Reação armada de Roberto Jefferson à PF é dog whistle para extremistas

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A reação de Roberto Jefferson à Polícia Federal, com fuzil e granada, é um dog whistle para radicais às vésperas das eleições. No espetáculo armado, o presidente afastado do PTB tentou vestir um manto de “herói” ao enfrentar uma ordem de Alexandre de Moraes, e seus asseclas, comandados pela filha, Cristiane Brasil, assumiram o papel de incitar que extremistas fizessem o mesmo ao alegarem que “ordem ilegal não se cumpre”. Trata-se de uma inversão de valores. Roberto Jefferson não é um mártir, mas um criminoso contumaz.

O ex-deputado, que cumpria prisão domiciliar, não voltou para a cadeia por “emitir uma opinião pessoal”, como tenta vender. Jefferson retornou à prisão por descumprir medidas cautelares, ameaçar e ofender a honra de ministros e agir de forma reiterada para tumultuar o processo eleitoral. A PF informou ao Supremo, inclusive, ter identificado indícios de que ele planejava uma cartada final para após o período em que a lei eleitoral veda prisões e de que mantinha um arsenal de armas de forma irregular, segundo noticiou o jornal Folha de S.Paulo.

Mas, ignorando os fatos, bolsonaristas compraram a versão de Jefferson e têm ajudado a disseminá-la. Aliado e conselheiro do presidente da República, o pastor Silas Malafaia, por exemplo, usou as redes para disseminar entre seus milhares de seguidores o entendimento de que o país vive uma “ditadura da toga”. “É inadmissível um ministro (Alexandre de Moraes) usar o poder da sua caneta para rasgar a Constituição”, disparou. De olho nos possíveis desgastes à sua campanha, o capitão disse rapidamente repudiar a ação armada do aliado contra agentes da PF. No entanto, alfinetou Moraes ao argumentar que, em sua percepção, o inquérito que investiga o ex-deputado é inconstitucional.

O resultado da ofensiva é previsível: ampliará entre extremistas a percepção de que o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral valem-se do ativismo judicial para prejudicar Bolsonaro e seus aliados e para criminalizar opiniões. É uma munição clara para abastecer a tese conspiratória de que, se o atual presidente for derrotado por Lula, o Brasil caminha para um regime de exceção, quando a situação é completamente oposta.

Ficam validadas, assim, quaisquer reações, como a de Jefferson, para “resistir ao sistema”. Graças a Bolsonaro, os radicais têm como fazê-lo. É que, ao longo do governo do capitão, a quantidade de cidadãos com certificado de registros de armas de fogo no Brasil cresceu 474%, segundo o anuário de Segurança. Antes do atual presidente, em 2018, o país listava 117,5 mil pessoas com registro de CAC. Agora, são mais de 673,6 mil.

Minutos após a ação de Jefferson, Lula atribuiu o clima de tensão e ódio no país a Bolsonaro. Lembrou que, embora tenha disputado diversas eleições, jamais viu episódios similares. “Ele conseguiu criar nesse país uma parcela da sociedade brasileira raivosa, com ódio, mentirosa e que espalha fake news o dia inteiro sem se importar se o filho dele está vendo mentira ou não”. Foi certeiro. O caminho para a barbárie está pavimentado — e normalizado.