Já disponível na HBO Max e no Discovery+ a série documental ‘Flordelis: Em Nome da Mãe‘ foi lançada em dezembro do ano passado. Com direção de Suemay Oram, e codireção de Maurício Monteiro Filho, a produção tem como tema central o assassinato do pastor Anderson do Carmo, marido de Flordelis dos Santos de Souza, em 2019. No dia 7 de novembro de 2022, em julgamento na 3ª Vara Criminal de Niterói, a ex-deputada federal e sua filha biológica Simone dos Santos Rodrigues foram condenadas pelo homicídio.

Na série, de quatro episódios, a equipe de filmagem acompanha Flordelis e apresenta os principais marcos do caso, desde a cassação de seu mandato até a prisão preventiva. ‘Flordelis: Em Nome da Mãe’ apresenta ainda cenas da intimidade da então ré primária com sua família e amigos próximos, além de entrevistas com investigadores da polícia, testemunhas-chave e equipes jurídicas de defesa e acusação.

Por meio das reviravoltas do caso, a série propõe perguntas sobre ganância, fama, religião, o papel da mídia no sistema de justiça e o significado da família na sociedade atual. Flordelis ficou famosa nacionalmente na década de 90 pela adoção de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social e ganhou notoriedade na mídia após adotar 37 crianças no centro do Rio de Janeiro. A missionária pregava que a família era “seu bem maior”.

Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, Suemay Oram e Maurício Monteiro Filho comentaram como foi estar diante do mesmo de um ambiente de uma mulher que seria condenada pouca depois.

“Nenhum ser humano pode ser reduzido a um processo criminal, por mais público e notório que seja. Acho que o true crime nos ensina isso – e isso é ótimo: na sua maioria, as pessoas são só pessoas. Elas não são criminosas, que agem como tal 24h por dia, nos olham como criminosos, falam como criminosos. Eu, pelo menos, não acredito nesse mal inerente”, diz Maurício Monteiro Filho.

“Então, minha sensação é de que eu estava apenas diante de uma pessoa nesse momento de crise extrema, uma situação limite em que é difícil agir com naturalidade, pois há uma possível condenação pairando sobre cada momento do seu dia e é impossível esquecer disso. Como documentarista, é aí que mora o interesse: em ver como uma pessoa numa situação limite age. Foi o que tentamos fazer, sem qualquer juízo de valor”, completa.

Flordelis foi condenada a 50 anos e 28 dias de prisão por assassinato do marido (Crédito:Divulgação/HBO Max)

Suemay e Maurício também falaram sobre como que foi a preparação mental deles, para que não tivesse um pré-julgamento em cima da personagem principal do documentário.

“Como documentarista estamos acostumados a não pré-julgar ninguém. Estamos sempre dispostos a ouvir todos os lados da história sem preconceito. Claro que como jornalistas temos que fazer as perguntas difíceis, mas sempre tentando entender o que a pessoa está sentindo ou tentando nos transmitir nesse momento”, afirma Suemay.

“Essa é a preparação que qualquer jornalista ou documentarista precisa ter ao tratar de qualquer tema. Mais que um princípio, a objetividade é uma salvaguarda fundamental ao nosso trabalho por nos proteger de julgamentos e rótulos reducionistas. Especialmente para um documentário, uma obra que precisa ter uma certa dramaturgia – mesmo que promovida pela realidade – e envolver a audiência na narrativa, não cultivar esses pré-julgamentos é algo obrigatório, que garante que consigamos representar uma narrativa multifacetada, complexa, sem simplificá-la”, diz Maurício.

“Afinal, as pessoas que virão essa série provavelmente já sabem que Flordelis foi condenada. Ou seja, não é esse o interesse nessa história – apenas saber se ela é ou não culpada, mas sim mergulhar em toda a profundidade desse caso e se deixar ser mais levado por dúvidas do que por certezas”, completa o codiretor.

Flordelis em cena de oração em Monte Raiz da Serra, no Rio de Janeiro (Crédito:Divulgação/HBO Max)

Por fim, Maurício também falou sobre como foi a preparação mental da equipe responsável pela gravação: “Filmar é um trabalho, mas é evidente que há um envolvimento emocional com a história e com as pessoas que a compõem. Mais que com ela, esse envolvimento se fazia sentir com as crianças e jovens da casa, por nos perguntarmos o que seria deles no caso de uma condenação. Isso ainda é algo que me atormenta e espero de coração o melhor pra todos eles”.

“Posso dizer que sinto uma dose de afeto por cada um dos nossos inúmeros personagens nessa série. Não tendo que exercer nenhum juízo sobre ninguém, a gente pôde simplesmente se dedicar às histórias que generosamente compartilharam com a gente – acusadores como acusados – e representá-las de maneira justa na tela. Acho que fomos muito felizes nesse intento”, conclui.