O jovem Pietro Fittipaldi vai realizar o sonho de todo piloto de automóveis. Aos 24 anos, ele terá a oportunidade de disputar um grande prêmio de Fórmula 1, a mais importante categoria do automobilismo mundial. Ele será o 32º brasileiro na categoria, o último foi Felipe Massa, em 26 de novembro de 2017. E a volta acontece em grande estilo, o escolhido vem da dinastia Fittipaldi. Pietro é neto de Emerson Fittipaldi, o primeiro brasileiro a ganhar um campeonato de F1 em 1972, fato repetido em 1974 quando se sagrou bicampeão. Pietro falou, com exclusividade para a ISTOÉ, sobre a responsabilidade e o orgulho de defender o nome da família. “Sem dúvida é uma grande honra poder fazer parte de uma história que é recorde na F1: nunca uma família teve quatro pilotos competindo na maior categoria do mundo do esporte a motor”, disse Pietro.

MILAGRE O piloto franco-suíço Romain Grosjean bateu o carro que se partiu em dois e depois explodiu. Por 29 segundos Grosjean ficou dentro do carro em chamas. Ao final, ele saiu andando e teve apenas queimaduras nas mãos e nos cotovelos (Crédito:Hamad I Mohammed)

Reserva na Haas F1 Team, Pietro substituirá o piloto franco-suíço Romain Grosjean na próxima corrida que acontece em Bahrein – país no oriente médio –, no Grande Prêmio de Sakhir, dia 6. Grosjean foi o personagem principal, no último domingo, de um dos acidentes mais cinematográficos de toda a história da Fórmula 1. Seu carro foi partido ao meio e explodiu, mas milagrosamente o piloto saiu andando apenas com queimaduras nas mãos e cotovelos. O brasileiro lamentou o acidente ocorrido: “Não é a melhor circunstância, mas o importante é que o Romain está bem. Vou fazer o meu melhor possível no primeiro final de semana de F1”, afirmou. O piloto lembrou da gravidade do acidente e disse que todos pensaram que as consequên–cias poderiam ter sido maiores.

Pietro é filho de Gugu da Cruz e Juliana Fittipaldi, filha de Emerson. Uma coincidência na carreira de Pietro e seu avô foi lembrada pelo pai. Gugu da Cruz disse que a estreia de Emerson aconteceu há 50 anos e em circunstâncias semelhantes. “Ele substituiu o seu colega que também havia sofrido um acidente”, disse o genro do campeão da F1. Outra coincidência é o apelido que Pietro e seu irmão Enzo, também piloto, têm: Fittipaldi Brothers. Essa é a mesma forma que o avô Emerson e o tio-avô Wilson eram chamados. Gugu disse que aguarda apoio para que Pietro possa ser o piloto principal. “Não vamos voltar a ter um brasileiro no grid da Fórmula 1 se não tiver apoio das empresas brasileiras”, lamentou o pai de Pietro. Por sua vez, o piloto falou que o “foco é esse final de semana”.

Um Fittipaldi parece que pilota antes de andar. Aos quatro anos ele já se divertia com o esporte junto aos tios Christian e Max Papis. Prodígio, Pietro ganhou seu primeiro campeonato da Nascar nos EUA aos 14 anos. Logo em seguida ele se mudou para a Europa e pilotou em muitas categorias: World Series, F3, Indy, Mundial de Endurance, turismo alemão e Super Fórmula Japonesa. No entanto, em 4 de maio de 2018, o jovem piloto fraturou as duas pernas, no circuito de Spa-Francorchamps, na Bélgica. A sua garra para voltar a dirigir foi tamanha que o chefe da Haas, Guenther Steiner, acompanhou a recuperação de Pietro e apostou no talento do brasileiro, em 2019.

A dinastia Fittipaldi é marcante no automobilismo. O radialista e piloto Wilson Fittipaldi iniciou a história. Depois vieram seus filhos, Wilson Júnior e o bicampeão Emerson. A terceira geração na F1 teve o piloto Christian. E, atualmente, há Pietro e seu irmão Enzo que, com 19 anos, está na Academia Ferrari e pode chegar logo à F1. Mas essa história de dinastias não é restrita aos Fittipaldi. No Brasil, o tricampeão Nelson Piquet deixou o bastão para o filho Nelsinho. E outro tricampeão, Ayrton Senna, foi representado pelo sobrinho Bruno. Por ser um esporte milionário, a.tendência é que a passagem do bastão exija muito dinheiro e envolvimento. Os grandes campeões começam ainda crianças a correr. Viajam pelo planeta disputando campeonatos e a compreensão de um pai piloto parece facilitar a formação de um campeão. Por isso, as famílias Brabham, Andretti, Villeneuve, Nakajima, Winklhouck, Magnussen, Verstappen, Hill, Rosberg conseguiram emplacar pais e filhos na F1. A família Schumacher, que já teve os irmãos Ralf e o heptacampeão Michael, agora também tem Mick, filho de Michael, como piloto de testes da Haas. Alheios às dinastias, o povo está ansioso para ver um conterrâneo nas pistas. O Brasil está em terceiro lugar (8) em número de títulos da F1, atrás de Reino Unido (19) e Alemanha (12). Pietro vai defender a tradição na categoria diante de um público apaixonado pelo esporte. E é bom lembrar que o domingo com piloto brasileiro é sempre mais emocionante.

FABIO MOTTA/AGENCIA ESTADO/AE; PAULO GIANDALIA/AE; JOSE PATRICIO/AE; Brian Cleary/Getty Images/AFP; Marc de Mattia/DPPI; Audi media center/divulgação