Bateu o medo na equipe econômica, bateu o desespero no mundo empresarial, começa a aumentar a desesperança na população como um todo. Na realidade, o crescimento econômico prometido e esperado a partir do novo governo sumiu logo nos primeiros meses. Evaporou. Nem chegou a existir, sejamos honestos. Se há desastre maior que o Pibinho oferecido ao País pela gestão Bolsonaro nesse raiar de sua era ainda é preciso esperar para ver. E não há, em hipótese alguma, qualquer chance de o capitão reformado – salvo em circunstância de maquiagem dos fatos – atribuir a gestões passadas a causa da depressão em curso. A economia recua depois de dois anos de razoável recuperação dos números. Os índices já estão no negativo por que um mandatário, chefe da Nação, diz que o assunto não é com ele. Até avisa aos navegantes, interlocutores que o questionam diariamente sobre o tema, que não entende do riscado. Nem era preciso. A atuação de um presidente nesse aspecto, como em outros de vital importância para a retomada (reformas estruturais entre elas), se dá via engajamento. Comando, para usar uma palavra familiar ao mundo da caserna. Quando alguém assume o Planalto, se espera da pessoa que trace uma estratégia, estabeleça prioridades, trabalhe por elas com interlocução direta junto aos agentes, promova o assunto em debates públicos ou via comunicação ao povo. Jair Messias Bolsonaro desenhou ate aqui, decorridos cinco meses (sem fim) de sua regência, dois pilares de trabalho. O principal deles é o da pauta de costumes. Preocupações comezinhas com a higiene do aparelho reprodutor masculino, a abolição das multas de trânsito, a caça aos “comunistas” e o debate chulo nas redes digitais estão nos primeiros lugares de sua lista de deliberações. Como tem ao lado um ministro da Economia digno de nota, Paulo Guedes, a quem atribuiu a alcunha de “Posto Ipiranga” que tudo sabe, deu aval, digamos meio displicente, a sua luta para aprovar a mãe de todas as reformas, a previdenciária. Até as pedras do Lago Paranoá em Brasília sabem que Bolsonaro nunca foi mesmo fã de se mexer na aposentadoria dos velhinhos. Muito menos das castas privilegiadas de militares e servidores públicos que lhe dão respaldo. Mas, meio na marra, por pressão de todos no entorno, se convenceu a conceder tal bandeira a sua gestão tresloucada e vida que corre. Salvo alguns tapinhas nas costas e encontros furtivos com parlamentares para sair bem na foto, o capitão reformado é quase uma nulidade no grupo de liderança que abraçou a causa – além do próprio Guedes, os presidentes da Câmara e do Senado viraram os cavaleiros da esperança nessa cruzada. E Bolsonaro fica no banco da praça, esperando a Previdência passar. Na última semana, em mais um dos movimentos espetaculosos, decidiu atravessar a Praça dos Três Poderes para entregar pessoalmente aos congressistas o projeto de lei que parece ser a sua razão de viver, tamanha a atenção dedicada ao assunto: um conjunto de medidas que alteram o Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Virou a joia da coroa. Na prática, com o perdão do trocadilho, é um pacote de barbeiragens legais que espanta até os mais flexíveis juízes de direito. Bolsonaro quer dobrar o número de pontos necessários para a cassação da Carteira de Motorista, pretende acabar com o exame toxicológico exigido dos caminhoneiros (um universo comprovadamente de alto percentual de uso de drogas estimulantes) e, pasme, propõe tirar a obrigatoriedade das cadeirinhas para crianças nos automóveis – indo, literalmente, na contramão de tudo que é praticado mundo afora. O retrocesso, caso aprovado, ampliando inevitavelmente a insegurança no trânsito, virou o motivo cabal da visita de Messias ao Parlamento. Façamos jus ao empenho do líder: não era a primeira vez que ele fazia essa travessia midiática para ir ter com os políticos. Na semana anterior já havia se predisposto a mesma caminhada para participar de uma homenagem a um humorista de televisão. Aos fatos: a presença pessoalmente de um presidente no Congresso Nacional não pode ser considerada pouca coisa. A simbologia é clara, aqui e em qualquer lugar: todo o peso do Governo, toda a prioridade dele, se concentra no que ele foi lá defender. Eis a mensagem passada por Bolsonaro quando levou debaixo do braço o projeto de aberrações no trânsito. No mesmo dia, no mesmo momento, naquela Casa, parlamentares reuniam-se numa discussão sobre ajustes na Reforma. Bolsonaro sequer pensou em ir até lá dar o peso da sua presença para influenciar positivamente nos acertos. Muitos menos cogitou fazer gestos semelhantes para propor um esforço conjunto em prol da retomada do crescimento. Ele nem sequer elaborou proposta nesse sentido. O mais grave é que o governo está perdendo o timing. A eleição normalmente provoca (e essa não foi diferente) um enorme aumento de expectativas positivas dos agentes econômicos. As apostas estavam altas. Consumidores planejavam compras. Empreendedores discutiam expansões e o mercado, ativo como nunca, promovia subidas recordes das ações nas bolsas e fortalecia a moeda. Tudo refluiu. O desempenho dos investimentos externos, em queda acentuada, espanta. Os índices de confiança, tanto do empresariado como dos consumidores, medidos pela Fundação Getúlio Vargas, já desceu ao pior nível desde outubro passado, antes de Bolsonaro sagrar-se vitorioso. O desencanto entrou em curso acelerado e um tenebroso fantasma, que amedrontou brasileiros nos últimos tempos, voltou a aparecer: a recessão. Está aí de novo. Provocando arrepios. Tirando a paciência de empreendedores e desempregados, que clamam por um presidente interessado no que realmente importa.