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— Presse Océan (@presseocean) September 18, 2025
Manifestation ultra massive à Marseille
La France n’en peut plus de Macron #greve18septembre pic.twitter.com/1rir3Olw3P— Marcel (@realmarcel1) September 18, 2025
O estopim da insatisfação foi a aprovação, pelo então primeiro-ministro François Bayrou, de um plano impopular que cortava serviços públicos, reformava a previdência e concedia aumentos salariais abaixo da inflação, com previsão de arrecadar € 44 bilhões (R$ 275,3 milhões, na cotação atual) até 2027. A proposta também eliminava dois feriados e congelava gastos públicos.
“A realidade permanecerá implacável: as despesas continuarão a aumentar e o peso da dívida, já insuportável, ficará mais pesado e mais caro”, afirmou Bayrou. Atualmente, a dívida pública francesa ultrapassa 114% do PIB (Produto Interno Bruto).
Com o placar de 364 parlamentares contrários e 194 favoráveis, François renunciou ao cargo e coube ao presidente Macron nomear Sébastien Lecornu como novo primeiro-ministro da França, em 9 de setembro.
Futuro incerto
Lecornu assume o cargo em um contexto em que o presidente não conta com maioria absoluta na Assembleia Nacional e a base social de Macron está severamente enfraquecida.
O novo primeiro-ministro não mencionou as medidas de austeridade, apenas afirmou que não cancelaria os dois feriados e prometeu uma “ruptura com o passado” e um “diálogo social”, mas sindicatos e partidos da oposição desacreditam das palavras de Lecornu, pois presumem que as políticas gerais de Macron devem permanecer inalteradas.
E essa seria a mesma percepção da população, segundo explicou à IstoÉ o pesquisador Thomás Zicman Barros, da Universidade do Minho em Portugal e da Sciences Po em Paris. Sébastien era ministro das Forças Armadas e sempre se mostrou fiel ao presidente.
“Ele era uma figura não muito conhecida, relativamente apagado no governo de Macron. Agora a população olha para Lecornu e vê mais um macronista, por isso há pouca perspectiva de grandes transformações”, pontuou.
Possíveis cenários
O governo Macron está em uma encruzilhada e dividido entre três possíveis cenários: recuo, confronto e desgaste, e dissolução da Assembleia.
Indagado sobre essas perspectivas, Thomás afirmou que não há nenhum ator político na França com algum interesse na dissolução da Assembleia, “porque não existe maioria no parlamento”.
“No ano passado [2024], Macron dissolveu de surpresa a Assembleia Nacional e saiu pior do que no começo. A esquerda está dividida. Então, se houvesse uma possível eleição antecipada, provavelmente sairia enfraquecida”, explicou. “A extrema direita até poderia se fortalecer, segundo as últimas sondagens, mas ela também está enfraquecida desde a inelegibilidade de Marine Le Pen“, acrescentou.
Para o pesquisador, o cenário mais provável é que o governo Macron empurre a crise até a próxima eleição presidencial, em abril de 2027, e faça concessões momentâneas com a esquerda e a direita para conseguir aprovar os orçamentos.
A crise pode fortalecer a extrema direita?
O descontentamento da sociedade se remete à pandemia de Covid-19, quando Macron realizou gastos expressivos para salvar a economia e o sistema de saúde, oferecendo auxílio a empresas, trabalhadores e hospitais.
Embora essas medidas tenham evitado um colapso econômico, também causaram um enorme aumento da dívida pública e do déficit orçamentário. Além disso, Macron estabeleceu uma série de isenções fiscais para grupos empresariais e acabou com o imposto sobre os super-ricos.
A desconfiança da sociedade nas instituições públicas intensificou as divisões sociais. Como resultado, os protestos contínuos e a dificuldade do governo em encontrar soluções podem abrir espaço para o avanço da extrema direita.
Thomás compartilha dessa percepção, mas ressalta que, segundo algumas análises, Macron pode não ver esse cenário como totalmente desfavorável, já que sempre se posicionou como o principal adversário da extrema direita.
“Há quem diga que, se a extrema direita ganhar as eleições, Macron pode voltar daqui a cinco anos como uma figura alternativa a esse espectro político e o grande defensor do campo democrático”, concluiu.