Estudo publicado nesta sexta-feira, 11, em uma das mais respeitadas revistas da área médica do mundo mostra que a abertura de escolas não contribuiu para agravar a situação da pandemia em países em desenvolvimento, como o Brasil. O trabalho foi feito por pesquisadores brasileiros no exterior e analisou números de casos e mortes por covid-19 em 643 municípios de São Paulo, no fim de 2020.

O que mais impactou foi a mobilidade das pessoas, independentemente de a escola estar funcionando ou não, diz o artigo publicado no Jama Health Forum, da Associação Americana de Medicina. Diante da alta no número de infectados no País atualmente, algumas prefeituras e Estados já adiaram a volta às aulas presenciais, mas mantêm abertos todos os outros setores.

“Os aspectos continuam válidos para o cenário atual, porque continua sendo covid, por mais que as variantes mudem o potencial de transmissão, continuamos falando da mesma doença, da mesma pandemia”, diz um dos autores do estudo, o pesquisador do Centro de Desenvolvimento e Bem Estar de Crianças da Universidade de Zurique, especialista em saúde pública e epidemiologia, Onicio Leal Neto.

Agora, entram nessa conta também a vacinação completa dos professores e pais e a das crianças, iniciada em janeiro. “Não estamos falando que é para abrir escola de qualquer forma. Mas, considerando os protocolos, elas não têm papel crucial no aumento da covid”, completa.

É a primeira pesquisa que aborda a reabertura da educação na pandemia em um país em desenvolvimento. Foram analisadas 129 cidades que abriram as escolas e 514 que não o fizeram entre outubro e dezembro de 2020. Dois municípios do Estado foram desconsiderados porque abriram e depois fecharam novamente. No total, são cerca de 18 mil escolas analisadas.

Entre os exemplos há a cidade de Dracena, no oeste do Estado, que tem 46 mil habitantes, 26 escolas e renda per capita de R$ 856. Lá foi autorizada a abertura das escolas em 2020. Já José Bonifácio, no noroeste paulista, com população de 40 mil, 21 escolas e renda per capita de R$ 857, manteve as escolas fechadas. A primeira registrou 448 casos e 7 mortes nas 12 semanas seguintes à abertura. A segunda registrou 482 casos e 9 mortes, no mesmo período.

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“A gente olhou para os municípios mais vulneráveis e as conclusões são idênticas. Quando está todo mundo circulando normalmente, fechar as escolas não muda nada”, diz o outro autor do estudo, o professor da Universidade de Zurich Guilherme Lichand.

A metodologia foi a de comparar as cidades antes e depois da abertura e também as que abriram com as que não abriram. Isso porque, se fossem analisados apenas os municípios que voltaram às aulas presenciais, poderia haver a falsa impressão de que os casos e mortes aumentaram por causa da abertura, já que eles continuaram subindo.

Mas ao comparar com as que mantiveram os alunos em casa, os pesquisadores notaram que o número de casos e mortes continuava crescendo também nesses municípios – e no mesmo ritmo dos que abriram as escolas.

O estudo também mediu a mobilidade das pessoas e notou que ela já estava voltando aos padrões de antes da pandemia em todas as cidades. Resultados preliminares tinham sido divulgados em 2021, mas a publicação agora numa revista científica traz ainda mais credibilidade ao trabalho.

Os pesquisadores dizem na conclusão da pesquisa que, “com as evidências dos altos custos educacionais por causa das escolas fechadas em países em todos os níveis de renda, as nações em desenvolvimento deveriam focar em como manter as escolas abertas e seguras em vez de discutir se devem ou não abri-las”.

São Paulo foi o primeiro Estado a abrir as escolas durante a pandemia em outubro de 2020, com muita resistência de sindicatos de professores e uma parte das famílias. Atualmente está com escolas públicas e particulares funcionando para todos, presencialmente.

Já a Paraíba, por exemplo, vai começar o ano letivo de 2022 de forma híbrida por causa da Ômicron. O Acre marcou a volta presencial para 4 de abril porque ainda não terminou o ano letivo de 2021. Pará, Mato Grosso do Sul, Amapá e Piauí, para março. O restante recebeu os alunos presencialmente este mês ou até em janeiro (Ceará e Goiás). Os dados são de um levantamento do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed) desta semana.

Estudos internacionais e nacionais têm mostrado o déficit de aprendizagem das crianças com escolas fechadas durante a pandemia e estimado o retrocesso em décadas. Nesta semana, uma nota técnica do Todos pela Educação concluiu que aumentou em 66,3% o número de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever no Brasil, passando de 1,43 milhão em 2019 para 2,39 milhões em 2021. A alfabetização na idade certa é crucial para toda a trajetória escolar de um estudante.

Para o secretário estadual de educação de São Paulo, Rossieli Soares, o estudo é fundamental para o que hoje está se tornando um consenso entre educadores. “As escolas são ambientes seguros e nada pode causar um dano maior do que manter os estudantes longe delas”, afirma.


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