No reino das fábulas e contos de fadas, princesas em apuros costumam ser salvas por príncipes encantados. Na Inglaterra de 2017, é a atriz americana Meghan Markle, 36 anos, quem surge para salvar a realeza, ameaçada de perder todo seu encanto junto aos súditos por manter-se presa a tradições do passado.

Plebeia, divorciada, feminista e filha de mãe negra, Meghan se casará com o príncipe Harry no ano que vem. O anúncio do noivado foi feito na semana passada pela família real. Era tudo que a monarquia precisava para provar que pode se adaptar aos novos tempos. Nascida em Los Angeles, a atriz será a primeira americana oficialmente casada com um príncipe britânico, naquele que será também o primeiro matrimônio inter-racial da Coroa. Décadas atrás, algo assim seria não apenas um escândalo como inconcebível.

O Rei Eduardo VIII teve de renunciar ao trono, em 1936, para poder se casar com a socialite americana Wallis Simpson, divorciada duas vezes. Em 1955, Margaret, irmã da rainha Elizabeth II, se apaixonou por um capitão da Força Aérea, também divorciado. Por não aguentar a pressão da Igreja Anglicana e da família real, acabou desistindo do matrimônio. Depois, ela se casou com o fotógrafo Antony Armstrong-Jones, com quem ficaria por 18 anos até pedir o primeiro divórcio real em quatro séculos – antes dela, apenas o rei Henrique VIII havia se divorciado, em 1540.

O casamento de membros da realeza com divorciados parecia um tabu insuperável. No entanto, foi o pai de Harry, o príncipe Charles, que abriu caminho para que a união entre os recentes noivos fosse aceita. Charles se divorciou de Diana em 1996, um ano antes da morte da princesa, e se casou com Camilla Parker Bowles, seu grande amor, em 2005. Elizabeth II, após anos não reconhecendo o relacionamento do filho, autorizou o casamento dos dois.

Meghan foi casada com ator e produtor Trevor Engelson por dois anos. Se o fato de a rainha ter aceitado o divórcio da nova princesa já foi inusitado, a descendência de Meghan gerou uma reação claramente preconceituosa da sociedade britânica. Mestiça, como ela própria se define, a atriz é conhecida por defender suas raízes africanas e foi alvo de vários comentários racistas quando assumiu o namoro com o príncipe. O Palácio de Buckingham foi obrigado a emitir um comunicado para defendê-la.

A defesa de Meghan foi bem recebida: “Todo governo fez alguma tentativa, pelo menos retórica, de reconhecer e proteger a diversidade racial. A família real, no ápice da nossa sociedade, fazia tudo, menos isso. O que fazia com que muitas pessoas acreditassem que ser verdadeiramente britânico e negro eram identidades incompatíveis”, disse a escritora e apresentadora de TV negra Afua Hirsch. O fato de o príncipe Harry ter poucas chances de algum dia assumir o trono pode ter facilitado as coisas. Harry é apenas o quinto na fila sucessória, atrás do pai, que tem 67 anos, do irmão Willian e os filhos dele: George, Charlotte e o terceiro, que chegará no ano que vem.

Pedras de Diana

Harry e Meghan Markle se conheceram em um encontro às cegas promovido por uma amiga em comum. O casal, porém, levou algum tempo para assumir o namoro. Nos últimos meses, Harry resolveu acelerar as coisas e, com o apoio do irmão e da avó rainha, decidiu pelo noivado. Segundo a atriz, o pedido foi feito em uma noite de domingo, quando os dois assavam um frango. O anel de noivado dado à atriz foi desenhado pelo príncipe e confeccionado pelos joalheiros da Coroa. Ao lado da pedra principal há outras menores que faziam parte da coleção de Diana. Harry, inclusive, disse que a noiva e a mãe seriam grandes amigas, caso se conhecessem. Assim como Diana, Meghan também é ativista de causas humanitárias.

O casamento deve ocorrer em maio de 2018, na capela Saint George, do castelo de Windsor, residência oficial da rainha Elizabeth e do príncipe Phillip. O motivo da data – marcada meio que às pressas para o padrão real – e do local é a idade avançada do avô de Harry, que está com 96 anos
Para assumir seu papel na família real, a atriz deve abdicar da carreira para poder se dedicar integralmente às atividades da monarquia. Ela também terá que entrar com um processo pra conseguir a cidadania britânica e é possível que ela renuncie a cidadania americana. Além disso, será batizada na Igreja Anglicana, conforme a tradição da realeza.

O reino em troca da amada

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Eduardo VIII, tio-avô de Harry, causou uma crise constitucional ao insistir casar com Wallis Simpson, uma socialite norte-americana que já havia sido divorciada duas vezes. Por amor, abdicou ao trono: “Vocês precisam acreditar quando lhes digo que consideraria impossível executar minhas pesadas responsabilidades e cumprir meus deveres como rei da forma que eu desejaria sem a ajuda e o apoio da mulher que amo”, disse Ele foi morar na França. O pai de Elizabeth II, George XI, assumiu o trono.

Quem é Meghan Markle?

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  • Nasceu em Los Angeles, EUA, em 4 de agosto de 1981
  • Formada em comunicação pela universidade americana de Northwestern, em Illinois
  • Ficou famosa ao interpretar a advogada Rachel Zane no seriado canadense “Suits”
  • É divorciada
  • Embaixadora global da organização de caridade World Vision Canadá
  • Viajou a Ruanda para uma campanha por água limpa
  • Fundou e foi editora-chefe do site “The Tig”, dedicado a assuntos femininos
  • Se uniu às Nações Unidas em prol da igualdade de gênero e do empoderamento feminino
  • Filha de mãe negra, sofreu com ataques racistas quando assumiu o namoro com o príncipe Harry