INVESTIGAÇÃO Projeto quer achar o DNA de Leonardo  para descobrir segredos do mestre, incluindo “superpoderes” sensoriais. Acima, pesquisadora manipula pintura de 500 anos
INVESTIGAÇÃO Projeto quer achar o DNA de Leonardo para descobrir segredos do mestre, incluindo “superpoderes” sensoriais. Acima, pesquisadora manipula pintura de 500 anos (Crédito: Jesse Ausubel)

É difícil apresentar o renascentista italiano Leonardo da Vinci  (1452-1519) por uma só especialidade. Gênio na acepção mais abrangente do termo, ele não foi apenas um mestre da pintura, mas um inventor que dominava a engenharia, a arquitetura, a anatomia, as ciências naturais e a música. Nada mais natural, portanto, que para realizar o estudo mais completo já feito sobre o humanista, uma equipe multidisciplinar tenha se reunido. Este mês, historiadores, antropólogos, geofísicos e biólogos moleculares passaram a se debruçar sobre uma única questão: quem foi da Vinci e por que ele possuía tantas e tão apuradas competências. “O projeto visa estender o poder do DNA no estudo da arte e da história”, disse à ISTOÉ o líder da iniciativa, Jesse Ausubel, diretor do Programa para o Meio Ambiente Humano da Universidade Rockefeller, em Nova York (EUA). “E pode fazer com que descubramos coisas fascinantes sobre Leonardo.”

Inspirado por abrangentes pesquisas feitas recentemente, que descobriram restos mortais e segredos há muito escondidos do rei britânico Ricardo 3º (1452-1485) e do escritor espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616), o projeto da Vinci está programado para ser concluído em 2019. Coincidirá com o aniversário de 500 anos da morte de um dos maiores gênios da história da humanidade. Como primeiro passo, os cientistas estão numa busca frenética pela mais essencial das informações, o material genético de Leonardo. Para isso desenvolvem uma técnica que busca pequenos pedaços de pele e fios de cabelo em seus quadros. Como complemento, procuram a localização de antepassados e descendentes de da Vinci, tanto vivos quanto mortos.

“Nós vamos usar as mais avançadas tecnologias e ferramentas de análise de DNA”, afirma Jose Lorente, membro da equipe e professor de Medicina Legal e Forense na Universidade de Granada (Espanha). “E vamos oferecer novos dados relacionados à vida e à família dele.”

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Com os genes de Leonardo em mãos, pesquisadores poderão cumprir o primeiro objetivo da missão, a identificação dos restos mortais do renascentista. Seu corpo foi enterrado no castelo de Amboise, às margens do rio Loire (França), mas o prédio foi destruído durante a Revolução de 1789 e o cadáver foi perdido. Acredita-se que tenha sido guardado e colocado sob uma capela menor dentro do mesmo complexo no século 19, mas a autenticidade dessa ossada ficou para sempre em aberto.

Através do DNA, os estudiosos poderão ainda comprovar se alguns quadros que são atribuídos a da Vinci são mesmo dele, além de analisar obras de outros artistas. A equipe começou a busca pelo inacabado “A Adoração dos Magos”, que está em restauração em Florença (Itália) há dois anos. Existe consenso de que foi pintado por Leonardo, mas há outras obras conhecidas, como o famoso autorretrato do italiano feito com giz vermelho, que não são universalmente aceitas.

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Por meio da análise, será possível descobrir as características físicas de da Vinci (formato do rosto e cor dos olhos, cabelo e pele) e o que está por trás de seu excepcional talento artístico e intelectual. Por exemplo, pouco depois do fim da Idade Média, ele uniu o sanitarista, o arquiteto e o engenheiro que existiam dentro de si para criar um esquema cujo objetivo era livrar Milão da peste negra, num plano de “cidade ideal” que até hoje é considerado moderno. “Nós podemos aprender sobre suas origens genéticas e sua extraordinária capacidade sensorial”, diz Ausubel. “Os desenhos de Leonardo mostram que ele podia ver pássaros em voo e o movimento da água, como uma filmadora em câmera lenta.”


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