Já está inserido no cotidiano das pessoas, independente da idade, raça ou credo, a dinamicidade de informações que a internet e a produção de conteúdo online disponibilizam cotidianamente.
Essa enxurrada incansável de notícias, dicas, matérias e conteúdos é gerada e entregue ao usuário de tal forma que o filtro do que é verídico ou não fica maculado, sendo suficiente apenas que a informação seja verossímil, e às vezes, nem isso.
Desde meados da década de 2010, um velho novo problema vem assombrando o mundo: as fake news e a desinformação em massa, que vêm movimentando multidões e enviesando atos criminosos ao redor do mundo.
Um forte exemplo disso foi a eleição estadunidense de 2016, que teve como alicerce uma forte corrente de disseminação de informações falsas, que abrangiam as mais diversas formas de ferir a integridade e a honra da candidata Hillary Clinton.
Anos após, no Brasil, tal façanha se repetiu, e grupos especializados foram responsáveis por bots focados no compartilhamento de dados surreais que passeavam em campos que a lógica e o bom senso ainda desconhecem, mas que, ainda assim, se tornavam verdade absoluta para muitas pessoas.
Caça ou Caçador?
É importante perceber que tais ocorridos não são a doença, mas sim o sintoma, de uma tendência que não parece ter data para acabar.
A já citada dinamicidade das informações não foi inserida de forma paliativa e pensada para que o conteúdo seja assimilado de forma orgânica e saudável.
O intuito é realmente disparar, em grande quantidade, o maior número de click baits, atualizar em tempo real o conteúdo das páginas, e sempre manter o backlog zerado para abrir espaço para cada vez mais demanda e lucro.
Tal dinâmica se faz lucrativa pois, atualmente, a visualização é o maior sinônimo de dinheiro que existe no mundo.
Ilhados Em Um Mar De Nós
O conhecimento é o mais valioso capital que alguém pode ter.
É ele que estimula mudanças, estabelece metas e ambições, que define decisões importantes, mas, também, é o que protege o cidadão dos perigos da ignorância ou do engano.
Não que enganos sejam pecados capitais, irreversíveis e puníveis.
O emblemático dizer socrático do “somente sei que nada sei” é a força motriz que direciona todo e qualquer pesquisador, cientista ou acadêmico e, infelizmente, é exatamente a ela que o senso comum tem demonstrado sua maior aversão.
Especialistas em Nada?
O cidadão comum é tão sobrecarregado de afazeres diários que não considera despender de um tempo valioso de seu dia para estudar as minúcias de como realizar certas coisas que só serão feitas uma ou duas vezes na vida, como descobrir como sacar o FGTS, como solicitar a aposentadoria por idade, como abrir ou encerrar uma empresa, ou como fazer um testamento.
Tudo pode ser aprendido na internet, mas é importante dizer que, apenas, de forma rasa. Muito rasa. E genérica.
Essa é a pegadinha! Essa é a questão que alicerça todos os perigos da dinamicidade das informações que já foram aqui citadas.
Como pensava Sócrates: É melhor saber que pouco se sabe, do que saber mal.
Um contador que, de repente, tem conhecimento suficiente em epidemiologia para acabar com a pandemia de Covid em um post de menos de 250 caracteres em uma rede social, ou um advogado que, sem nenhuma base científica, se torna astrofísico e consegue comprovar com apenas um nível e uma régua que a terra é plana, são apenas algumas pérolas dos últimos anos.
E quanto menos se sabe, mais se pensa que se sabe.
A premissa é simples, a ignorância faz com que a pessoa não saiba que há fatos que questionem ou contradizem o que acredita e então se cria um viés de confirmação completamento desgarrado da realidade gerando os mais diversos absurdos que infelizmente o mundo teve de presenciar na última década.
O conhecimento é apenas um caminho que a humanidade encontrou para responder perguntas que precisam ser respondidas, a realidade real dos fatos jamais será alcançada, nenhum especialista, cientista, professor, autor ou quem seja saberá tudo que poderia saber sobre determinado assunto, quanto mais dos diversos assuntos que sempre surgem.
Mas é a sensação de urgência de ter todas as respostas que estabelece este condão psicológico que valida cada vez mais esse efeito. As conversas nas rodas de amigos no bar, o responder uma pergunta para seu filho ou tentar paquerar na internet está cada vez mais difícil uma vez que todos tem esse acesso dinâmico e interminável a toda e qualquer informação. E por ter tantas opções que a opção de simplesmente acreditar que já sabe o suficiente é tão atrativa.
Nas palavras de Ludwig Wittgenstein “O conhecimento é uma ilha cercado por um oceano de mistério. Prefiro o oceano á ilha”. É em tal máxima que se encontra a contradição que mais confunde o cidadão médio e o senso comum. Embora a ilha aparente ser mais segura e confortável, a vida mesmo se passa no oceano.
Os Perigos Na Ilha
A citada confiança que a facilidade de acesso à informação traz é um grande perigo para o cidadão comum. Ainda mais, se considerar-se a quantidade de idosos e crianças que, embora familiarizados, não são tão maliciosos em relação às inverdades que as redes sociais e os novos meios de comunicação propagam.
Riscos para a Saúde
Segundo o Dr. Fernando Bray, especialista em cirurgia digestiva, não é incomum que as pessoas desenvolvam problemas graves de saúde, desencadeados, entre outras coisas, por dietas perigosas, divulgadas na internet e propagadas nas redes sociais, sem nenhuma espécie de recomendação médica, e que são capazes de causar consequências devastadoras ao organismo.
Isso sem falar o quanto pode ser perigoso buscar informações médicas em comunidades do Facebook ou qualquer outra rede social.
Os danos causados pelas informações falsas, nesses casos, podem ser irremediáveis.
Estelionato Digital
Muitos golpistas utilizam das mais diversas técnicas para conseguir dados sigilosos nos dias de hoje. Criam landing pages de alta conversão, com alto poder de convencimento e capacidade de levar as pessoas a tomarem decisões sem passar pelo crivo da razão.
A grande questão é que tais golpes se esgueiram pelas fragilidades sociais, e utilizam da facilidade de se comprovar qualquer afirmação com dados falsos para atrair vítimas, não se precisa mais o golpista ir até a casa da vítima se passando por um técnico de TV ou por uma empresa desentupidora de esgoto, dedetizadores ou coisa do tipo. Um simples link já basta.
Isto se reflete nos assustadores números que revelam o crescimento que teve a prática de crime de estelionato.
Uma pesquisa realizada pelo Panorama Mobile Time, ouviu mais de 2 mil pessoas, das quais se levantou que 43% dos usuários brasileiros de whatsapp já foram vítimas de golpes na plataforma.
Os números são tão alarmantes que a proporção do estelionato para o roubo é de 104 mil para o estelionato e 27 mil roubos no ano de 2021, um crescimento de 20% em comparação ao ano anterior.
Tais dados apenas denotam o perigo do acesso irresponsável a toda e qualquer informação, maliciosa ou não, mesmo que apenas mal interpretada já prejudica o bom andamento da sociedade em si.
Redação: Bruna Bozano