O Banco Central avaliou nesta quinta-feira, 10, por meio do Relatório de Estabilidade Financeira (REF), que “o ritmo de recuperação da economia brasileira permaneceu gradual no primeiro semestre de 2019”. Em função disso, “o índice de utilização da capacidade de produção da indústria seguiu baixo, com leve redução na taxa de desocupação”.
Conforme o BC, o financiamento amplo às empresas não financeiras no Brasil avançou no primeiro semestre de 2019 em ritmo semelhante ao visto no segundo semestre de 2018. “O recuo no crédito bancário foi compensado pelo expressivo aumento do financiamento via mercado de capitais”, pontuou o BC. “O crédito às famílias, por sua vez, foi pouco afetado pelo desempenho da economia e manteve a tendência de aceleração apresentada nos semestres anteriores”, acrescentou.
Reformas
O Banco Central afirmou que o mercado financeiro “permanece apreensivo em relação a atrasos ou interrupções na aprovação da reforma da Previdência no Senado, mas a aprovação na Câmara Federal atenuou o nível de preocupação que vigorava anteriormente”.
A reforma da Previdência ainda depende de votação em segundo turno no plenário do Senado.
Ao tratar dos riscos ao sistema financeiro, o BC afirmou que não houve alterações relevantes no cenário. “A dívida bruta do governo e o persistente aumento dos ativos problemáticos na carteira às grandes empresas continuam sendo os principais pontos de atenção”, disse o BC no REF, que trata do cenário visto no primeiro semestre deste ano.
“O mercado reduziu sua preocupação com os riscos político-fiscais – embora ainda os considere a maior fonte de vulnerabilidade para a estabilidade financeira -, mas aumentou a apreensão com o cenário externo. As instituições permanecem confiantes na capacidade de o sistema financeiro absorver choques adversos”, acrescentou o BC.
Ao tratar do exterior, o BC citou elevação do risco, “em razão da tensão comercial entre Estados Unidos da América (EUA) e China”.
Crédito imobiliário
O Relatório de Estabilidade Financeira considera que, em um cenário no qual a Selic tende a permanecer nas mínimas históricas, a poupança se mantém como um instrumento competitivo de captação, possibilitando o aumento nas concessões do crédito imobiliário.
O BC lembra, porém, que enquanto os depósitos da poupança representam um passivo de curtíssimo prazo para as instituições financeiras, as operações de crédito para imóveis têm prazos mais longos. Além disso, devido ao mercado secundário pouco desenvolvido no setor, esses ativos são desprovidos de liquidez.
“Esse descasamento entre ativos e passivos precisa ser gerenciado pelas instituições e pode tornar-se fonte de instabilidade para o sistema em uma eventual conjuntura de estresse caracterizada por resgates líquidos persistentes dos depósitos de poupança, em especial se aliada a um ciclo de elevação da taxa Selic”, afirma o documento.
Segundo o BC, em uma reversão de cenário dessa natureza, os bancos precisariam captar recursos a custos mais elevados, comprimindo a margem financeira a ponto de colocar em risco a sustentabilidade do mercado de crédito imobiliário.
“Dados esses possíveis desdobramentos, o montante recolhido compulsoriamente no BC assume o papel de um colchão de liquidez, podendo ser liberado de forma a reduzir, naquele momento, os efeitos do choque de captação do sistema, contribuindo para o gerenciamento do descasamento entre ativos e passivos do crédito imobiliário”, completa o relatório.