PAUL KLEE – EQUILÍBRIO INSTÁVEL/ Centro Cultural Banco do Brasil/ São Paulo – até 29/4/ Rio – de 15/5 a 12/8/ Belo Horizonte – de 28/8 a 18/1/2020

INDEPENDENTE Paul Klee não se uniu a movimentos (Crédito: Culture Club/Getty Images)

Dos grandes artistas, costuma-se dizer que inventam estilo próprio, estando eles mais ou menos envolvidos ou influenciados por movimentos artísticos de seu tempo. De Paul Klee (1879-1940) afirma-se ter produzido seus mais importantes trabalhos na década de 1920, quando lecionou na Escola Bauhaus, mas que sempre permaneceu “independente”. Essa é precisamente a tese de “Equilíbrio Instável”, a maior mostra de Paul Klee já apresentada no Brasil ou mesmo na América do Sul. Com 123 trabalhos do acervo do Zentrum Paul Klee, de Berna, na Suiça, a mostra divaga sobre a independência de estilo de Klee.

Na primeira parte, como toda retrospectiva, traz estudos feitos pelo jovem artista e desenhos acadêmicos, estudos da anatomia. Avança por desenhos de seres fictícios, retratos, até chegar aos desenhos que revelam como o interesse de Klee migra da figura para a geometria; como decide desviar o olhar do mundo “para o interior do objeto” e como seu caminho para a abstração é pavimentado pelas formas elementares do triângulo, do círculo e do quadrado.

O vínculo mais explícito estabelecido por Klee com um movimento artístico talvez tenha sido com o construtivismo, movimento estético-político iniciado na Rússia em 1919, mesmo ano de criação da Bauhaus, na Alemanha, com o projeto de aproximar engenheiros, arquitetos, pintores, artesãos, designers e artistas em torno da produção em escala industrial e do ideal comunitário de levar a arte moderna a todos os níveis sociais.

SURREAL “Um rosto também do corpo”, 1937

A pesquisa com a abstração geométrica é a fase mais difundida e estudada de Klee — e está muito bem representada na mostra. Mas, diante de trabalhos como a série de águas-fortes “Invenções” (1903-1905), indaga-se por que nunca foi explorado pela crítica um eventual flerte de Klee com o surrealismo. É fato que as “invenções” do começo do século são anteriores à fundação do movimento surrealista pelo escritor André Breton, em 1924. Mas seus anjos (1920-1940) e outras figuras humanas, imaginárias e sobre-humanas parecem falar o mesmo idioma das figuras mágicas do espanhol Miró. Caso do desenho “Um rosto também do corpo” (1939), em que a forma de um rosto se confunde a de um corpo feminino.

ANGELICAL “Fronteira”, de 1938

A ascensão do nazismo na Alemanha, a partir de 1933, causará o fechamento da Escola Bauhaus e mais uma transformação na obra de Klee. Ele virá a comentar a atmosfera violenta e ameaçadora da “revolução nacional-socialista” de Hitler em uma série de desenhos figurativos com traços marcadamente energéticos. Uma exposição de arte moderna como a de Paul Klee pode ser uma aula de história do pensamento no século XX.

Roteiros

Schnabel pinta van Gogh

NO PORTAL DA ETERNIDADE/ Direção Julian Schnabel/ Com Willem Dafoe, Oscar Isaac, Emmanuelle Seigner. Em cartaz

Visitar os clássicos no Museu do Louvre foi estratégia dos pintores modernos em seu processo de aprendizado, para depois conquistar a liberdade de desconstruir cada lição tomada. Como um jovem aprendiz que vai ao Louvre, o veterano pintor e cineasta Julian Schnabel, de 66 anos, pinta, no longa-metragem “No Portal da Eternidade”, o retrato do mestre van Gogh.
O filme se passa em 1888, anos finais da curta e prolífica trajetória de Vincent van Gogh (1853-1890), quando o pintor holandês se muda para Arles, no Sul da França, em busca da luz ideal, e onde luta contra o avanço da loucura e da depressão. Interpretado por Willem Dafoe — prêmio de Melhor Ator no Festival de Veneza pelo papel, no ano passado —, o van Gogh de Schnabel não é protagonista de uma cinebiografia, mas de um filme sobre o processo criativo de um artista. Talvez dois.

Em entrevista à revista Variety, Schabel disse que pinta tão rápido quanto o mestre holandês, finalizando uma tela em questão de horas, e não dias. Também se considera um “pintor de exteriores”. Para além de sua eficiente narrativa, “No Portal da Eternidade” não deixa de ser também uma espécie de exposição em forma de filme. Muitas das telas são pintadas em cena pelo próprio Schnabel que, além de excelente pintor, foi muito inteligente em não disfarçar os traços de Dafoe nos autorretratos de van Gogh, ou da atriz Emmanuelle Seigner na pele de Madame Ginoux, proprietária do Café de la Gare, imortalizada na tela “L’Arlesienne” (1888).