O Inep, órgão do Ministério da Educação responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), acabou de divulgar, assim que teve início a prova, às 13h30, que a redação deste ano será sobre “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. O tema, como era esperado, envolve um debate sobre direitos humanos e inclusão social.

Por decisão judicial, neste ano, pela primeira vez, quem desrespeitar os direitos humanos não terá, automaticamente, a redação zerada. A decisão foi tomada no sábado pela presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Carmen Lúcia. Ela sustentou que ‘não se combate a intolerância social com maior intolerância estatal’.

O imbróglio judicial, que começou no dia 26 de outubro, com a Justiça acatando pedido do grupo Escola sem Partido para que a redação não pudesse ser zerada se os direitos humanos fossem desrespeitados, causou insegurança entre os estudantes. Na dúvida, muitos deles neste domingo, antes de entrar na prova e de saber qual seria o tema da redação, diziam que continuariam seguindo a regra anterior. No campus Paraíso da Universidade Paulista (Unip) na cidade de São Paulo, mais de 20 estudantes ouvidos pela reportagem disseram isso.

“Vou fazer a prova do mesmo jeito. Acredito que a decisão não vai influenciar, no máximo vai deixar a prova mais politizada”, afirmou Rodrigo Ishida, de 18 anos, vestibulando de Engenharia Mecânica.

Gabriella Bin, de 18 anos, aspirante a uma vaga em Medicina, também disse que a decisão “não influenciou”. “Eu não vou desrespeitar os direitos humanos. Até os professores no cursinho falaram para a gente seguir fazendo do mesmo gente de antes.”

Interessado em uma vaga em engenharia, Rafael Uehara, de 18 anos, também afirmou que prefere “não arriscar”. “Até acho que se a pessoa tiver uma argumentação muito boa, que consiga sustentar, pode ir bem, tipo um exemplo que eu vi de uma pessoa que defendia o fim de todas as religiões. Eu acho um absurdo, mas se for uma argumentação boa… Mas é osso: quem está levando a sério não vai arriscar”, defendeu.

Dentre os jovens, a maioria criticava a decisão do STF. “O meu posicionamento se mantém de qualquer forma, já seria respeitar os direitos humanos”, afirmou Pedro Salto, de 20 anos, que pretende fazer Direito. Ao lado dele, Alexandre Mendes, de 20 anos, aspirante ao curdo de Filosofia, concordou: “Não vou escrever ‘bandido bom é bandido morto na prova’. Bandido bom é bandido recuperado.”

Para Fernanda Fazoni Simões de Souza, treineira de 17 anos, a mudança foi “desnecessária” do ponto de vista “social”. “A gente discutiu muito em aula. Os meus professores de português estavam indignados.”

“Direitos humanos é uma questão intocável. Não concordo com a liminar, acho que a regra deveria ser mantida”, disse o vendedor Wellington Rodrigues Martins, de 26 anos, em Sorocaba. Ele presta a prova pela terceira vez, na esperança de conseguir aprovação em universidade pública para cursar Direito.

Já o candidato Henrique Guimarães, de 17 anos, embora concorde que o respeito aos direitos humanos deve sempre prevalecer, defende que as pessoas tenham livre arbítrio para opinar. “Eu jamais faria algo que ofenda os direitos humanos, mas as pessoas devem ter liberdade para se expressar. Tirar esse direito é um grande retrocesso.”

Exame

Neste domingo, além da redação, os alunos fazem as provas de Linguagens, Códigos e sua Tecnologia e Ciências Humanas e suas Tecnologias, com duração máxima de 5 horas e 30 minutos. No domingo seguinte, dia 12, será a vez dos participantes responderem a questões de Ciência da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias, com duração máxima de 4 horas e 30 minutos.

Mais de 6,7 milhões de brasileiros estão inscritos para participar da edição deste ano. Em 2017, a prova estreia em novo formato, com aplicação dividida em dois domingos consecutivos, nos dias 5 e 12 de novembro. Ao todo, 1.725 municípios brasileiros receberão o exame.