a eleição legislativa de 25 de setembro será a primeira após a entrada em vigor de uma reforma constitucional que diminui o número de assentos no Parlamento em um terço. Com isso, as vagas para o exterior serão reduzidas para 12, sendo que o colégio eleitoral da América do Sul sofrerá um corte acima da média: 50%.   

“Infelizmente, a redução é especialmente forte na América do Sul, o que acaba restringindo a representação. E o Brasil, pela primeira vez desde que tem voto no exterior, corre o risco concreto e verdadeiro de ficar sem representação no Parlamento italiano”, afirma à ANSA o senador Fabio Porta, que disputará uma vaga na Câmara pelo Partido Democrático (PD), de centro-esquerda.   

Em teoria, um candidato é eleito para representar os italianos de toda a América do Sul, mas, na prática, o voto é historicamente associado ao país de origem: os italianos da Argentina costumam votar em deputados e senadores ítalo-argentinos, os do Brasil apoiam candidatos ítalo-brasileiros, e por aí vai.   

Como o colégio eleitoral na Argentina (cerca de 770 mil eleitores) é quase o dobro do Brasil (430 mil), os candidatos ítalo-argentinos aparecem sempre na liderança.   

Histórico desfavorável – Com a reforma constitucional que reduziu o tamanho do Parlamento, a eleição de 25 de setembro dará duas vagas na Câmara e uma no Senado para a América do Sul.   

Se esse sistema estivesse em vigor desde 2006, apenas um candidato ligado ao Brasil teria sido eleito: o próprio Porta, que ficou com a segunda vaga para a Câmara em 2013.   

Já para o Senado, o mais votado na América do Sul sempre foi da Argentina. Em 2018, por exemplo, o ítalo-argentino Ricardo Merlo obteve 54.323 votos (sendo 36.740 na Argentina), contra 20.784 de Porta (13.273 deles no Brasil), dono da segunda cadeira.   

“Não é uma preocupação bairrista, é de representação.   

Considerando que devem estar representados os principais países de imigração italiana, seria injusta uma eventual ausência do Brasil”, afirma Porta.   

Esse contexto ajuda a explicar a candidatura de alguns nomes conhecidos no Brasil, como o ex-embaixador e ex-ministro Andrea Matarazzo e o bicampeão de Fórmula 1 Emerson Fittipaldi, que disputarão uma vaga no Senado pelo Partido Socialista Italiano (PSI), de centro-esquerda, e pela legenda de extrema direita Irmãos da Itália (FdI), respectivamente.   

Neste cenário, o maior desafio será superar um índice de abstenção que gira em torno de 70% e incentivar o eleitorado a votar. “É uma campanha muito curta. Você tem que mostrar aos cidadãos italianos da América do Sul a importância do Senado, fazer com que os eleitores do Brasil e de outros lugares votem mais”, diz Matarazzo à ANSA.   

Já o senador ítalo-brasileiro Fausto Longo, que não tentará a reeleição, acredita que é importante não considerar as eleições como uma “Copa do Mundo”. “Todos nós que atuamos na política italiana e nos propomos representar nossa comunidade devemos considerar essa mesma representação no Parlamento sendo dos italianos da América do Sul”, afirma.   

Longo ainda caracteriza a redução das vagas, especialmente no colégio da América do Sul, como um “retrocesso democrático”.   

“Economizamos em recursos, mas reduzimos drasticamente a amplitude e o alcance do papel democrático do Parlamento.   

Quaisquer que sejam os eleitos, essa deve ser uma luta: ampliar o número de representantes”, diz. (ANSA).