Após sua vitória nas eleições legislativas, mas sem conquistar a maioria absoluta, o chefe de governo espanhol, o conservador Mariano Rajoy, reclama o direito a governar, mas os adversários socialistas não pretendem apoiar sua posse.

“Vamos ver se somos capazes de formar um governo em breve e começar a trabalhar”, afirmou Rajoy à emissora de rádio Cope.

Contra todas as previsões, e apesar dos muitos casos de corrupção que envolvem o Partido Popular (PP), Rajoy, 61 anos, conseguiu nestas segundas eleições legislativas espanholas em seis meses levar seu partido de 123 a 137 deputados em um Parlamento de 350 cadeiras.

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, felicitou Rajoy.

“Esperamos que agora seja possível formar um governo estável para que a Espanha possa continuar trabalhando com as instituições europeias”, afirmou em Bruxelas a porta-voz de Juncker, Margaritis Schinas.

Rajoy, no entanto, ficou longe da maioria absoluta. Os líderes dos demais partidos reconheceram a vitória do PP, mas o atual primeiro-ministro precisará do apoio de vários deles para tomar posse.

“Conversarei com todas as forças políticas, em primeiro lugar com o PSOE”, disse.

Apesar de ter perdido cinco cadeiras em relação a dezembro, no pior resultado de sua história recente, o socialista PSOE ficou em segundo lugar, com 85 deputados, evitando assim ser superado pela coalizão de esquerda radical Unidos Podemos, como apontavam as pesquisas.

Mas nesta segunda-feira os socialistas confirmaram a postura de não facilitar um governo conservador.

“Os votos do PSOE que recebemos ontem (domingo) são votos para mudar Rajoy, para mudar as políticas injustas, ineficazes, antissociais do PP”, afirmou o número dois do partido, César Luena, à rádio Cadena Ser.

“Não vamos apoiar Rajoy nem por ação nem por omissão”, completou.

Mas o porta-voz da bancada parlamentar socialista, Antonio Hernández, suavizou a postura do partido.

“Eu não vejo a possibilidade de uma grande coalizão, nem da abstenção, mas o PSOE tem que fazer sua reflexão”, declarou.

Sem pelo menos a abstenção socialista, o PP teria muita dificuldade para alcançar um acordo de governo, mesmo com o eventual apoio dos 32 deputados do partido de centro-direita Ciudadanos.

– Governo em breve –

A questão agora é, portanto, se Rajoy conseguirá apoio para tomar posse e quanto tempo pode demorar a negociação.

“Vai haver governo em breve, antes do fim do verão” (hemisfério norte), afirmou o sociólogo Narciso Michavila, presidente do instituto GAD3, de tendência conservadora.

“Não tenho tanta certeza de que a negociação será rápida”, rebateu José Pablo Ferrándiz, pesquisador do instituto Metroscopia, ligado aos socialistas.

O que não está mais em dúvida é a liderança de Rajoy, à direita, e do socialista Pedro Sánchez, à esquerda.

Sánchez voltou a ser um sobrevivente político e desarmou as críticas da poderosa e carismática presidente regional da Andaluzia, Susana Díaz, que viu a derrota dos socialistas em seu reduto histórico para o PP.

No que diz respeito a Rajoy, “hoje, de repente, vários meios de comunicação e jornalistas que passaram meses rindo dele descobriram que é um grande estrategista e que não vence por acaso”, disse o cientista político Antón Losada, professor da Universidade de Santiago de Compostela, que também elogiou a paciência do chefe de Governo.

Agora ninguém, nem sequer o líder do Ciudadanos, Albert Rivera, se atreve a pedir a cabeça de Rajoy em troca de apoio, como acontecia até sábado.

Na opinião de Losada, a política tradicional espanhola, representada por PP e PSOE, foi a principal beneficiada pela incerteza criada após a vitória do Brexit na quinta-feira no Reino Unido.

“Muitos eleitores optaram pelos antigos partidos, os partidos mais ancorados à ideia de Europa, os partidos que pareceram mais confiáveis, em detrimento dos emergentes Podemos e Ciudadanos, que entraram com força no Parlamento espanhol em dezembro”, explica.

Ferrándiz ressaltou a eficiente estratégia conservadora, que defendeu o melhor momento da economia com Rajoy e alertou para o risco de um retrocesso se a esquerda chegasse ao poder.

“Fizeram uma boa campanha utilizando o medo. Com o Brexit foi uma conjunção perfeita”, disse.