No esporte – Rayssa Leal

Jhulia Rayssa Mendes Leal, 7 anos, se vestiu de fada azul, com asinhas, para o desfile do Dia da Independência, em 2015. E pediu à mãe, Lilian, que levasse os tênis porque sairia direto para uma disputa de rua, em Imperatriz, no Maranhão. Tinha ganho o skate do pai, Haroldo, quando fez 6 anos, no 4 de janeiro de 2014. Mas foi com o vídeo daquele 7 de setembro postado pela mãe, Lilian, que o mundo conheceu a “fadinha azul” e seu heel flip sobre degraus de uma calçada. Repassado pelo lendário Tony Hawk, o “Toninho” para a garota, teve milhões de visualizações. E a carreira acelerada pela alegria levou a maranhense para a Olimpíada de Tóquio com apenas 13 anos. As imagens pela emoção da prata, junto com as adversárias, conquistaram mais 3,6 milhões de seguidores para seu Instagram, da noite para o dia. “Eu já estava na SLS, o que era um sonho. Mas Olimpíada é um salto para o atleta Para mim, foi muito especial e importante.”

Fenômeno do skate, Rayssa Leal passou como um furacão por 2022. À toda velocidade e mantendo o sorriso aberto de moleca, encerrou o ano como campeã da mais importante competição mundial do esporte, a Street League Skateboarding. E com apenas 14 anos. Uma conquista excepcional, porque da SLS participa apenas a elite do skate: são os 50 melhores do planeta, homens e mulheres. Mas a brasileira de Imperatriz, no Maranhão, fez mais. Encerrou o circuito invicta, vencendo as três etapas iniciais em Jacksonville, Seattle e Las Vegas, respectivamente em julho, agosto e outubro, para também ganhar a última, no Rio de Janeiro, em novembro, como a melhor entre as melhores: foi ouro na Supercrown — a final com apenas os oito de destaque do ano, no feminino e no masculino. Também ganhou status de skatista profissional nos EUA, ao assinar sua primeira pro-model de shape em parceria com a April, uma das oito patrocinadoras (a Nike, tem desde os 10 anos), com as asas de “Fadinha” pintadas sobre fundo azul. Por toda sua história, simpatia e alegria, acumula 6,5 milhões de seguidores no Instagram e outros 4,6 milhões no TikTok.

Rayssa arrasou, com seus 1,57 m e 48 kg, comprovando a ousadia nas manobras como “goofy” (seu pé de apoio, atrás do skate, é o esquerdo) e a consistência nos resultados.

“Foi mesmo um ano bem legal. No fim de 2021 escrevi que minha meta para 2022 era ganhar todas as etapas da SLS. E me esforcei muito para conseguir. Só não sabia que ainda ia ganhar a última, que é considerada o Mundial. E no Rio, com a torcida brasileira. Foi demais!”, afirma a garota. “Ah, ganhei meu primeiro X-Games. Então, foram dois momentos muito bons. Acho que cresci.” Essa “douradinha” dos X-Games, competição que estreava no Japão, veio em abril, quando Rayssa venceu o street em Chiba, diante de uma multidão atraída pela “olimpíada de esportes radicais”.

“Skate é isso: juntar a galera e ir para a rua andar. É dar seu melhor, mas também vibrar para todos acertarem as manobras. Ver o outro acertando é de arrepiar”

Prata olímpica no Japão, em julho Rayssa esteve em Roma, para o início da contagem de pontos do ranking que classificará os skatistas que irão a Paris, em 2024. Mesmo sem ter ido tão bem nesse pro-tour, pré-olímpico classificado como um “mundial” para a World Skate (organizadora do esporte internacional), a brasileira mostrou manobras arriscadas contra as japonesas, que dominaram a competição. A virada foi no Open Rio, em outubro (que perdeu o status de mundial e pré-olímpico por alegada falta de organização). Rayssa não deu chances a essas adversárias e brilhou novamente. Ficou com o ouro, elogiou o crescimento das rivais e agradeceu muito à “galerinha”. Por tudo isso, foi eleita a Brasileira do Ano no Esporte.

Entre estudos no colégio Cebama e a cata de acerolas com o irmão caçula Arthur no sítio da família em Davinópolis (onde pensa construir em centro esportivo com pista de skate, quadra e campinho de futebol, outra paixão da corintiana, herdada do pai Haroldo), segue brincando e treinando com os amigos na pista remodelada pela prefeitura de Imperatriz. Ali, a mãe Lilian “me ajuda muito nessa evolução, me mostra as opções de manobras que preciso jogar na hora do campeonato e aquelas que preciso ‘colocar no pé’, porque conhece meu skate”. Rayssa diz ainda que tem “o Felipe, meu irmão do coração que treina comigo há muito tempo e me dá dicas”. E conta que começou a trabalhar “com um fisioterapeuta dedicado, o Alisson, e uma psicóloga, a Gi”. É todo um time, diz, que a ajuda a evoluir e seguir com bons resultados.

Sobre 2023, Rayssa destaca que já estão confirmadas duas etapas classificatórias para os Jogos de Paris: em Sharjah, nos Emirados Árabes, em janeiro, e em Roma, em junho. “Vou focar na vaga olímpica, com certeza, e sempre me divertindo. A competição é individual, só que a origem do skate é coletiva. Skate é sobre isso: juntar a galera e ir para a rua andar. É dar seu melhor, mas também vibrar para todos acertarem as manobras. Para quem gosta de skate, vive do skate, ver o outro acertando é de arrepiar. E se a disputa fica difícil, é sinal de que a galera está melhorando e então fica mais legal ainda.”