Quando “Power” estreou na televisão americana, em 2014, não havia “Empire” nem “Atlanta”, muito menos “Pose”, “Lovecraft Country” ou “P-Valley”. Era raridade um drama com um elenco majoritariamente negro. Ainda mais um que pretendia ser uma espécie de “Família Soprano” com afro-americanos, por falar do crime organizado, sem abdicar de uma certa dose de melodrama. Foram seis temporadas de sucesso. Mas, para o produtor-executivo 50 Cent, o fim chegou cedo demais. E então, junto com a showrunner Courtney A. Kemp, ele resolveu lançar um spin-off. “Power Book II: Ghost”, que está no ar no Starzplay, com episódios novos todos os domingos, retoma o drama momentos após o fim de “Power”, quando o chefe da família criminosa Ghost (Omari Hardwick) foi assassinado pelo próprio filho, Tariq St. Patrick (Michael Rainey Jr.). “É como se fosse uma sétima temporada de ‘Power’”, contou o rapper e produtor 50 Cent em entrevista ao Estadão. “Eu achei que todo o mundo que viu a temporada passada ia querer saber o que aconteceu.”

Ghost está no título apenas como fantasma que assombra Tariq e sua mãe, Tasha (Naturi Naughton), que, para proteger o filho, levou a culpa em seu lugar. “Tasha faz o que toda mãe faria”, disse a atriz Naturi Naughton. “Ser mãe é se sacrificar. Isso começa já na gravidez, quando você precisa carregar seu bebê e sacrifica sua vida, seu corpo, sua agenda. Eu consigo entendê-la.” Ficaram no passado os figurinos luxuosos de Tom Ford e Alexander McQueen, que deram lugar ao macacão laranja de presidiária. O jovem Tariq, por sua vez, tenta libertar a mãe e manter sua vida na universidade. Sem o diploma, ele não pode acessar sua herança. A necessidade de pagar pelo advogado Davis Maclean (Method Man) faz com que siga os passos do pai, traficando drogas e tendo de lidar com a poderosa família Tejada, liderada por Monet (Mary J. Blige). “Ele tem essas duas personalidades diferentes, na escola é educado, quieto, obediente, e nos negócios precisa ser duro. Ele meio se transforma em Ghost, apesar de ter sua própria personalidade e fazer o que quer”, disse Rainey Jr. “E ainda está lidando com o trauma de ter matado o próprio pai.”

O ator não acreditou quando 50 Cent falou que ele seria o protagonista de sua própria série. Achou que era brincadeira do rapper falastrão. “Semanas depois, a Courtney A. Kemp veio conversar comigo. Eu fiquei passado. Foi um dos momentos mais loucos da minha vida”, disse. Mais ainda quando soube que ia contracenar com Mary J. Blige. “Minha mãe cantava suas músicas direto quando eu era pequeno”, contou o ator. “E mesmo trabalhar com Method Man é doido, porque meu pai cresceu no mesmo bairro que ele. Somos representantes de Staten Island com orgulho.”

Para os envolvidos na série, estar num projeto que escancarou as portas de Hollywood para que outros viessem atrás é motivo de orgulho. “Eu espero que mais e mais criadores contratem mulheres negras e pessoas de grupos diversos para contar nossas histórias”, disse Naughton. “Nosso sucesso prova que é possível.” Até 50 Cent, que acusou no passado “Empire” de ser uma cópia de “Power”, acabou entendendo que, na verdade, quanto mais, melhor. “É muito bom ser pioneiro”, disse o rapper. “E se há outros vindo na esteira, é sinal de que nossa série era bacana e atraiu audiência.”

Colocar na tela da televisão uma família envolvida no crime organizado que não se chama Soprano ou Corleone foi uma vitória. “Porque, quando você fala de máfia, sempre pensa em ítalo-americanos, nunca em afro-americanos. Mas isso não é real. Foi só o que se apresentou ao público, porque era o que Hollywood se sentia confortável em fazer. E nós podemos criar esse espelho com personagens afro-americanos que cometem erros, são cheios de defeitos, tomam decisões baseados na gratificação imediata. É legal demais.” Além de “Ghost”, cuja segunda temporada foi encomendada, estão previstos outros três spin-offs de “Power”, a estrear a partir de 2021. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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