A escolha do próximo comandante do Exército pelo presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá recair sobre o general mais antigo da tropa ou um oficial que tenha a simpatia de integrantes do governo de transição. Se optar pela antiguidade, Lula entregará o comando, em janeiro, ao general Julio Cesar de Arruda, atual chefe do Departamento de Engenharia e Construção (DEC). Conselheiros do petista, entretanto, sugerem o nome do general Tomás Paiva, comandante militar do Sudeste.

A lista de apostas inclui ainda dois outros nomes de generais entre os mais antigos e experientes para comandar a Força Terrestre: o chefe do Estado-Maior do Exército, Valério Stumpf, e o comandante de Operações Terrestres, Estevam Theophilo. A ordem de chegada ao posto de quatro estrelas (a mais alta patente) é a seguinte: Arruda (março de 2019), Stumpf e Paiva (julho de 2019); Theophilo (novembro de 2019).

Conselheiros de Lula têm dito que o presidente não deve inovar na escolha. Em vez disso, sugerem que ele limite a seleção à lista dos três mais antigos. No total seriam quatro, pois Stumpf e Paiva dividem a segunda posição e ambos passariam à reserva na mesma época, em julho do ano que vem; Arruda, em março, e Theophilo, em novembro. Os demais 12 integrantes do Alto Comando do Exército se aposentam somente a partir de 2024.

“Se fosse fazer uma aposta, eu ficaria em torno desses três (Arruda, Tomás e Stumpf). Não é necessário (seguir a antiguidade), mas não queremos nada que cause perturbação desnecessária”, disse ao Estadão o ex-ministro da Defesa (2011 a 2015) e ex-chanceler Celso Amorim. “Conheço o general Tomás há muito tempo e o acho uma pessoa de excelente trato. Ele foi ajudante de ordens do (ex-presidente) Itamar Franco, quando fui ministro (das Relações Exteriores) pela primeira vez.”

Oficiais-generais da ativa e da reserva avaliam que Lula distensionaria a relação com as Forças Armadas ao nomear como comandantes tanto do Exército quanto da Aeronáutica e da Marinha os militares mais antigos do generalato. Foi este o critério que prevaleceu nos dois primeiros governos do petista.

Gesto

Apesar de o cargo ser escolha pessoal de Lula, generais observam que esse seria um gesto natural, que não causaria atritos com a Força. No caso de escolha de oficiais com menos tempo no último posto, os chamados mais modernos pelas regras de hierarquia da caserna, na prática, Lula “aposentaria” o grupo mais experiente.

A passagem deles à reserva se impõe, em tese, para que sejam preservadas as práticas, e nenhum dos integrantes do Alto Comando se submeta a ordens de um comandante-geral com menos tempo de quatro estrelas.

O temor na caserna era de que Lula abandonasse o critério, como fez o aliado e presidente da Colômbia, Gustavo Petro, provocando uma troca sem precedentes e aposentando de uma só vez uma leva de quase 50 oficiais-generais.

“Lula tem bom senso. O menor dos problemas dele são os militares. O comandante vai ser o mais antigo, considerando que ele já fez isso e deu certo, é a melhor coisa que tem”, diz o general da reserva Paulo Chagas, notório crítico do petista. Pelas regras, Lula poderia escolher num universo mais amplo, que inclui qualquer oficial general de Exército, na ativa e na reserva, desde que não tenha sido reformado.

Da arma de engenharia, Arruda passou por algumas das posições de maior prestígio do Exército, como o comando da Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), o Comando Militar do Leste, e o Comando de Operações Especiais. Natural de Cuiabá (MT), chefiou o 1º Batalhão de Forças Especiais, um dos mais especializados, que levam a insígnia da faca na caveira.

Oficial de infantaria, Tomás Paiva é tido como um dos nomes mais moderados da caserna e com boa aceitação no futuro governo, especialmente porque teria desenvolvido relações mais próximas com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). Paiva foi ajudante de ordens do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), antigo aliado de Alckmin. Sempre nutriu relações com os tucanos desde então.

Articulado e apontado como crítico de episódios de politização na caserna, o general Tomás disse ao longo de 2022 que as Forças Armadas “não andam ao sabor de um governo ou de outro” e são comprometidas com a Constituição. Durante a pandemia, afirmou que a covid-19 era “a missão mais importante de sua geração”.

Ele foi chefe de gabinete do ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas, crítico de Lula e autor de um tuíte em 2018 assimilado em Brasília como ameaça ao julgamento que o Supremo fazia e poderia impactar no futuro do petista. Na véspera do segundo turno, o ex-comandante voltou a fazer previsões em tom catastrófico sobre um “governo de oposição”. Também comandou a Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), o Batalhão de Guarda Presidencial e chefiou o Departamento de Educação e Cultura, entre outros cargos.

O gaúcho Stumpf tem passagens pelo Palácio do Planalto. Foi assessor do Gabinete de Segurança Institucional no governo FHC, e secretário executivo do GSI nos governos Michel Temer e Jair Bolsonaro, servindo com os ex-ministros Sergio Etchegoyen e Augusto Heleno. No topo da carreira, passou pela chefia do Comando Militar do Sul e da Secretaria de Economia e Finanças.

Um conselheiro de Lula que se reuniu com dois ex-ministros da Defesa de governos petistas aponta que tanto Tomás quanto Stumpf, ambos com experiência prévia no Planalto, são militares de perfil profissional e com traquejo político.

De família tradicional no Exército e na política cearense, Theophilo é oficial de artilharia e irmão de outros oficiais-generais, entre eles o ex-secretário nacional de Segurança Pública no governo Jair Bolsonaro e ex-candidato a governador do Ceará pelo PSDB Guilherme Theophilo. Ele foi comandante militar da Amazônia.

Oficiais que conversaram com o Estadão afirmam que o natural na Força Terrestre seria esse grupo mais antigo, com aval do comandante, conduzir as tratativas de transição com a equipe de Lula. O ex-chefe da segurança do presidente eleito voltou a colaborar com ele durante a campanha. Agora, o general Gonçalves Dias tornou-se peça-chave a ser ouvida nas escolhas para a cúpula das Forças Armadas.

Além disso, militares que compõem o atual Alto Comando e alguns já na reserva, que frequentam o QG em Brasília, ponderam ver como positiva a escolha de um nome civil para o Ministério da Defesa, como pretende fazer Lula. Os dois políticos com mais simpatia da caserna são o ex-ministro Aldo Rebelo (hoje no PDT, oriundo do PC do B) e o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (que migrou do PSDB para o PSB). Há ainda sugestões para que Lula opte por um diplomata experiente, como já fez no início do primeiro mandato, e a ex-presidente Dilma Rousseff repetiu. Os embaixadores José Viegas Filho e Celso Amorim passaram pela Defesa. O segundo tem sido conselheiro de Lula em parte dos planos para o setor, mas pondera não ter poder de decisão na área.