Os projetos extrativistas no Equador devem ser suspensos e os investimentos redirecionados para a agricultura, diz Leonidas Iza, líder do poderoso movimento indígena equatoriano, que acusa as políticas do presidente Guillermo Lasso de forçá-los a serem “trabalhadores assalariados” nas minas.

“Eles estão quebrando os agricultores” com o “contrabando” de produtos de países vizinhos a preços “mais baratos”, disse Iza em entrevista à AFP.

Iza, engenheiro de origem quíchua, foi um dos líderes dos violentos protestos de outubro de 2019 contra o governo de Lenín Moreno (2017-2021) devido ao aumento dos preços dos combustíveis, no qual 11 pessoas morreram.

Agora, o líder de 39 anos, à frente da confederação de nacionalidades indígenas do país (Conaie), é uma das principais figuras de oposição ao governo de Lasso, ex-banqueiro de direita que começou seu segundo ano no cargo na terça-feira.

O Pachakutik, braço político do movimento indígena, é a segunda força parlamentar, mas se divide entre uma fração próxima à Conaie e outra aberta ao diálogo com o governo.

No entanto, Iza defende “uma unidade orgânica, indissolúvel do movimento”.

Lasso e Iza se reuniram duas vezes no ano passado, mas não houve acordos e a Conaie anunciou uma manifestação “indefinida” a partir de 13 de junho.

A mineração é parte central de suas reivindicações.

Com o contrabando de alimentos e altos custos na agricultura, Iza denuncia políticas públicas que buscam “provar estatisticamente que em territórios [indígenas] não é mais possível continuar produzindo” alimentos.

“Então nós, agricultores, paramos de produzir. Eles querem nos levar para a mineração para sermos trabalhadores assalariados. Não podemos fazer isso”, diz Iza em seu feudo em Latacunga, quase 80 quilômetros ao sul de Quito.

O Equador entrou na mineração em grande escala em 2019 e Lasso manteve o ritmo.

Iza, por outro lado, propõe reduzir ao mínimo os projetos extrativistas e tornar o Equador, o maior exportador mundial de bananas, uma potência na agricultura, atividade que contribui com 8% do Produto Interno Bruto (PIB).

“Se conseguíssemos reorganizar a capacidade produtiva nacional (…) poderíamos alimentar uma parte do mundo”, diz.

Anticapitalista declarado, Iza considera que o empenho de Lasso de “reduzir o Estado” com políticas “neoliberais” obstruiu as capacidades de combate à violência criminal e reduziu o investimento em educação, saúde e agricultura.

Os povos indígenas do Equador, que ultrapassam um milhão em um país de 17 milhões de habitantes, são predominantemente engajados na agricultura. A Conaie abriga 53 organizações de 18 povos e 15 nacionalidades indígenas.