Um helicóptero caiu em uma região montanhosa entre o Azerbaijão e o Irã no domingo, 19. Nele estava o presidente iraniano, Ebrahim Raisi.

Além do mandatário do Irã, o ministro das Relações Exteriores, Hossein Amirabdollahian, o governador provincial e o principal imã da região não sobreviveram ao acidente.

Raisi estava na fronteira com o Azerbaijão para inaugurar a represa Qiz-Qalaisi, um projeto conjunto. Ainda segundo a imprensa internacional, três helicópteros transportavam a delegação presidencial. Dois deles aterrissaram sem problemas em Tabriz, noroeste do Irã, menos o que levava Raisi.

Raisi era tido como potencial sucessor de líder supremo

Presidente desde 2021, Raisi, de 63 anos, era um político linha-dura e considerado um potencial sucessor de seu padrinho político, o líder supremo do país, aiatolá Ali Khamenei. Ele recebu sanções dos Estados Unidos por envolvimento em execuções em massa de milhares de prisioneiros políticos em 1988, ao fim da guerra entre Irã e Iraque.

Sob Raisi, o Irã passou a enriquecer urânio com fins militares e a impedir inspeções internacionais. O país é fornecedor militar da Rússia em sua guerra contra a Ucrânia e tem armado diversos grupos no Oriente Médio hostis a Israel, além de recentemente ter atacado Tel Aviv diretamente com mísseis e drones.

Sempre de turbante e veste religiosa preta, Raisi havia estado na província do Azerbaijão Ocidental pela manhã do domingo, 19, para inaugurar uma represa no rio Aras ao lado do presidente do Azerbaijão Ilham Aliyev.

As duas nações têm relações tensas – em parte devido ao fato de o Azerbaijão manter relações diplomáticas com Israel, inimigo ferrenho do Irã. Em 2023, a embaixada do Azerbaijão em Teerã foi atacada à mão armada.

A frota militar aérea do Irã é considerada defasada, e sanções internacionais dificultam a obtenção de peças para manutenção de helicópteros.

Político conservador

Raisi, que se apresentava como um defensor das classes menos favorecidas e da luta contra a corrupção, foi eleito em primeiro turno em 18 de junho de 2021, numa votação marcada por uma abstenção recorde e sem um rival de peso.

Ele sucedeu o moderado Hassan Rouhani, que o havia derrotado nas eleições presidenciais de 2017 e que, após dois mandatos consecutivos, não pôde concorrer novamente.

Raisi saiu fortalecido das legislativas de março, as primeiras eleições a nível nacional desde os protestos que eclodiram em 2022 após a morte de Mahsa Amini, uma jovem que havia sido detido por não respeitar o código de vestimenta da República Islâmica.

Após as eleições legislativas, o presidente iraniano expressou satisfação com o “novo fracasso histórico infligido aos inimigos do Irã após os distúrbios” de 2022.

A Constituição iraniana prevê que o primeiro vice-presidente, Mohammad Mokhber, o substitua até a organização de novas eleições em um prazo máximo de 50 dias.

O governo iraniano afirmou nesta segunda-feira que a morte de Raisi não provocará “nenhuma perturbação na administração” do país.

Adversário firme de Israel

Nos últimos meses, Raisi havia se posicionado como um adversário firme de Israel, apoiando o Hamas desde 7 de outubro, quando começou o conflito na Faixa de Gaza entre o Estado hebreu e o movimento islamita palestino.

No mês passado, o Irã lançou um ataque inédito a Israel, com 350 drones e mísseis, a maioria deles interceptados com a ajuda dos Estados Unidos e de outros países.

Raisi estava na lista americana de líderes iranianos sancionados por “cumplicidade em violações graves dos direitos humanos”, acusações que as autoridades de Teerã negam.

Nascido em novembro de 1960, na cidade sagrada de Mashad, Raisi foi nomeado procurador-geral de Karaj aos 20 anos de idade, após a vitória da Revolução Islâmica de 1979.

O presidente iraniano fez parte do sistema de justiça por mais de três décadas: foi procurador-geral de Teerã de 1989 a 1994 e chefe adjunto da Autoridade Judicial de 2004 a 2014, ano em que foi nomeado procurador-geral do país.

Em 2016, o líder supremo Ali Khamenei colocou Raisi à frente da poderosa fundação Astan Quds Razavi, que gerencia o santuário do Imã Reza em Mashad, além de um grande patrimônio industrial e imobiliário.

Pouco carismático, Raisi frequentou as aulas de religião e jurisprudência islâmica do aiatolá Khamenei. Casado com Jamileh Alamolhoda, professora de ciência da educação na Universidade Shahid-Beheshti, em Teerã, com quem teve duas filhas, Raisi era genro de Ahmad Alamolhoda, imã da oração e representante provincial do líder supremo em Mashad, segunda maior cidade do país.

Durante a campanha eleitoral de 2021, Raisi prometeu defender a liberdade de expressão e os “direitos fundamentais de todos os cidadãos iranianos”.

* Com informações da Reuters, AFP, Ansa e DW