Grupos rebeldes sírios lançaram nesta segunda-feira uma grande ofensiva contra as tropas governamentais em Aleppo, norte da Síria, depois que o Exército bloqueou a única via de abastecimento para a metrópole dividida.

Uma chuva de foguetes rebeldes e ataques aéreos do regime mataram ao menos 22 civis e destruiu casas dos dois lados da cidade.

Segunda maior cidade do país, Aleppo está dividida desde 2012 em bairros do oeste, nas mãos do Exército sírio, e bairros do leste, controlados pelos rebeldes.

Em 7 de julho, as forças pró-regime, que procuram cercar totalmente os bairros rebeldes para em seguida tentar tomá-los, conseguiram cortar a rota de Castello, último eixo de abastecimento dos bairros rebeles, onde 200.000 pessoas vivem.

Em resposta, “os rebeldes lançaram uma grande ofensiva em quatro frentes contra as forças do regime em Aleppo, particularmente na Cidade Velha”, afirmou Rami Abdel Rahman, diretor do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH).

“Há violentos combates, mas os rebeldes não avançam devido aos intensos bombardeios aéreos do regime nas zonas de combates”, acrescentou.

Os rebeldes dispararam 300 foguetes contra o setor ocidental de Aleppo, provocando a morte de ao menos 9 civis, e explodiram um túnel na Cidade Velha liquidando 19 soldados, informou o OSDH.

Por sua vez, a televisão estatal síria disse que “oito civis morreram e 80 foram feridos no ataque terrorista contra bairros residenciais de Aleppo”.

Chuva de foguetes

O OSDH informou que 13 civis morreram nos ataques aéreos contra os bairros rebeldes de Aleppo nesta segunda-feira, a maioria em Bab al-Maqam, próximo à linha de frente.

A casa de Ahmed, um residente do distrito dos siríacos, foi completamente destruída. “Começou a chover foguetes sobre os bairros da parte oeste da cidade a partir das 4h30 (22h30 de domingo no horário de Brasília)”.

Os habitantes deste bairro se reuniram em uma das ruas atingidas pelo bombardeio para levantar a pilha de escombros e ajudar as pessoas a recuperar os seus bens e fugir para um lugar mais seguro.

“Os bombardeios ainda estão em curso, o barulho é muito forte”, afirma Ahmed.

Os rebeldes usam “artilharia pesada e todos os tipos de armas de fogo”, em uma ofensiva que “visa reduzir a pressão” na frente de batalha de Castello, indicou Mahmoud Abu Malak, porta-voz de um grupo rebelde em Aleppo.

Um dia antes, um contra-ataque dos insurgentes para empurrar as forças do regime da estrada de Castelo falhou. Pelo menos 29 combatentes do grupo rebelde islamita Faylaq al-Cham e de seu aliado da Frente Al-Nusra (facção síria da Al-Qaeda) foram mortos.

Estes confrontos ocorrem apesar da trégua declarada pelo regime de Bashar al-Assad, por ocasião da festa muçulmana do Fitr e renovada no sábado por 72 horas.

Mas, na realidade, o regime continua sua ofensiva para cercar Aleppo e seus bombardeios em áreas rebeldes de outras partes do país.

‘Poucos legumes’

As forças pró-regime estão a menos de 500 metros da estrada Castello, ao norte de Aleppo, e são capazes de disparar em qualquer pessoa ou veículo que circule por ali.

O regime tenta avançar para cercar totalmente os bairros rebeldes, onde vivem cerca de 200.000 pessoas.

O boloqueio da estrada já se faz sentir, e os produtos de primeira necessidade estão cada vez mais raros.

“Há muito poucos legumes hoje, porque a estrada Castello está cortado”, suspira Abu Mohamed, um vendedor.

“Se não tivéssemos plantado berinjela e abobrinha não teríamos qualquer legume”, disse ele, apontando o estoque insuficiente de mercadorias.

O combustível também está se tornando difícil de encontrar.

A ONU diz que cerca de 600.000 pessoas estão vivendo em áreas sitiadas na Síria, na maioria dos casos por parte do regime, sem acesso a alimentos ou ajuda médica.

Em outras partes da Síria, 17 civis foram mortos em ataques aéreos, incluindo 14 na cidade de Tarmanine, na província de Idleb (noroeste), informou o OSDH, incapaz de dizer se foram realizados pelo regime ou pela aviação russa.

E um jornalista da cadeia de televisão Al Jazeera morreu nesta segunda-feira em um bombardeio da aviação russa no noroeste da Síria, informou a imprensa do Catar.

Ibrahim al Omar, um colaborador de Al Jazeera Mubashar, morreu “em ataques aéreos russos em Tarmanin”, uma localidade da província de Idleb, anunciou a cadeia, sem fornecer maiores detalhes.

Desde o início do conflito, em 2011, sete empregados da Al Jazeera perderam a vida na Síria.