Aos 29 anos, o cantor Raffa Torres vive uma das melhores fases de sua carreira. Nos últimos anos o lado compositor do músico se desenvolveu bastante e ele já soma cerca de 50 hits de explosão nacional, além de 2 bilhões de visualizações dos clipes oficiais no Youtube. Entre elas estão “Eu Era” (Marcos & Belutti) “2050” (Luan Santana), “Nessas Horas” e “Ao Vivo e a Cores” (Matheus & Kauan ft. Anitta), “Contrato” (Jorge & Mateus) e “Parece Namoro” (Marília Mendonça) entre outras, para citar algumas faixas que despontaram em primeiro lugar nas rádios.

Por falar em hits, Raffa Torres liderou na última semana o ranking nacional de música mais tocada nas rádios do Brasil com a faixa “A Vida é Um Rio”, que já era sucesso nas plataformas digitais.

Paulistano criado em Vitória da Conquista, na Bahia, Raffa Torres aprendeu a tocar violão aos 11 anos e aos 15, formou uma banda gospel ao lado de quatro amigos da igreja que frequentava. Foi quando, três anos mais tarde, percebeu que a paixão pela música estava ficando séria e resolveu se mudar para São Paulo em busca do sonho. Mas não foi nada fácil.

Em entrevista à ISTOÉ Gente o cantor falou sobre a carreira, como a pandemia causada pelo novo coronavírus tem afetado a sua vida e principalmente como a fé e as portas fechadas quando voltou a São Paulo com apenas R$ 17 o ajudaram a atingir o status que tem hoje.

Confira o bate-papo:

O Brasil conta atualmente com diversos talentos musicais. Como você conseguiu se destacar no meio de tanta gente boa?
Eu tento sempre fazer as coisas na ordem correta. Acredito que existe uma ordem cronológica para você vencer na vida, de modo geral. Não só na arte.

Acho que primeiro você descobre um sonho, que é como se fosse uma semente. Depois entra a fase do trabalho, que você precisa procurar uma terra fértil, regar e aí vai nascendo uma plantinha, dela surge uma árvore. Só depois aquela árvore começa a dar frutos. Então tem a fase do sonho, do trabalho e da colheita.

Eu acho que eu consegui não atropelar nenhuma etapa, e isso fez com que hoje eu possa colher bons frutos. Acho que minha árvore tem muito a crescer ainda, muito frutos podem ser colhidos, mas eu estou achando-a linda. Estou muito feliz com o caminho e com tudo o que está acontecendo na minha carreira.

Qual a maior dificuldade que você teve ao longo da carreira? E como você lidou com ela?
A maior dificuldade foi quando eu cheguei em SP em busca do meu sonho. Eu tinha R$ 17 na carteira e um violão nas costas. Eu tive um período muito complicado de me faltar até o que comer, mas eu sabia que aqui era o lugar onde as coisas aconteciam, então eu tinha que me manter de alguma forma. Acho que essa dificuldade me fez mais forte para enfrentar qualquer outra. Quando a gente vence um desafio, algo difícil que passado, a gente ganha força para enfrentar as demais etapas.

Quando você voltou a São Paulo, não conseguiu agendar shows e precisou arrumar emprego em uma área que nada tinha a ver com a música [empresa de telefonia]. Que recado você deixaria pra quem te virou as costas lá atrás?
Eu diria ‘muito obrigado’ a essas pessoas, porque, quando eu vim para SP, eu não estava pronto artisticamente, como ser humano, provavelmente também não. Eu vim muito novo e cada ‘não’ que eu levei, eu vi como uma degrau para eu subir. Isso me fez crescer muito, musicalmente e como pessoa. Do fundo meu coração, eu diria ‘obrigado’ para cada pessoa que me disse, porque acredito que não estava pronto para ouvir um ‘sim’. Eu não teria evoluído sem eles.

Hoje você é sucesso em todo País, seja como cantor ou compondo músicas para diversos astros da música brasileira. Você esperava tamanha façanha?
Eu acho que a fé aliada ao otimismo faz a gente dedicar nossa vida a algo. E eu dedico minha vida à minha música, ao meu sonho, por isso sempre acreditei. Inclusive, eu acho que falta muita coisa ainda, muita mesmo. Talvez eu esteja em 10% do caminho e, como digo na minha música ‘A Vida É Um Rio’, ainda temos estrelas para alcançar, sonhos para sonhar, flores para regar e precisamos fazer isso juntos. Tenho certeza que a equipe que Deus colocou no meu caminho, os fã-clubes que Ele me presenteou, vamos todos muito longe ainda.

Como foi o convite para sua música ser tema de uma novela da Globo? O que isso representa pra você?
Foi através do Fred Mayrink, diretor artístico da novela ‘Salve-se Quem Puder’. Ele conheceu o Wilsinho, que é um dos meus empresários e ele acabou ficando com uma cópia do meu DVD. Um tempo depois, ele entrou em contato dizendo que ‘A Vida É Um Rio’ tinha tudo a ver com o casal de protagonistas da novela, a Luna (Juliana Paiva) e o Teo (Felipe Simas). E aí corremos para gravar uma versão para a novela, mas até então nada certo. Passou um tempo e a Globo pediu uma autorização para poder executar a música em algum momento da trama e, mais um tempinho depois, saiu uma lista da trilha sonora nos portais, só que tinham mais de 20 músicas na lista. E muitas das músicas acabam não tocando, ou esporadicamente, então eu fiquei ainda sem ter certeza, sem acreditar.

Aí, um dia, eu estava voltando de um trabalho que eu fiz nas rádios no Triângulo Mineiro, estava na estrada, e meu celular começou a tocar, muitas mensagens chegando. As pessoas estavam dizendo que haviam acabado de ouvir a música na novela. Pedi ao motorista para parar no próximo posto, mas, na verdade, é porque eu tenho vergonha de chorar na frente das pessoas e queria me esconder. Chorei emocionado, agradeci muito a Deus. Essa é minha música preferida e ouvir ela na trilha de uma novela, com protagonistas, tocando todos os dias, isso representa muito para mim. Com certeza foi um divisor de águas na minha carreira.

De onde vem suas inspirações para compor? Algumas delas foi alguma experiência que você passou na vida?
São algumas crenças, histórias vividas, e, em alguns casos, situações que Deus acaba montando. Tem uma música, a ‘2050’, que eu escrevi com o meu grande amigo Bruno Caliman, que foi cantada pelo Luan Santana, que tem uma história muito curiosa, que me prova que Deus monta algumas dessas situações. Uma vez eu saí de SP e fui até Vitória, pousei no aeroporto, e peguei o táxi com um senhor de 72 anos de idade. Comecei a conversar com ele e perguntei “o senhor é daqui de Vitória?”. E ele disse “não, na verdade sou mineiro, caminhoneiro, vim trazer uma encomenda aqui. Fui almoçar em uma churrascaria e me apaixonei por uma garçonete e dei uma cantada nela. Ela me respondeu “mas você nem mora aqui”, e eu respondi que, se ela ficasse comigo, eu nunca mais iria embora”. E ele me contou que já fazia 50 anos que estava ali, dirigindo o táxi, a mulher tem uma loja de doces. “Melhor coisa foi ter achado a minha véia”, ele disse.

Quando ele me contou essa história, eu me arrepiei inteiro, me emocionou muito. Eu lembro de ter saído do carro dele, com a mochila nas costas, o violão na mão e pensei: eu quero ser esse cara e eu vou escrever uma música como se eu fosse alguém assim no futuro. Aí, junto com o Bruno, escrevi. Foi uma música que tocou muito pelo Brasil inteiro e eu tenho muito orgulho.

Como a pandemia está afetando sua vida? Menos shows, mais lives… a criatividade aflora?
Eu passei por algumas nessa pandemia, fases criativas, outras complicadas emocionalmente também. Acho que talvez o artista tenha uma sensibilidade uma pouco exagerada e isso faz com que você sinta a dor do seu próximo de forma mais intensa. E por muitos dias perdemos mais de mil irmãos nossos por conta do vírus, e isso acaba bagunçando nossa cabeça. É muito triste tudo o que está acontecendo. Mas eu enxergo também uma oportunidade de nós nos reinventarmos, valorizarmos mais a simplicidade dos momento. Acho que os bons momentos se tornarão normais e a gente não valorizava. Quando tudo isso passar, vamos dar mais valor para vida, para o abraço, para amizade, para uma viagem e para as nossas conquistas também. Então talvez a gente esteja ganhando tempo ao invés de perder.

Mas a parte criativa depende muito do emocional; quando eu estou bem, consigo escrever mais, nos dias que estou mais pra baixo, não consigo escrever. Ao contrário de muitos amigos que escrevem quando estão mal, eu só consigo quando bem, em paz. Então tive momentos de paz, de ressignificar muitas coisas e consegui escrever. Tive dias criativos.

Quando você não está envolvido com a música, o que você costuma fazer nas horas vagas?
São momentos muito raros, porque eu praticamente durmo e acordo pensando em música. Mas, ali nas poucos horas que eu tenho, eu gosto muito de ver série, sou viciado em Chaves. Assisto quase todos os dias. Gosto muito de jogar baralho com amigos, sou um pouco competitivo. Futebol também gosto. São algumas das coisas que eu faço para passar o tempo, quando não estou envolvido com a música.