06/10/2020 - 9:59
Eu tenho a sensação de ter entrado no filme de ficção científica ‘Minority Report’ ou, pelo menos, em parte dele, onde em vez de o governo identificar pré-crimes, identificará pré-viajantes. O ano seria 2054, porém estamos em 2020 já com a realidade do reconhecimento facial entre nós.
Para começar, cartão de embarque impresso já é coisa do passado. O foco agora é evitar ao máximo o toque em objetos e pessoas. O processo de check-in caminha para ser totalmente online (já praticado atualmente através dos aplicativos das companhias aéreas) ou eletrônico caso você chegue ao aeroporto sem o processo realizado, através das máquinas de self check-in, tanto para pessoas quanto para bagagens. Esse processo diminui, por exemplo, o tempo de antecedência para chegada ao aeroporto e a permanência por lá tende a diminuir. Para o embarque, mensagens de texto serão utilizadas para convocação do seu grupo, para que não exista mais aglomerações (ou que pelo menos diminuam) na entrada do avião. Bem, até aí, nenhuma novidade não é?
Agora, as novas tecnologias serão capazes de não só acelerar a retomada das viagens pós pandemia, como também tornar obrigatório viajar com o celular em mãos e “de cara lavada” para o reconhecimento facial substituir até o seu passaporte.
Por conta da pandemia, houve a colaboração do Fórum Econômico Mundial com o The Commons Project que criou a iniciativa CommonPass, cujo objetivo é permitir que os governos validem os testes de covid-19 e suas credenciais de vacinação através de aplicativos no celular. Além disso, em alguns países os turistas poderão usar aplicativos de rastreamento de contato (como em Belize) ou utilizar um rastreador GPS (como durante a quarentena em Hong Kong e, para alguns turistas, em Granada).
Singapura por exemplo, já é o primeiro país do mundo a utilizar o reconhecimento facial em documentos de identidade emitidos pelo governo. O Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos espera utilizar o reconhecimento facial em 97% dos passageiros até 2023. O sistema identifica seu rosto — pasmem, mesmo coberto por máscara — substituindo assim o seu passaporte, o seu cartão de embarque, ou seu check- in nos hotéis.
Eu sei, tanta tecnologia assim assusta, claro. A sensação seria a mesma que já começamos a ter de sermos vigiados 24 horas por dia. Isso traz uma nova dimensão para as viagens que é de riscos para a privacidade. Como saber que uma informação tão pessoal quanto o seu rosto atrelado a sua identidade e aos seus documentos não seja utilizada para outros fins, até mesmo contrários aos seus interesses? Essa é a lição de qualquer processo de digitalização: a tecnologia é poderosa e pode ser muito prática, mas requer sempre cuidados e proteções legais para evitar abusos.