Com R$ 246 bilhões de receita líquida no ano-safra 22/23, a Raízen é uma gigante do setor de energia, sendo a quarta empresa com maior faturamento do Brasil. As atividades do grupo vão desde o plantio da cana-de-açúcar para geração de energia até a distribuição, via rede de postos Shell. O grupo também tem participação na rede de mercados Oxxo, que vem crescendo fortemente em algumas cidades do País, entre outras iniciativas.

Com um parque de TI altamente diversificado, a Raízen intensificou sua jornada para a nuvem no final de 2021, com um contrato de 5 anos firmado com a Microsoft. Com a parceria, mais de 200 aplicações devem ser migradas. A coluna bateu um papo com Fabio Mota, VP de Tecnologia da Raízen, e Ricardo Fernandes, VP de Enterprise Business da Microsoft Brasil, para entender como correu este processo. Confira.

A Raízen é um grupo grande, com subsidiárias em diversos segmentos e parque de TI muito diversificado. Como começou o processo de migração para nuvem?

Fabio Mota, da Raízen: migração de mais de 200 aplicações (Crédito:Divulgação)

Fabio Mota: Começamos lá atrás, por volta de 2011, no processo de formação da Raízen. Mas não houve um momento de decisão do tipo “vamos migrar para a nuvem” naquele momento. Foi um processo natural, em que novas aplicações que vieram a surgir começaram a ser projetadas para já funcionar na nuvem. Na época tínhamos um data center, que funciona até hoje, o que de certa forma desestimulava a migração.

Mas com o passar dos anos o contexto de negócios e da tecnologia mudou e ficou mais dinâmico. Processos tradicionais de seleção de software, compra de servidor e homologação já não funcionavam mais.

Foi nesse contexto que assinamos o contrato com a Microsoft. E desde então estamos acelerando a migração das aplicações para a nuvem. E vamos aprendendo no processo. Em alguns casos trocamos soluções e optamos por sistemas SaaS. Em outros, optamos por menos modificações na solução e pela migração na forma de IaaS mesmo, usando a infraestrutura da nuvem.

Muitas empresas acabam tendo que rever passos e até mesmo voltar atrás em algumas migrações. Como é definida a ordem das aplicações que vão para a nuvem? Quais os critérios usados?

Ricardo Fernandes: É uma jornada. Existe um plano inicial, mas ele é revisto periodicamente para verificar se as premissas ainda são válidas. A análise é muito focada em dois fatores: benefício e grau de complexidade. Ou seja, se há uma tarefa de complexidade menor e de alto impacto para o negócio, possivelmente essa será uma das primeiras a ser migrada.

Fabio Mota: No fim das contas é realmente a relação esforço x benefício. Não tivemos nenhum caso de rollback de aplicações, mas tivemos alguns em que houve demora maior do que o previsto, o que é natural. Não há problema em mudar de rumo, pois o cenário de negócios também muda rapidamente.

Sobre o contrato. Quanto já foi feito até este momento? Podem dar exemplos de algumas aplicações que foram migradas?

Fabio Mota: 60% da fila de mais de 200 aplicações já foi migrada. Um dos cases que temos é nossa aplicação de e-commerce. Temos um site B2B, voltado para donos de postos de gasolina que compram nosso combustível. É uma aplicação que tem a questão da demanda, sujeita a picos. Então é uma aplicação que se encaixa perfeitamente na nuvem.

Nesse caso, reescrevemos em boa parte a aplicação para aproveitarmos os recursos da plataforma de cloud. Foi um projeto complexo, pois a aplicação rodava de forma isolada, em um servidor físico nosso. Mas o potencial de ganho para o negócio era grande e justificou as mudanças.

Já em outros casos tínhamos aplicações que rodavam isoladas, mas exigiam muito armazenamento, como aplicações de backoffice. Nesses casos elas foram para nuvem de forma virtualizada em modo IaaS. Nesses casos, alguns grandes benefícios são a possibilidade de ter um ambiente de recuperação mais robusto, em caso de falha, e a atualização mais fácil na questão da segurança das aplicações. Além disso, caso haja necessidade de mais infraestrutura, podemos fazer isso na medida certa.

De modo geral, um aspecto interessante é que a nuvem está sempre recebendo novas tecnologias. E elas ficam disponíveis para nós de modo mais ágil, sem a necessidade de criar ou comprar uma nova aplicação e passar pelos processos internos de aprovação.

Claro que os concorrentes também têm acesso a recursos semelhantes. Então o desafio está na melhor forma de usar o serviço e na rapidez. Levar seis meses para escolher a melhor solução para uma demanda já não funciona mais. São seis meses a menos em que você colheu algum benefício. É melhor entrar com uma solução nota 8 rapidamente do que levar seis meses para entrar com a solução nota 10.

O atual projeto de migração já engloba algum aspecto de IA generativa? Como vocês veem o impacto dessa tecnologia nas plataformas de cloud?

Ricardo Fernandes, da Microsoft: Uso da IA generativa deve prioriozar objerivos das empresas (Crédito:Divulgação)

Ricardo Fernandes: Neste projeto temos um case da Raízen de uso do CoPilot, uma ferramenta da Microsoft que auxilia os desenvolvedores a criar aplicações mais rapidamente. O CoPilot permite a criação de aplicações em linguagem natural, escrevendo o código desejado a partir das orientações dadas pelo usuário.

Vemos que, de modo geral, o mercado está testando IA generativa em casos aplicados ao negócio, o que é saudável. Não são testes do tipo “feira de ciências”, que têm seu valor no sentido de ampliar conhecimento, mas não se aplicam ao cotidiano da empresa. Como fornecedor, é papel da Microsoft orientar os clientes nesse sentido e dizer “essa aplicação da tecnologia não vai te trazer benefício”.

Fabio Mota: No fim dia, cada empresa tem seus dados, e é importante que estejam estruturados. O mesmo algoritmo em duas empresas vai dar resultados diferentes, pois parte de grupos de dados diferentes. Com a evolução da IA, fica cada vez mais claro que o dado é o novo petróleo.