Quem são os próximos brasileiros na mira de Trump?

Donald Trump
Donald Trump: anúncio de tarifaço teve menção a Bolsonaro Foto: REUTERS/Kent Nishimura

A atual gestão dos Estados Unidos tem sido marcada pela interferência em questões externas, com repercussões até para o Brasil. Pouco mais de um mês após impor tarifas sobre produtos nacionais e retaliar diversas autoridades brasileiras, Donald Trump revogou vistos de brasileiros “por cumplicidade” com o programa Mais Médicos, do qual participaram profissionais de saúde cubanos.

O Mais Médicos foi lançado em 2013 pelo governo da presidente Dilma Rousseff (PT), para atender áreas desfavorecidas por meio de um convênio com a Organização Panamericana da Saúde (Opas), escritório da Organização Mundial da Saúde (OMS).

O governo de Cuba vende serviços para outros países por meio de “missões internacionalistas”, que incluem atividades médicas – parte essencial da fonte de renda cubana.

Além de funcionários do governo brasileiro e ex-funcionários da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), os familiares do ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT) também foram alvo da revogação. Agora, políticos da ala bolsonarista – fortemente associados a Trump – esperam novas represálias contra autoridades do Brasil.

Mais Médicos: novo alvo dos EUA

Ao anunciar as investidas contra integrantes do programa Mais Médicos, o secretário de Estado americano, Marco Rubio, explicou que as medidas se relacionam à “expansão das restrições impostas ao regime cubano” pelo governo Trump.

Segundo Rubio, o Mais Médicos foi uma “fraude diplomática inconcebível de ‘missões médicas’ estrangeiras” para fortalecer o governo autoritário de Cuba, alvo do maior embargo econômico imposto pelos EUA, em vigor há 60 anos.

De 2013 a 2018, com Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB) como presidentes, médicos cubanos eram contratados para prestar serviços no SUS, especialmente em regiões remotas do país, onde há maior carência de profissionais da área. Mais de 8 mil cubanos chegaram a atuar ao mesmo tempo no Mais Médicos.

O Mais Médicos foi retomado em 2023 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com o compromisso de priorizar médicos brasileiros, após uma forte redução durante o governo de Jair Bolsonaro (2019-2022).

Quem foram os brasileiros atingidos?

Os brasileiros sancionados são Mozart Júlio Tabosa Sales, secretário do Ministério da Saúde, e Alberto Kleiman, ex-funcionário do governo e consultor para a COP30 da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), que Washington acusa de terem desempenhado “um papel no planejamento e execução” do Mais Médicos.

Além disso, os familiares dos sancionados estão inclusos na revogação.

O secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou que tanto eles quanto ex-funcionários da Opas, cujo nome não revelou, facilitaram “o estratagema” de Havana que “explora os trabalhadores de saúde cubanos por meio de trabalhos forçados”.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reagiu ao anúncio por meio de publicação na plataforma X, antigo Twitter. Ele enfatizou que o programa “salva vidas e é aprovado por quem mais importa: a população brasileira”.

Não demorou, porém, para a família do ministro também ser alvo das retaliações. Na tarde do dia 15 de agosto, os EUA cancelaram os vistos da esposa e da filha de Padilha – que, por não possuir visto vigente, não foi atingido.

Consequências da revogação

A revogação do visto americano é uma medida administrativa contra estrangeiros. Diferente de um visto negado ou cancelado no vencimento, trata-se de um ato unilateral pelo qual o governo dos Estados Unidos invalida um visto que estava, previamente, em vigência.

A consequência imediata é que o visto se torna ineficaz para entrar nos Estados Unidos. Isso sem contar que a revogação fica registrada no sistema do Departamento de Estado e nos sistemas de Imigração. Desse modo, em entrevistas para uma nova via, será preciso declarar a existência de um cancelamento prévio.

Caso o alvo esteja em solo americano no momento da revogação, ele poderá permanecer no local durante o período de vigência – sendo o visto cancelado assim que deixar o país.

Bolsonaristas pedem novas sanções

Desde que se licenciou do mandato como deputado federal em março deste ano, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) deflagrou a intenção da ala bolsonarista em negociar retaliações contra a própria nação. O filho “03” de Jair Bolsonaro (PL) decidiu permanecer nos Estados Unidos a fim de conseguir que o ministro do STF Alexandre de Moraes fosse punido pelo governo americano.

Ele e os demais aliados acreditam que Bolsonaro sofre “perseguição política” no Judiciário brasileiro, uma vez que é réu por suposta tentativa de golpe de Estado, ocorrido pós-eleições de 2022.

Foi essa narrativa que levou Donald Trump anunciar taxas de 50% a produtos nacionais no dia 9 de julho, ação que culminou em uma disputa diplomática complexa entre os dois países.

Já em 18 de julho, Marco Rubio anunciou a revogação dos vistos americanos do ministro Alexandre de Moraes, seus familiares e de outros sete integrantes do Supremo. No fim do mesmo mês, Moraes foi enquadrado na Lei Magnitsky, legislação empregada pela Casa Branca para punir estrangeiros que violam os direitos humanos.

“Eu esperaria mais tarifas, porque as autoridades brasileiras não mudaram seus comportamentos”, disse Eduardo em entrevista à agência de notícias Reuters.

Com os pedidos atendidos pela gestão norte-americana, bolsonaristas aguardam novas sanções contra autoridades do País. Entre elas estão:

  • Dilma Rousseff: ainda sobre o programa Mais Médicos, Eduardo Bolsonaro citou a expectativa de ver a ex-presidente inclusa nas retaliações, ação que seria significativa pela relevância de Dilma no Brics, que comanda o banco do bloco.
  • Hugo Motta e Davi Alcolumbre: Os líderes da Câmara e do Senado têm sido alvo de ameaças por parte de Eduardo, já tendo sinalizado que ambos podem ser punidos caso “não cumpram o seu papel enquanto representantes da sociedade”. Bolsonaristas mostram-se insatisfeitos pois as pautas da anistia e do impeachment de Moraes não são prioridades das Casas.
  • Viviane Barci de Moraes, mulher de Alexandre de Moraes: Eduardo afirmou que Viviane é o “braço financeiro” do magistrado e defende que as sanções aplicadas ao ministro sejam estendidas a ela.