É normal o fato de todos nós termos os nossos segredos, algo que talvez nos envergonhe, e por isso mesmo preferimos deixá-los bem guardados ao invés de sair por aí contando pra todo mundo. Lembro de quando eu tirava notas baixas em física e matemática – sou de humanas desde sempre – e escondia o boletim dos meus pais por dias e dias. Não adiantava nada. Eles acabavam descobrindo e eu, que já sabia de cor o sermão, ficava envergonhado e me sentindo a pior das criaturas por tirar notas baixas e por esconder o boletim.

Aqui em Brasília, vergonha é um sentimento que muita gente parece ter deixado de lado faz tempo. Especialmente no Palácio do Planalto que, pasmem, acabou de decretar sigilo sobre os encontros entre o digníssimo presidente Jair Bolsonaro e aqueles seus amigos pastores lobistas, Gilmar Santos e Arilton Moura, suspeitos de perambularem livres, leves e soltos pelos corredores do Ministério da Educação atrás de propinas para a liberação de recursos para prefeituras de todo o País.

O que eu e todo mundo já está sabendo é que foi negada a uma equipe de reportagem a relação das entradas e saídas dos tais pastores lobistas no Palácio do Planalto, inclusive os registros que tiveram como destino o gabinete presidencial. O pedido havia sido solicitado via Lei de Acesso à Informação, já que nem todos os encontros do presidente Jair Bolsonaro são divulgados. Minha mãe já dizia: “quem não deve não teme”. Então, por que negaram?

A resposta quem deu foi o general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI). Sem meias palavras, e com o tom de autoridade peculiar aos militares, foi logo emitindo um parecer dizendo que a solicitação não poderia ser atendida porque a divulgação de tal informação colocaria em risco a vida do presidente da República e de seus familiares. Como assim, eu me pergunto, as visitas de dois pastores lobistas inofensivos, que carregam a palavra de Deus no coração, podem oferecer riscos à família de um presidente tão fiel a seus princípios cristãos?

Quem não deve não teme, general. Agora, o país quer saber não apenas quantas vezes os pastores lobistas se reuniram com seu amigo no Palácio do Planalto, como também quer saber que riscos são esses que a família Bolsonaro poderia correr, caso as informações vazassem. Alguém pode explicar?