A alavancada do prefeito Ricardo Nunes (MDB) na corrida eleitoral em São Paulo mostrou que o rádio e TV ainda têm sua importância na campanha eleitoral, mesmo com as redes sociais se colocando como o principal meio de comunicação dos candidatos. Com maior tempo de propaganda eleitoral e investindo em inserções com recados claros aos eleitores adversários, o emedebista conquistou públicos importantes e derreteu parte dos votos de Pablo Marçal (PRTB).

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De acordo com a pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira, 12, Nunes assumiu a liderança da disputa pela prefeitura, com 27% das intenções de voto. Na pesquisa da semana passada, o prefeito estava em terceiro na corrida, com 21%, empatado com Marçal.

A recuperação rápida de Ricardo Nunes pode ser explicada pelo fenômeno da propaganda eleitoral de rádio e TV. O emedebista tem mais da metade do tempo para apresentar suas propostas, cerca de 6 minutos e 30 segundos. Seu principal adversário na disputa, Guilherme Boulos (PSOL), tem apenas 2 minutos e meio. Marçal nem tempo de rádio e TV tem.

Além da propaganda, Nunes conta com o maior número de inserções nos veículos de comunicação. Especialistas ouvidos pelo site IstoÉ afirmam que esses “spots” — jargão publicitário para propagandas de rádio — foram os acertos da campanha do MDB.

Enquanto na propaganda obrigatória Nunes aproveita para se apresentar e tentar alavancar os feitos de sua gestão, nas inserções o prefeito ataca os adversários. O principal alvo é Pablo Marçal.

Em uma das peças, Ricardo Nunes pede para os eleitores pesquisarem na internet informações sobre investigações contra Marçal. O vídeo acabou sendo veiculado diversas vezes, tanto no rádio quanto na TV.

“O início da propaganda de TV foi o fator determinante para essa subida do Nunes. Ele tem o maior tempo, uma grande exposição. Ele consegue atingir todas as camadas de eleitores”, afirma o cientista político Antônio Lavareda.

A mesma opinião compartilha o cientista político Antônio Carlos Almeida, que vê os ataques de Nunes como forma de desidratar a campanha de Pablo Marçal. Na avaliação dele, Nunes e Boulos ainda podem subir nas pesquisas com a continuação da propaganda eleitoral até o começo do próximo mês.

“Penso que podem, mas não por causa do voto útil e sim devido à efetividade de seus programas de TV e rádio”, afirma.

7 de setembro

Lavareda ainda avalia o impedimento de Marçal nos atos bolsonaristas de 7 de setembro na Avenida Paulista como outro ponto de alavancada para Nunes. Para o especialista, a ação deixou uma margem para que Ricardo Nunes conseguisse atrelar sua imagem à do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Bolsonaro apoia oficialmente Nunes, mas não mergulhou na campanha do emedebista. Durante as negociações para a aliança, o prefeito deixou o ex-presidente em “banho-maria”, que retrucou ao dar sinalizações ambíguas ao emedebista.

Nos últimos dias, Jair Bolsonaro tem se colocado mais ao lado do prefeito, principalmente após as cobranças do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). A tendência é que o ex-presidente comece a gravar peças eleitorais para Nunes na próxima semana.

“A atrelagem da imagem do Bolsonaro a de Nunes pode favorecer o prefeito. Essa ação pode aumentar sua margem de votos entre os apoiadores do Bolsonaro”, afirma Lavareda. Atualmente, os votos dos apoiadores do ex-presidente se dividem entre Ricardo Nunes e Pablo Marçal.

Outro fator que pode favorecer o emedebista é o voto útil. Antônio Lavareda ressaltou que Nunes e Boulos tendem a ter uma margem maior nas próximas pesquisas, com a tendência dos eleitores votarem naquele que pode vencer o adversário. Com isso, as chances de desidrato das campanhas de Marçal, Tabata Amaral (PSB) e José Luiz Datena (PSDB) aumentam.