O diretor Andrucha Waddington conversa pelo telefone com a reportagem do Estadão. Nesta terça-feira, 10, à tarde, ele estava em um hospital de referência no Centro do Rio, pesquisando locações para a próxima temporada – a quinta – de Sob Pressão. Há cinco anos, desde 2016, ele tem vivido intensamente a questão da saúde no Brasil. Começou com seu longa, que virou série na proposição de Jorge Furtado. No meio do caminho, não havia só uma pedra, como na poesia de Carlos Drummond de Andrade. Houve uma pedreira chamada pandemia.

A quarta temporada estreia nesta quinta, 12. A próxima será gravada em breve, com todos os protocolos de segurança necessários neste momento. “Depois do filme e de três temporadas, fizemos o especial covid, para tratar especificamente do tema. Na quarta temporada, que está começando, a pandemia está no ar. A fome, o desemprego, todas essas consequências terríveis se fazem presentes, mas a emergência do hospital está atendendo outras urgências. Baleados, partos complicados. A vida com seu cortejo de outras doenças segue, mesmo em tempos de covid.”

O sentimento de urgência marca todo o episódio escrito por Lucas Paraizo. Ele lidera a equipe de roteiristas, como Andrucha, a de realizadores. Um tiroteio no meio da rua, uma grávida hipertensa e diabética, o menino de 12 anos, homem da casa, que busca socorro para a mãe. O fantasma da fome. O garoto rouba um sanduíche para a mãe, o que provoca a imediata reação policial. Violência, desigualdade. “Na verdade, o que está doente nessa emergência é o Brasil”, reflete Andrucha. O que seria do povo brasileiro sem o SUS?

“O Sistema Único de Saúde tem sido contestado pelo neoliberalismo que quer privatizar tudo. Se as pessoas não têm nem o que comer, como vão pagar pela saúde?”, pergunta o diretor. Artífice do liberalismo econômico, nem Margaret Thatcher ousou privatizar o sistema de saúde inglês. Saúde para os necessitados.

A indignação face a tantas dificuldades – falta tudo no hospital, menos empenho da equipe – atravessa o fortíssimo episódio inicial. Os atores – Julio Andrade, Marjorie Estiano, Drica Morais, Bruno Garcia e outros – já estão colados aos papéis. Fazem com garra. Tudo recomeça e o Dr. Evandro/Julio, cada vez melhor, já vai disparar seu mantra: “Ninguém morre no meu plantão”. Face ao horror, a esperança não desiste.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.