Quem são e o que pretendem os candidatos à presidência do Corinthians

Corinthians tem contas bloqueadas após ação de empresário na Justiça Federal
Escudo do Corinthians Foto: Reprodução/Instagram

Os conselheiros do Corinthians decidem nesta segunda-feira quem será o presidente do clube até o fim de 2026, em mandato-tampão para substituir o destituído Augusto Melo. Favorito a vencer o pleito, o atual presidente interino Osmar Stábile disputa o cargo com o vitalício Roque Citadini, figura conhecida da política corintiana, e André Castro, nome de pouca articulação interna que ganhou evidência ao prometer um aporte de US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões) ao clube caso seja eleito.

A nova eleição alvinegra não segue o rito tradicional com participação de todos os associados adimplentes. Desta vez, apenas os atuais membros do Conselho Deliberativo, eleitos para mandato trienal em 2023, e vitalícios podem participar, que resulta em um colégio eleitoral de cerca de 300 membros. Para se candidatar, é preciso ser vitalício ou estar no segundo mandato no Conselho.

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Osmar Stábile tem força nos bastidores e conseguiu disseminar o discurso de que a melhor solução para recuperar o Corinthians financeira e esportivamente é a continuidade do trabalho iniciado em maio, quando Melo foi afastado pelo Conselho Deliberativo.

Empresário do ramo da indústria metalúrgica, foi eleito primeiro vice-presidente na chapa de Augusto Melo, mas rompeu com ele. Ao assumir o comando interino, disse que o ex-aliado se isolou e limitou a participação dos vices na gestão.

Stábile reúne apoio relevante de conselheiros vitalícios com muita influência no clube, caso de Fran Papaiordanou, Paulo Garcia, Antonio Rachid e Miguel Marques.

Desde que o impeachment de Melo – réu por associação criminosa, lavagem de dinheiro e furto qualificado – foi referendado no dia 9 de agosto, o presidente interino preferiu a discrição e trabalhar apenas nos bastidores, enquanto seus adversários foram à imprensa. No entendimento dele e de seu círculo mais próximo, a comunicação sobre o que ele planeja para o mandato-tampão está implícita na forma como vem administrando o clube ao longo dos últimos dois meses.

“Estamos organizando o clube de baixo para cima, com método e disciplina. O Corinthians é uma caixa d’água com vários furos, e estamos tampando esses furos. Precisamos de tempo. Não existe salvador da pátria. Precisamos de ajuda. Vamos cortar na carne. Mudanças terão que ser feitas. Não dá mais para errar”, disse em coletiva de imprensa no dia 28 de julho, duas semanas antes da destituição de Melo.

Na mesma entrevista, falou sobre questões administrativas e financeiras de grande importância para o clube, como o contrato de Memphis Depay. Além dos vencimentos fixos, o atacante holandês tem R$ 11 milhões em bônus a receber por metas alcançadas, e o prazo para pagamento venceu no dia 20 de agosto. Por isso, a diretoria teve de negociar com o estafe do jogador.

Rever o contrato está fora de cogitação, como deixou claro o próprio Stabile. “O Corinthians não estuda, não tratou desse assunto até o momento. Se vazaram informações, elas não são verdadeiras. Tudo o que foi conversado com o atleta é que o contrato será mantido. Ele cumpriu a parte dele, o Corinthians cumpriu a sua, e ponto”, disse Stabile.

Em seus esforços, o interino negocia um adiantamento na casa dos R$ 60 milhões em direitos de transmissão junto à Liga Forte União (LFU). Os problemas de fluxo de caixa impediram que ele conseguisse evitar o “transfer ban” imposto pela Fifa por causa dos R$ 33 milhões devidos ao Santos Laguna, do México, e referentes à compra do zagueiro Félix Torres.

Desde o dia 12 de agosto, o Corinthians está impedido de registrar reforços. Um dia antes, o atacante Vitinho, única contratação de Stábile e segunda do clube no ano, foi registrado.

ANDRÉ CASTRO E O FUNDO DE US$ 1 BILHÃO

Sócio desde 1996, André Castro tomou conta do noticiário corintiano antes das eleições desta segunda. Mesmo sem a data do pleito definida, o nome do assessor da Alta Vista Investimentos – que é ligada à XP Investimentos – ganhou holofotes em meio à uma proposta ousada: um fundo de até US$ 1 bilhão (R$ 5,5 bilhões) que seria utilizado para sanar as dívidas do clube e promover investimentos.

Este é o principal chamariz de André Castro, que tem a presidência do Parque São Jorge como um “sonho de infância”, como afirmou ao Estadão nesta semana. Na quinta-feira, o empresário revelou que o GSP Banco de Fomento Mercantil Ltda. seria o responsável pelo aporte bilionário. Ele também apresentou uma carta declaratória da empresa, que estaria ciente e interessada em iniciar a parceria com o Corinthians em caso de vitória do presidenciável nas eleições desta segunda.

De acordo com Castro, as conversas começaram ainda em 2025 e a ideia era se candidatar com essa carta na manga em 2026, mas a destituição de Augusto acelerou o processo. “No princípio, a conversa era até de empréstimo para o clube, o que se transformou no uso de marcas dentro do clube”, diz.

A ideia do empresário é que, com esse aporte, seja possível também quitar as dívidas da Neo Química Arena. O banco que promete US$ 1 bilhão pagaria a multa e passaria a dar nome a casa corintiana. Também seriam negociados direitos do nome do CT Joaquim Grava.

A dívida referente ao estádio está na casa dos R$ 700 milhões e foi reduzida em cerca de R$ 40 milhões após iniciativa de doações liderada pelos Gaviões da Fiel, torcida organizada do clube. “Eu tenho até contato com um ex-presidente da Caixa, o qual eu não posso revelar o nome ainda, mas que ele já buscou informações internas. A gente acredita que em torno de 400 milhões a gente consegue quitar o financiamento”, afirma Castro.

Castro também se mostra contra uma Sociedade Anônima do Futebol (SAF) no Corinthians. Para ele, o ideal é que o presidente tome conta tanto do futebol quanto do clube social. “O Corinthians teria de abrir mão do seu patrimônio histórico, da cultura. A gente tem muita força, muita capacidade, haja vista esse parceiro.”

A ideia do candidato é levada, inicialmente, com receio pelos conselheiros. Até apresentar a carta de interesse do GSP, era visto como um “azarão” na corrida. Ele aposta nos membros independentes e em uma parcela dos vitalícios para manter vivo o sonho de presidir o clube a partir deste ano. Vale ressaltar que, até o último ano, o conselheiro integrava a Chapa 22, que apoiou a candidatura de André Negão, da Renovação e Transparência, no último pleito.

CITADINI SE APOSENTA DO TCE E REAPARECE NO CORINTHIANS

Até agosto, Roque Citadini não tinha ambições quanto à eleição do Corinthians. Vice-presidente no início do século, o candidato concorreu diversas vezes ao pleito, mas nunca ascendeu à cadeira. Na maioria das vezes, foi barrado pela Renovação e Transparência, de Duílio Monteiro Alves, André Sanchez e Roberto de Andrade.

Neste ano, o cenário muda. Contrário às ideias de Augusto Melo, conquistou o apoio do grupo, então liderado por Andrés e que não lançou um candidato da chapa para este pleito. Além disso, depois de se aposentar de forma compulsória do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), onde exercia o cargo de presidente, tem o caminho livre para as eleições.

Ao Estadão, Citadini conta que tinha uma viagem planejada para a Croácia, mas voltou atrás em meio à possibilidade de concorrer ao pleito. Ele classifica a situação do clube como “insustentável”, “dramática” e “perto de um fim trágico”. Sobre Stábile, favorito nesta segunda, é categórico: “Se as ações irão falar por ele, nada será dito”. Isto porque o presidente interino foi o único do pleito que não atendeu a imprensa ao longo desta semana.

Citadini se coloca como um candidato conservador. Assim como André Castro, rejeita os modelos de SAF para o clube. Além disso, defende que, a partir das próximas eleições, membros do Fiel Torcedor possam votar à cadeira do Parque São Jorge – que, até o momento, é restrita aos sócios do clube. Também afirma que, em caso de derrota, não retornará à uma vida política ativa no Corinthians como conselheiro vitalício.