‘Recuperação judicial salva empresas, não as encerra’, dizem especialistas

Alta de pedidos e influência de comunicadores de finanças reacendem o debate sobre o papel da recuperação judicial como ferramenta legítima de preservação de empresas e empregos.

'Recuperação judicial salva empresas, não as encerra', dizem especialistas
'Recuperação judicial salva empresas, não as encerra', dizem especialistas Foto: Reprodução

Com o aumento de 26% nos pedidos de recuperação judicial no primeiro trimestre de 2025, conforme levantamento da Serasa Experian, o tema voltou a ganhar destaque no meio empresarial e nas redes sociais, especialmente entre influenciadores de finanças e negócios. A discussão reacende a importância da recuperação judicial (RJ) como instrumento jurídico legítimo para reestruturação de empresas em crise  e não como sinônimo de falência, como ainda é interpretado por boa parte do empresariado brasileiro.

O advogado e contador Marcos Pelozato, especialista em reestruturação empresarial há 14 anos, explica que o instituto foi criado para proteger empresas economicamente viáveis que enfrentam dificuldades momentâneas. “A recuperação judicial é uma medida de reorganização, não de encerramento. Ela serve para preservar empregos, manter a atividade produtiva e permitir que a empresa volte a operar com saúde financeira. O problema é que muitos empresários só recorrem a ela quando já estão no limite”, afirma.

A Lei nº 11.101/2005, que rege o processo de RJ, prevê a renegociação de dívidas sob supervisão do Judiciário e busca garantir a continuidade das operações. No entanto, segundo dados da Serasa, menos de 0,01% das 7,3 milhões de empresas endividadas no país utilizam o mecanismo, apesar do crescente número de encerramentos precoces, cerca de 2 milhões de companhias fecham as portas anualmente.

Pelozato ressalta que parte da resistência decorre da falta de informação e de cultura de gestão preventiva. “Ainda há muito preconceito. Muitos empresários acham que pedir recuperação é confessar derrota, quando na verdade é um ato de gestão responsável. Nos Estados Unidos, por exemplo, esse tipo de processo é visto como sinal de maturidade empresarial”, explica.

Nos últimos meses, o tema ganhou projeção também entre comunicadores de finanças e influenciadores digitais, que passaram a tratar a recuperação judicial como ferramenta legítima de renegociação. Para Pelozato, o debate público ajuda a esclarecer o papel do instrumento e pode inspirar mudanças culturais no ambiente corporativo. “Quando o assunto chega às redes e começa a ser discutido de forma didática, ele deixa de ser tabu. A recuperação judicial precisa ser compreendida como política de continuidade, não como última instância de desespero”, afirma.

Pelozato defende que empresários e profissionais da área busquem capacitação em gestão de crise e reestruturação financeira. “A RJ é um processo complexo, que exige preparo jurídico, contábil e estratégico. Quando conduzida por equipes qualificadas, ela salva negócios e fortalece a economia real. É uma ferramenta de recuperação, não de encerramento”, conclui.