Dois dos episódios políticos mais turbulentos do Brasil nos últimos anos não envolvem apenas o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), mas também o delegado Rodrigo Morais, de 51 anos. Ele é o responsável pela investigação da recente tentativa de golpe de Estado articulada por bolsonaristas e aliados, além de ter conduzido a apuração da facada que Bolsonaro sofreu durante a campanha de 2018.

Atualmente, Morais é chefe da Diretoria de Inteligência (DIP), um dos principais setores da Polícia Federal. A divisão é encarregada de gerenciar as operações de inteligência do país, o que inclui investigações sobre a trama golpista planejada após o resultado eleitoral de 2022 – quando Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito por vias democráticas.

A inspeção do caso, chamada de “Operação Contragolpe”, é um aprofundamento de outra investigação aberta em fevereiro, chamada de “Tempus Veritatis”, que já averiguava a conspiração política contra o Estado democrático de direito. Na última quinta-feira, 21, a PF finalizou o inquérito da apuração e indiciou 37 pessoas, incluindo o próprio Jair Bolsonaro.

As violações identificadas pela polícia, liderada por Rodrigo Morais, contemplam:

  • Tentativa de golpe de estado e abolição violenta do Estado democrático
  • Agressão às instituições judiciárias (STF e TSE, por exemplo) e ao processo eleitoral
  • Ataque ao sistema de urnas eletrônicas
  • Organização criminosa e planejamento da prisão e assassinato de autoridades públicas
  • Ataque ao uso de vacinas e às medidas sanitárias relativas à Covid-19
  • Uso da força do Estado para benefício próprio, com o uso de cartões institucionais, falsificação de comprovantes vacinais e negociação para posse pessoal de joias destinadas ao patrimônio do país

De acordo com colegas de profissão, o delegado Morais é considerado uma pessoa discreta, além de muito técnico e inteligente. Ele mostra uma postura de liderança dentro da equipe e conduz as decisões profissionais de maneira “cirúrgica”.

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Inquérito da facada

Ainda em 2018, quando as eleições presidenciais estavam no período de campanha, o então candidato Jair Bolsonaro sofreu uma facada enquanto fazia um comício em Juiz de Fora (MG).

Na época, Rodrigo Morais era responsável pela delegacia regional de combate ao Crime Organizado em Minas Gerais e ficou encarregado de cuidar da investigação referente ao atentado. A polícia federal, então, concluiu que o autor do crime, Adélio Bispo de Oliveira, cometeu o ato sozinho, sem participação de terceiros criminosos ou mandantes.

A averiguação avançou até os anos de governo Bolsonaro e, em 2020, Morais chegou a fazer uma visita ao Palácio da Planalto para apresentar o resultado do inquérito da facada. A conclusão, porém – que confirmou a autoria individual de Adélio – não agradou Bolsonaro e seus aliados, que tinham convicção de que o caso envolvia uma conspiração maior.

Devido à tal insatisfação por parte do âmbito político bolsonarista, o delegado Morais tornou-se alvo de ataques e fake news. Nas redes sociais, internautas utilizaram conteúdos de um vereador com o mesmo nome de Rodrigo Morais, aproveitando a coincidência para espalhar desinformação e alegar que o investigador estaria contra Bolsonaro. Agências de checagem chegaram a desmentir as postagens na ocasião.

Após o acontecido, Morais abriu ações contra influenciadores e políticos bolsonaristas por danos morais. O policial diz que sua vida pessoal foi afetada pela divulgação de informações enganosas – que o associavam ao Partido dos Trabalhadores, legenda do presidente Lula, e acusavam abuso de poder na conduta policial. Segundo o delegado, as mentiras geraram comentários no ambiente de trabalho, com ameaças e constrangimentos. O processo finalizou a favor de Morais, que recebeu um pagamento de indenização.

Rodrigo Morais passou a maior parte da sua carreira em Minas Gerais, mas, no fim de 2021, foi designado para atuar fora do país. Assim, em fevereiro de 2022, ele preencheu o cargo de oficial de ligação da polícia federal em Nova York. O delegado ficaria no posto até 2023, porém foi nomeado como chefe do DPI antes do fim de sua campanha.

Em breve, Morais irá deixar o cargo no DPI para atuar como adido da PF em Londres. Isso significa que o delegado irá exercer a função de representante da polícia federal na embaixada brasileira que está fixada na capital inglesa.