Muitos recifes da Grande Barreira de Coral da Austrália podem desaparecer nos próximos 20 anos pela descoloração provocada pela mudança climática, alertou nesta sexta-feira uma equipe de pesquisadores.

Outros cientistas já haviam anunciado na semana passada que os recifes, que fazem parte do Patrimônio Mundial da Humanidade, sofrem com seu pior episódio de branqueamento.

As observações aéreas e as inspeções submarinas permitiram aos pesquisadores da Universidade James Cook de Townsville (noreste), no estado de Queensland, constatar que apenas 7% da Grande Barreira de Coral conseguiram se salvar do branqueamento, um fenômeno que pode causar sua morte.

A elevação da temperatura das águas provoca a expulsão das algas simbióticas que proporcionam cor e alimento aos corais.

Se a água esfriar, os recifes poderão se recuperar, mas se o fenômeno persistir, poderão vir a morrer, alertam os cientistas.

O branqueamento ocorre quando condições ambientais anormais, tais como temperaturas mais quentes do mar, levam os corais a expelir pequenas algas fotossintéticas, que perdem a sua cor.

Em outro estudo, um grupo de especialistas do Centre of Excellence for Climate System Science, um organismo financiado pelo governo australiano, afirma que estes episódios de branqueamento serão muito frequentes se houver cada vez mais emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pela mudança climática.

“Como em algumas ocasiões, os corais precisam de 15 anos para se recuperar, nos arriscamos a perder zonas inteiras da Grande Barreira durante as duas próximas décadas”, afirma o estudo.

Segundo os pesquisadores, o aquecimento climático fez subir em março passado em um grau a temperatura do oceano que cerca o estado de Queensland (leste), em relação a seu valor habitual.

“Estas temperaturas extremas serão a norma nos anos 2030, submetendo os ecossistemas da Grande Barreira de Corais a uma pressão muito forte”, afirma Andrew King, um dos cientistas que fez parte do estudo do Centre of Excellence for Climate System Science.

“Nosso estudo demonstra que a probabilidade de que o episódio atual de branqueamento se repita é 175 vezes maior no mundo atual do que em um mundo em que os seres humanos não emitam gases de efeito estufa”, acrescenta.

“Arruinamos as possibilidades de sobrevivência de uma das grandes maravilhas naturais do nosso mundo”, constata.

De acordo com um estudo de cientistas australianos e da Arábia Saudita publicado na revista Nature Communications no início do ano, a Grande Barreira, o maior arrecife formado por seres vivos no mundo, também sofre com a diminuição da quantidade de aragonite – um mineral necessário para os corais na formação de seu esqueleto – que tende a se acelerar com o aumento da absorção pelos oceanos de dióxido de carbono (CO2), resultante da combustão de combustíveis fósseis em seres humanos.

O equilíbrio químico dos oceanos está perturbado, com um declínio do pH (parâmetro que define se um meio é ácido ou básico) e a concentração de aragonite, uma forma cristalina do carbonato de cálcio.

Sem aragonite, os corais não conseguem reconstruir seus esqueletos e se desintegram ao longo do tempo.

A Grande Barreira é ameaçada pelo aquecimento global, os dejetos agrícolas, o desenvolvimento econômico e a proliferação de acanthasters, estrelas de mar com espinhos que destroem os corais.

O local, de 345.000 km2, evitou por pouco entrar na lista de áreas ameaçadas elaborada pela Unesco. A Austrália criou um plano de preservação de 35 anos para salvar a região, uma de suas maravilhas naturais.

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