Os rebeldes hutus ruandeses negaram qualquer responsabilidade e acusaram nesta terça-feira (23) os exércitos da República Democrática do Congo (RDC) e de Ruanda pelo ataque que matou o embaixador da Itália em uma região considerada perigosa da RDC.

As autoridades congolesas acusaram na segunda-feira os rebeldes das Forças Democráticas de Libertação de Ruanda (FDLR) pelos assassinatos do embaixador Luca Attanasio, seu segurança italiano Vittorio Iacovacci e do motorista congolês do Programa Mundial de Alimentos (PMA) Mustapha Milambo, em um ataque que o presidente da RDC Félix Tshisekedi chamou de “terrorista”.

Mas os rebeldes rejeitaram as acusações nesta terça em comunicado.

“O comboio do embaixador foi atacado em uma zona denominada ‘três antenas’, perto de Goma, na fronteira com Ruanda, perto de uma posição das FARDC (Forças Armadas da RDC) e de militares ruandeses das Forças de Defesa de Ruanda”, afirma o comunicado das FDLR.

“A responsabilidade por este assassinato vil deve ser procurada nas fileiras dos dois exércitos e de seus patrocinadores, que formaram uma aliança não natural para perpetuar o saque do leste da RDC”, acusam as FDLR.

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

Por isso, os rebeldes hutus ruandeses “exigem” que as autoridades congolesas e a MONUSCO (a missão da ONU na RDC) esclareçam as responsabilidades do assassinato, “ao invés de recorrer a acusações precipitadas”.

As FDLR foram criadas no início dos anos 2000 por rebeldes hutus ruandeses, alguns dos quais participaram do genocídio dos tutsis de abril a julho de 1994 na vizinha Ruanda, antes de se refugiarem no leste da RDC.

As autoridades congolesas e ruandesas não comunicaram a presença de soldados ruandeses no território da RDC.

Um especialista do Kivu Security Tracker (KST), um grupo de monitoramento de segurança com sede nos EUA, disse à AFP que o grupo rebelde hutu era uma presença conhecida ali.

“As FDLR estão perto do local onde ocorreu o ataque. É possível que os rebeldes ruandeses sejam os responsáveis”, afirmou o perito, que não quis revelar a sua identidade.

O ataque ao comboio do embaixador Attanasio ocorreu na Rodovia Nacional 2, que faz fronteira com Ruanda, em uma área densa e montanhosa.

Esta região abriga o Parque Nacional de Virunga, onde pelo menos 200 guardas florestais foram vítimas nos últimos anos de emboscadas por grupos armados.

“Esta estrada estava autorizada sem escolta, mas com a obrigação de um comboio de pelo menos dois veículos”, disse nesta terça-feira à AFP um funcionário humanitário da ONU na RDC, que pediu anonimato.

O comboio foi emboscado a três quilômetros de seu destino por seis desconhecidos, armados com cinco armas do tipo AK-47 e um facão, segundo a presidência congolesa.

“Eles dispararam para o alto e obrigaram os ocupantes dos veículos a sair e a segui-los até o parque (de Virunga), depois de abaterem um dos motoristas, para gerar pânico”, acrescentou a presidência.


Alertados, guardas florestais e soldados congoleses presentes nas redondezas começaram a perseguir os agressores. “A 500 metros (do local do ataque) os sequestradores atiraram à queima-roupa contra o guarda-costas, que morreu no local, e contra o embaixador, ferindo-o no abdômen”, segundo a mesma fonte.

Luca Attanasio “morreu devido aos ferimentos” depois de ser transferido para um hospital de Goma, disse à AFP uma fonte diplomática em Kinshasa.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias