Spencer Tunick documenta a figura nua em público, com fotografia e vídeo, desde 1992. Ele começou seu trabalho sem saber muito bem para onde caminharia e hoje tem uma carreira internacional de sucesso, como o fotógrafo com mais registros de nu do mundo. As multidões que concordam em se despir pela arte não enfatizam a sexualidade. Pelo contrário. Elas se tornam abstrações que desafiam ou reconfiguram as visões de nudez e de privacidade.

Com Tunick, o nu em grande escala chama a atenção não para o corpo, mas para as causas que ele defende. Criou importantes instalações para amplificar a conscientização sobre o câncer, HIV/AIDS, direitos LGBTQ, igualdade e mudanças climáticas. Por muitos anos, ninguém comentava sobre Spencer Tunick. Ele era praticamente invisível e costumava fazer seus trabalhos tão cedo que quase ninguém ficava sabendo da multidão de corpos nus. Com a rede social, esse anonimato acabou, assim como a tranquilidade dos locais usados para as fotos.

Agora, na Austrália, cerca de 2.500 pessoas concordaram em participar de uma nova instalação na icônica praia de Bondi, em Sydney, na Austrália. O objetivo era criar um movimento artístico para aumentar a conscientização mundial sobre os cuidados de prevenção do câncer de pele. O projeto fez parte da Semana Nacional de Ação contra o Câncer de Pele, que pode ser tratável ​​se for diagnosticado precocemente. A ideia era lembrar as pessoas sobre os cuidados, a prevenção e a importância de se fazer exames de saúde rotineiros. Na Austrália, duas em cada três pessoas são diagnosticadas com a doença quando chegam aos 70 anos. Por isso, faz todo o sentido a hashtag #GETASKINCHECK.

Quem acompanhou a montagem diz que todos se comportaram da melhor maneira possível, sem nenhuma ocorrência indesejada. Não existia clima sensual ou de erotismo. Notava-se um relaxamento geral e a sensação de camaradagem bem diferente do que acompanhamos em nossas vidas, com a Internet e a TV explorando amplamente corpos, inclusive para aumentar o apelo de propaganda de produtos de consumo.

Certa vez, parei para contar quantos trabalhos ele tinha. Me perdi na contagem. Até 2002, as pessoas participavam de seus trabalhos deitadas, mas depois deste ano elas começaram a variar, pedindo para os participantes ficarem de pé e chegou até a incluir alguns casos pintura corporal. Outro hábito recente que passou a adotar antes de terminar as sessões de foto, é a separação de alguns integrantes em grupos menores para fazer montagens adicionais, agrupando por sexo, por idade, ou mesmo por cor de cabelo.

Apesar das fotos e vídeos adicionais, o artista destaca que jamais alguém é excluído de uma instalação por causa da cor de sua pele, etnia, identidade de gênero, sexo, raça, religião ou afiliação política. A única limitação para participar de seu trabalho é a limitação de espaço, uma vez que cada vez mais pessoas desejam fazer parte de suas instalações. As milhares de pessoas que participam das fotos, recebem em troca uma edição limitada impressa. É bem engraçado ler os comentários dos integrantes nas redes sociais após a sessão de fotos. Entre os comentários mais comuns, estão: “eu deveria estar mais magra, esqueci de passar o creme que disfarça a celulite, deveria ter me barbeado, minha depilação não estava em dia”. Porém, a mensagem que reina do set de produção é que a felicidade está, de certa forma, em aceitar o próprio corpo exatamente como ele é.

Tunick é o principal nome mundial de registros artísticos de multidões nuas em pontos turísticos em todo o mundo. Costumo dizer que ele consegue fazer uma verdadeira mágica para viabilizar seu trabalho. Até em locais conservadores, como México e Rússia, ele fotografou. Talvez o segredo seja a seriedade de sua obra e o entendimento de instituições de arte e de políticos de que ele simplesmente está defendendo uma causa com seu trabalho que pessoas peladas não necessariamente precisam estar associadas a sexo.

Porém, por ironia do destino, foi justamente em Nova York, local onde ele nasceu, que existem as maiores batalhas jurídicas para defender a liberdade de expressão artística. Foi nessa cidade que ele descobriu e desenvolveu seu conceito artístico, ganhando reconhecimento mundial. É também lá que a briga se estende nos tribunais, mostrando como são instáveis ​​e arbitrárias as regras que regem o espaço público. Além disso, na maioria das vezes, as autoridades não entendem o que é arte, taxando o trabalho com fotos nuas como um ato violento e criminoso.

Sua trajetória começou em 1992, quando fez a primeira foto de um homem nu em frente ao Independence Hall, na Filadélfia (EUA). Ele foi preso várias vezes sob acusações que incluem exposição e reunião ilegal de pessoas. Em 1999, ele processou a cidade de Nova York em um tribunal federal, buscando, entre outras coisas, uma liminar para impedir as prisões. Advogados estão tendo dificuldade para calcular os valores e a Imprensa estima que custos de indenização e honorários advocatícios já estão na casa dos seis dígitos.

Suas instalações fotográficas já foram encomendadas pela XXV Bienal de São Paulo (2002); Instituto Cultura de Barcelona (2003); Galeria Saatchi (2003); MOCA Cleveland (2004); Vienna Kunsthalle (2008) e MAMBO Museu de Arte de Bogotá (2016), entre outros. Muitas cidades foram palco de suas fotos e vídeos. Outras tantas receberam suas exposições. A lista é realmente enorme incluindo países como, por exemplo, Holanda, Dinamarca, Londres, Inglaterra, Austrália, Colômbia, Bélgica, Chile, Canadá, Portugal, Israel, Alemanha, França, Irlanda, Suíça, México e Estados Unidos.

A boa notícia para quem ficou interessado no trabalho de Spencer Tunick. Suas fotos não são caras (cerca de 1 mil dólares) e é possível adquirir uma cópia em diversas galerias online que vendem internacionalmente, inclusive no Brasil. Ele acaba ganhando pelo alto volume de reproduções, pelos patrocínios, pelas exposições e pelas encomendas que recebe. Se desejar saber mais sobre um artista ou se tiver uma boa história sobre arte para me contar, aguardo contato pelo Instagram Keka Consiglio, Facebook ou Twitter.