Simone Blanes Fotos Paulo Vainer Edição de moda Luis Fiod / MINT Beleza Henrique Martins/ CAPA MGT Já dizia Jean-Paul Sartre: ?A beleza é uma contradição velada?. Embora seja um pensamento filosófico de conceito universal, a frase do escritor francês faz todo o sentido para a moda, que vive dessa incessante busca pelo belo, não apenas de forma evidente. Cada vez mais, a moda procura na beleza todos os recursos de criação, inclusive pelas contradições. Talvez isso explique o sucesso das mulheres ?camaleoas?. Aquelas que, diante de uma câmera, são capazes de encarnar qualquer papel. Qualquer um. Menos o que não seja algum tipo raro de beleza. Aline Weber, a catarinense de 25 anos, há sete morando em Nova York, está no topo dessa lista. A cada troca de visual, ela se adapta a qualquer roteiro, cria novas facetas, personagens e, se for preciso, recria até a si mesma. Aline pode ser sexy de dia e cool à noite, ou vice e versa. Não à toa, muitos a comparam em estilo a Brigitte Bardot. Aline na moda e Bardot no cinema? ?É engraçado isso. Mas, realmente, grande parte dos meus trabalhos vem com uma pegada cool ou segue essa linha de Bardot. Nunca assisti a um filme dela. Só vi fotos?, diz Aline, que não sabe ao certo explicar o porquê da ?semelhança?, já que Bardot era um símbolo sexual dos anos 50, título ao qual ela definitivamente não se enquadra. ?Com certeza é pela atitude e sensualidade despretensiosa de Aline. Ela tem star quality. E o mais incrível é que não precisamos criar uma história que se encaixe no perfil dela. Ela se encaixa em qualquer história. Como Bardot?, opina o stylist Luis Fiod. E se Aline se encaixa em qualquer papel, outras vão surgindo, no vídeo, nas telas. Foi assim quando Lenny Kravitz a recrutou para atuar em um videoclipe seu. Mas a top declinou. ?Vi as referências e teria que estar nua e amarrada, meio sadomasoquista. Não tem nada a ver comigo, por isso não aceitei.? Não que a nudez precise ser castigada. ?Quando fiz o vídeo da ?25 Magazine?, por exemplo, confesso que os primeiros minutos foram bem estranhos. Mas estava sozinha e era algo mais artístico, então tudo bem?, conta. ?Se for para estar nua e interagir com outra pessoa, nessa linha ?50 tons de cinza?, não rola. Não me sentiria confortável?, encerra o assunto. Mas o cinema não está fora de seus planos. Até porque a estreia já aconteceu. Para quem não sabe, ela esteve em Direito de Amar (2009), do estilista Tom Ford, em sua primeira experiência como diretor de cinema. ?Mas ali não tive que falar nem decorar texto?, ri. Aline também participou, na mesma época, de um curta-metragem dirigido pelo rapper Kanye West, em que contracenou com uma cobra. ?Era um filhote. Ela dormiu em mim como um bebê. Fiquei impressionada.? Nada que assuste mesmo quem não tem receio de trocar de pele: ?Não tenho medo de tentar coisas novas, mas ainda tenho muito tempo como modelo?. E o que ainda falta acontecer na carreira de uma top internacional de sucesso, que já foi estrela de grifes poderosas, como Balenciaga, D&G e Yves Saint Laurent? ?Nunca desfilei para a Victoria?s Secret. Já fiz dois castings, mas não rolou. E por que esse fascínio de ser Angel? ?É uma experiência diferente. Com música, cantores, interação com o público. Talvez aconteça, já que a marca está mudando, se modernizando. Antes só se viam aquelas meninas perfeitas e saradas. Hoje em dia, já tem aquelas modelos bonitas estranhas.? De bem com a vida Quando não está em passarelas e shootings, Aline, segundo Aline, é apenas uma garota normal, de 25 anos. A diferença é o patrimônio acumulado, fruto de anos de trabalho, que permite que ela faça planos de voltar ao Brasil e viver a maturidade do jeito que sonhou. De preferência, na confortável casa comprada em Florianópolis. ?Não me vejo com 40 anos nos Estados Unidos. Me vejo aqui, casada, com três filhos, dez cachorros e morando na praia?, sorri. A vontade de voltar a viver no Brasil tem tudo a ver com o que sente falta, além das areias de Santa Catarina. ?O calor humano do brasileiro não tem igual. As pessoas são mais de bem com a vida. Lá são mais focadas, frias e, definitivamente, não vejo meus filhos com essa coisa de americano.? Voltar às origens não significa, porém, interromper a carreira. ?Não vivo sem trabalho. Vou ficar na ponte-aérea. Até porque me acostumei a morar em cidade grande.? A pequena Seara, no Estado de Santa Catarina, onde ainda mora a família, portanto, está fora de seus planos. ?Meus pais nunca foram me visitar em Nova York. Preferem assim e eu respeito.? De Seara, além da saudade da família, ela trouxe a memória dos tempos em que foi caixa de um mercadinho que o pai tinha na cidade. As visitas ao lugar onde passou a infância são raras, mas, mesmo de longe, ela apoia a ONG Amais, para animais abandonados. Aline é madrinha e ferrenha defensora da causa. ?Sou daquelas que levavam gatos e cachorros para casa na infância. Minha mãe era assim também e tudo que eu puder fazer para apoiar trabalhos desse tipo, vou fazer?, relata a loira, que adotou um cachorro chamado Rockie, pelo site Pet finder, nos Estados Unidos. ?É como meu filho?, sorri. Se, por acaso, virar Angel da Victoria?s Secret for o céu para a menina de Seara, o limite não está muito longe. ?Não imaginava chegar aonde cheguei. Sabia que, se me esforçasse muito, poderia trabalhar bem, mas não que teria esse sucesso, uma vida em NY, estar no ranking das models, ter dinheiro para ajudar minha família e comprar minha casa. Nada disso.? Se a beleza aceita contradições, porque Deus não haveria de conceder essa graça a um anjo capaz de voar sem asas?