Rali do dólar ante divisas emergentes se intensifica; Itália pesa no euro

O dólar apresentou forte avanço de forma generalizada diante de moedas de países emergentes à medida que a forte queda da lira turca se intensificou, o que deu aval à continuidade do rali da moeda americana. Em relação a outras moedas fortes, no entanto, os ganhos do dólar não foram tão fortes, embora o euro tenha apresentado ainda mais fraqueza diante de temores com a política italiana.

Próximo ao horário de fechamento das bolsas em Nova York, o dólar caía para 110,68 ienes, diante da busca por ativos considerados mais seguros, enquanto o euro cedia para US$ 1,1395 e a libra recuava para US$ 1,2755. Já o índice DXY, que mede a moeda americana contra uma cesta de outras seis divisas fortes, fechou em alta de 0,05%, para 96,391 pontos.

Os temores de que os problemas financeiros da Turquia e o recuo acentuado da lira se alastrem pelos mercados emergentes se fizeram presentes nesta segunda-feira, 13. África do Sul, China e Índia foram alguns dos países que viram acentuada desvalorização de suas moedas diante do “dólar muito forte” de Donald Trump. Os comentários do presidente dos Estados Unidos feitos na sexta-feira de que a lira turca estava “despencando rapidamente diante do nosso dólar muito forte” forneceram um bom resumo dos movimentos dos mercados hoje à medida que o rali da divisa americana ganhou ainda mais fôlego.

Na tarde de domingo, quando investidores neozelandeses deram início aos negócios da semana, a ordem majoritária era de que posições em lira deveriam ser desfeitas. O dólar saltou para 7,2169 logo depois, mas perdeu um pouco do ímpeto ao longo do dia, embora tenha se mantido ao redor da faixa psicológica de 7 liras.

“A moeda da Turquia caiu quase 20% em um único pregão e continua a rota de depreciação hoje. Embora a deterioração das relações com os EUA tenha sido um catalisador, em muitos aspectos trata-se de uma crise monetária convencional e que já vem ocorrendo há algum tempo, culminando com uma erosão da credibilidade da política”, disse o economista Michael Cahill, do Goldman Sachs. Diante das ordens do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, de não elevar os juros, o banco central do país prometeu dar “toda a liquidez necessária” para os mercados e elevou o limite de depósito de garantia das operações com lira dos bancos para 20 bilhões de euros, além de reduzir o compulsório bancário.

As medidas do banco central turco ajudaram a limitar o avanço do dólar. No entanto, a forte depreciação da divisa turca teve prosseguimento e, no fim da tarde, a moeda americana operava a 7,0090 liras, com alta de mais de 8%. “Continuamos a acompanhar de perto os desenvolvimentos do USDTRY, tendo em vista que os riscos de contágio continuam agudos nos mercados emergentes”, disseram analistas do banco canadense TD Securities em nota a clientes.

O alerta dado pelo TD foi visto nos mercados. Logo na madrugada, o dólar saltou para 15,4212 rands sul-africanos na máxima do dia, o equivalente a alta de cerca de 10%, e operava a 14,5289 rands no fim da tarde. Em relação à moeda da Índia, a moeda americana renovou máxima histórica, a 70,1788 rupias. Já diante da divisa da China, o dólar subia para 60,9089 yuans no mercado de Hong Kong (offshore), no maior nível em mais de um ano.

Nenhum dos países citados acima, contudo, tomou uma medida mais forte do que a Argentina, ao menos até o momento. Ao ver o derretimento do peso na sexta-feira e hoje, o banco central do país não se fez de rogado e elevou o juro básico de 40% para 45% ao ano, sendo a maior taxa do mundo. Logo após a ação do Banco Central da República da Argentina (BCRA), no entanto, o dólar apenas observou e continuou a operar acima dos 30 pesos. O movimento, contudo, perdeu força ao longo da tarde e, próximo ao horário de fechamento das bolsas em Nova York, a moeda americana saltava para 29,9501 pesos argentinos.

“Não esperamos que a subida dos juros na Argentina seja o começo de uma série de elevações nos bancos centrais de economias emergentes. A Argentina é um dos poucos mercados que compartilham vulnerabilidades semelhantes à Turquia. Além disso, a mudança radical do banco central argentino é encorajadora, dada a relutância da autoridade monetária turca em agir”, comentou, em nota a clientes, o economista Edward Glossop, da Capital Economics.

A visão otimista quanto a emergentes, de forma geral, da consultoria britânica destoa do cenário mais cabalístico traçado pelo Standard Chartered. Para o banco britânico, a crise turca “tem importância porque as preocupações se espalham além de suas fronteiras, para os mercados emergentes e desenvolvidos”. Entenda-se: Europa.

No Velho Continente, além da crise turca, a política italiana voltou a dar as caras, construindo um cenário ainda mais dinâmico para os mercados. Além do vice-primeiro-ministro do país, Paolo Salvini, ter ameaçado dar fim a uma reforma previdenciária implementada pelo governo anterior, o porta-voz econômico da Liga, Claudio Borghi, disse que ou o Banco Central Europeu (BCE) oferece uma garantia para limitar os spreads entre os rendimentos dos títulos dos países europeus ou o euro entrará em colapso.