04/09/2024 - 19:49
Os dez candidatos à prefeituras e Câmaras Municipais nas eleições de 2024 somam uma fortuna de R$ 7,3 bilhões. Há dois concorrentes bilionários na lista, responsáveis por quase 60% do montante.
Com exceção de uma vice-prefeita que compõe chapa no município de Primavera do Leste (MT), todos os concorrentes são homens e se autodeclararam brancos.
A lista segue os bens declarados por eles no registro das candidaturas no TSE (Tribunal Superior Eleitoral. Veja abaixo:
10º – Francis Maris Cruz (PL): R$ 230.205.947,00
Ex-prefeito do município de Cáceres por dois mandatos, Francis Maris (MDB) tenta novamente o comando do Executivo da cidade de 89 mil habitantes no sul do Mato Grosso. Os mais de cem bens declarados pelo empresário totalizam R$ 230,2 milhões.
O candidato foi eleito em 2012, pelo PMDB, e reeleito em 2016, então filiado ao PSDB. Em 2022, último pleito em que concorreu, foi eleito suplente de deputado estadual, também pelo partido tucano. Na ocasião, há dois anos, o total declarado foi de R$ 107,5 milhões, metade do patrimônio atual.
O item de maior valor declarado por Francis foi um rebanho de animais de R$ 55,2 milhões. A campanha do candidato foi procurada pelo Estadão, mas não quis comentar.
9º – Ivanir Maria Gnoatto Viana (Republicanos): R$ 258.783.507,00
A vereadora Iva Viana (Republicanos), que concorre como vice-prefeita de Primavera do Leste (MS), município de 85 mil habitantes a 243 quilômetros da capital, Cuiabá, declarou R$ 258,7 milhões ao TSE. Eleita suplente em 2020 pelo PDT e assumindo a vaga posteriormente, Iva estreou na vida política em 2016, quando foi eleita para seu primeiro mandato na Câmara Municipal.
Há quatro anos, o patrimônio declarado por ela foi de R$ 6,4 milhões a menos que o atual. Em 2016, os bens somavam R$ 62,8 milhões. Ao todo, a candidata declarou terrenos no valor de R$ 213,5 milhões, e veículos automotores, como automóveis e maquinários, que somados valem R$ 45 milhões.
Ao Estadão, a candidata disse que “não vive de política” e que, além da ocupação de vereadora, é agricultora, dona de casa e mãe. “Nós somos agricultores há 41 anos, cultivamos soja, milho, gergelim, temos gado e, ao longo dos anos, fomos adquirindo imóveis”, afirmou.
“De repente as pessoas podem achar que estou na vida pública e fazendo coisas erradas. Meu perfil não é esse. O que eu tenho é (fruto) do meu trabalho”, disse Iva, que acrescentou que “quem cresce financeiramente na política, não é pelo (jeito) correto”.
8º – Dênis Luiz Lunelli (PL): R$ 285.208.390,00
O administrador Dênis Lunelli concorre como vice-prefeito de Guaramirim, município do norte catarinense. Em sua primeira eleição, o candidato do PL, em chapa puro-sangue, declarou ao TSE R$ 285,2 milhões em bens. Lunelli, que empreende no setor têxtil, afirmou que ingressou na política com intuito de “melhorar a situação do município onde se localiza a matriz da empresa”.
Entre os 39 bens declarados, a maior parte está em participações societárias, com R$ 168,8 milhões. Outros ativos financeiros somam R$ 82,7 milhões, enquanto 26 terrenos foram declarados por R$ 29,1 milhões. O candidato também disse ter duas pequenas aeronaves, que juntas foram declaradas por R$ 336,8 mil.
Procurado pelo Estadão, o candidato afirmou que é preciso ter “transparência na vida privada, para ter transparência na vida pública”. “Seria muito importante se no Brasil as pessoas votassem em candidatos que não precisam viver da máquina pública, e sim o fizessem por um motivo altruísta.”
7º – Sandro da Mabel Antônio Scodro (União): R$ 313.405.896,00
Candidato a prefeito de Goiânia (GO), Sandro Mabel (União) declarou R$ 313,4 milhões em patrimônio. O candidato diz possuir 29 terrenos, que totalizam R$ 15,9 milhões, mais de R$ 8,8 milhões em oito apartamentos, participações societárias, depósitos bancários, duas casas, veículos, joia e outros bens.
Antes de tentar a prefeitura da capital goiana, Mabel exerceu quatro mandatos na Câmara dos Deputados. Entre 1995 e 1999 pelo PMDB, entre 2003 e 2007 pelo PFL, entre 2007 e 2011 pelo PL e entre 2011 e 2015 pelo PR.
Nas últimas eleições em que concorreu, em 2010, o então deputado declarou R$ 70,9 milhões. Por meio de sua assessoria de imprensa, o candidato disse que começou a trabalhar com 13 anos na fábrica da família, no interior de São Paulo, que cresceu e foi vendida em 2011. Segundo ele, a comercialização da empresa “se refletiu na declaração de nosso imposto de renda, com o ganho de capital, do ano seguinte”.
“Continuamos também a investir em outros negócios, que já pertenciam à família, e novos nas áreas do agronegócio e imobiliário, por exemplo. Aprendi muito cedo a dar valor ao trabalho e à gestão e estar cercado de pessoas competentes e engajadas”, disse, em nota.
6º – Gilson Lari Trennepohl (PL): R$ 323.854.778,00
Atual vice-prefeito de Não-Me-Toque (RS), município de quase 18 mil habitantes no norte gaúcho, Gilson Trennepohl (PL) informou ser dono de um patrimônio de R$ 323,8 milhões. Entre os 50 bens declarados, os maiores valores figuram em quotas de empresas, totalizando R$ 174,4 milhões.
Tentando a reeleição ao mesmo cargo, Trennepohl declarou quase metade do que tem agora nas eleições de 2020, quando concorreu pelo DEM, totalizando R$ 163 milhões. O empresário também possui ativos financeiros, como produtos de investimento e crédito decorrente de empréstimos, além de R$ 3 milhões em terrenos, R$ 2,6 milhões em veículos, incluindo um caminhão-trator, apartamentos e outros imóveis.
Procurada pelo Estadão, a assessoria jurídica do partido do candidato informou que ele não vai comentar sobre a declaração de bens.
5º – João Carlos Ribeiro (PSB): R$ 388.739.199,00
Vice-prefeito em chapa em Pontal do Paraná, no litoral paranaense, João Carlos Ribeiro (PSB) declarou ao TSE um patrimônio de R$ 388,7 milhões. A maior parte, R$ 305 milhões, é referente a ações da holding JCR. O candidato também tem outras participações em empresas, além de cinco apartamentos, um helicóptero, terrenos, obras de arte e embarcações e jet-skis.
Nas eleições municipais de 2020, o candidato tentou concorrer ao cargo de prefeito pelo PSC, mas foi declarado inapto pela Justiça Eleitoral. Na ocasião, ele declarou R$ 1,55 bilhão em bens, quase quatro vezes mais que agora.
Procurada pelo Estadão, a campanha do candidato não quis fazer comentários sobre a presença dele na lista.
4º – Mauro Cristianini (PP): R$ 530.300.419,00
Tentando a reeleição no cargo de vice-prefeito de Maracaju, no Mato Grosso do Sul, Maurão (PP) informou no registro de candidatura possuir R$ 530,3 milhões em bens. O comerciante, como declarou ser sua ocupação ao TSE, possui fazendas, chácaras e terrenos, totalizando R$ 310,7 milhões, além de R$ 132 milhões em quotas de empresas, aplicações, produtos financeiros, duas casas e uma embarcação, entre outros.
Em 2020, o patrimônio declarado foi de R$ 81,6 milhões – 6,5 vezes menor do que o atual. Procurada pelo Estadão, a campanha do candidato afirmou que a evolução patrimonial do produtor rural, pecuarista e empresário rural é decorrente da venda de uma empresa para uma multinacional, valor incorporado ao patrimônio, e que ele atua há cerca de 30 anos no setor. “Ele se desfez da sua empresa, incorporando a venda no patrimônio pessoa física, por isso a evolução foi tão grande”, disse a assessoria do candidato, afirmando que tudo foi declarado ao Fisco.
“A função pública de qualquer cargo eletivo, não é encarada como profissão, e sim uma contribuição ao município, através da sua experiência vitoriosa de vida”, disse a campanha, em nota.
3º – Jonas Afonso de Moraes (Podemos): R$ 617.900.000,00
O empresário, de 59, anos informou ao TSE ter quotas em cinco empresas, no valor de R$ 617,9 milhões. Não há outros bens declarados, como imóveis e veículos, além das empresas. O candidato a vereador em Mogi das Cruzes (SP) já passou pelo PRP e pelo PSC, antes de se filiar ao Podemos, sigla com que chega ao pleito de 2024. Ele se elegeu vereador suplente em Itaquaquecetuba (SP) em 2004, 2008 e 2012.
Ao Estadão, o candidato disse que as cinco empresas que declarou são do ramo imobiliário e foram adquiridas recentemente, por isso não foram declaradas em 2016, quando disputou como vice-prefeito de Itaquaquecetuba pelo PSC, e a chapa não foi eleita. Naquele ano, o patrimônio declarado foi de R$ 598,8 mil – entre veículos, uma casa e quotas de capital de empresas.
2º – Cleri Camilotti (PDT): R$ 1.542.273.920,00
Um dos dois bilionários da lista é o candidato a prefeito de Dois Irmãos (RS), a 60 quilômetros da capital Porto Alegre, Cleri Camilotti (PDT). O empresário declarou mais de R$ 1,5 bilhão em bens à Justiça Eleitoral. O item de maior valor são quotas na empresa do setor energético RGSC Ambiental, que correspondem a 99,3% do patrimônio do candidato. Segundo dados públicos sobre a companhia, o capital social dela é de mais de R$ 4 bilhões.
O candidato também declarou outras quotas em empresas, um prédio comercial de R$ 2,5 milhões, um apartamento de R$ 155,9 mil, entre outros bens.
Camilotti já foi prefeito do município antes, eleito em 2008 pelo PTB, e reeleito em 2012 pelo mesmo partido. Na primeira eleição, há 16 anos, o candidato declarou R$ 270,4 mil. No pleito seguinte, o valor do patrimônio informado à Justiça Eleitoral foi três vezes maior, de R$ 846,7 mil. Procurada pelo Estadão, a campanha do candidato não quis comentar sobre o patrimônio.
1º – João Henrique Pinheiro (PRTB): R$ 2.851.300.000,00
Postulante ao cargo de prefeito de Marília, João Pinheiro (PRTB), de 39 anos, é o mais rico entre todos os candidatos das eleições municipais de 2024. Empresário que estreia na política, ele declarou ter um patrimônio de R$ 2,85 bilhões relacionados a uma empresa de exportação de produtos agropecuários.
O candidato informou ter 95% das participações da empresa Sugar Brazil, que comercializa derivados de açúcar. Ele também disse ter R$ 1 milhão das quotas de capital da empresa Das Marias Agropecuária. Outro bem declarado ao TSE foi R$ 300 mil de caderneta de poupança da Caixa Econômica Federal.
Ao Estadão, Pinheiro disse ser dono de oito aviões, sendo cinco jatos e três bimotores. Ele também afirmou que possui três helicópteros e 12 carros. Nenhum desses bens foi declarado ao TSE. Pinheiro explicou que não o fez porque fica pouco tempo com os veículos, já que costuma trocá-los ao longo do ano. “São ativos e, geralmente, faço muitas permutas em negócios”, afirmou.