 "Reprodução/YouTube")
O influenciador Thiago da Cruz Schultz, popularmente apelidado de “Calvo do Campari”, ganhou fama na internet por criar conteúdos em que dita como acha que homens e mulheres deveriam se comportar. Na manhã de sábado, 29, ele foi preso em flagrante com acusações de violência doméstica e lesão corporal contra a ex-namorada, Laís Angeli Gamarra.
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O apelido de Calvo do Campari decorre justamente de um de seus vídeos. Em 2023, viralizou um trecho de podcast em que Thiago da Cruz Schultz contava como uma namorada perguntou se ele beberia cerveja com ela. O influenciador recusou-se por estar bebendo Campari. No vídeo, ele afirma que a mulher estava tentando “moldá-lo”.
“É como se fosse um teste. Deixa eu ver como esse cara segura a opinião dele”, diz Schultz sobre ter recusado a cerveja para tomar Campari. “Ser autêntico é muito importante para o homem. Eu trago alguma coisa no livro também sobre isso, o cara ser autêntico, fica mais original e fica mais masculino.”
O livro em questão é um dos cinco títulos lançados por Schultz em que ele apresenta suas ideias, retiradas do movimento online “red pill”.
Misoginia e o movimento red pill
Para além de ser ridicularizado por acreditar que sua recusa na história da cerveja seria uma demonstração de autenticidade, Thiago Schultz foi duramente criticado por ser assumidamente alinhado ao movimento “red pill”.
Surgida em fóruns de internet, a ideologia red pill alega que a sociedade contemporânea deturpou os papéis de gênero de forma a passar a privilegiar as mulheres, e que a solução estaria na adoção de uma masculinidade marcada por uma hierarquia em relação ao gênero feminino.
Na visão dos red pill, todas as mulheres são interesseiras e manipuladoras, e um homem precisa obter bens financeiros e uma boa aparência para conseguir conquistar “as melhores”. A eles caberia também selecionar uma mulher adequada, que deve ter características como submissão, juventude e pouca experiência sexual.
Schultz soma cerca de 590 mil seguidores nas redes sociais, vende cursos, responde perguntas de seguidores e compartilha trechos de podcasts em que participa, com chamadas como “ninguém tolera homem chorão”, “não dê flores para ela” e “o que é uma mulher de valor”.
O nome “red pill” quer dizer “pílula vermelha” e surgiu a partir da série de filmes Matrix, em que o jovem programador Thomas Anderson ingere uma pílula vermelha e consegue então ver o mundo como ele realmente é. Curiosamente, os filmes foram dirigidos pelas irmãs gêmeas Lilly e Lana Wachowski, ambas mulheres trans fortemente críticas do conservadorismo em papéis de gênero.
Calvo do Campari agrediu namorada ao menos 11 vezes
Segundo boletim de ocorrência registrado no sábado, a briga entre Thiago Schultz e Laís Angeli Gamarra iniciou após a namorada recusar-se a fazer sexo. . Em um vídeo gravado por ela, a mulher arruma as malas enquanto chora. A imagem mostra apenas a bolsa, porém é possível ouvir ao fundo a discussão. Em certo momento, o celular cai e ela grita o nome de Thiago. Uma voz masculina xinga com palavrões e diz “para mim você não nega”.
Laís Angeli Gamarra correu então para a rua, onde teve a sorte de encontrar uma viatura da polícia militar. Thiago Schultz seguia a garota, e acabou preso em flagrante por lesão corporal e violência doméstica. Ele negou as acusações, afirmando que apenas teria chutado a mulher para fora da cama após ter seu rosto arranhado por ela.
Imagens compartilhadas pela vítima mostram hematomas em seu corpo. Segundo exame do Instituto Médico Legal (IML), a vítima tinha múltiplas lesões nos braços, mãos, na cervical e nas pernas, ocasionadas por pelo menos onze agressões.
Em nota, o advogado Guilherme Wiltshire afirma que “a defesa de Thiago Schutz informa que ele está colaborando integralmente com a Justiça e respeitará todas as determinações legais. Por orientação jurídica, não comentará o caso até a conclusão das investigações”.
Thiago Schultz recebeu a liberdade provisória ainda no sábado, porém está impedido de se aproximar da ex-namorada e dos familiares dela. Também não pode se ausentar da comarca de Salto por mais de dez dias, nem ir a bares e casas noturnas, ou poderá ser preso novamente.
A advogada Nayara Thibes, representante da vítima, condenou os atos do acusado em nota. “Trata-se de uma conduta repugnante, covarde e absolutamente intolerável sob qualquer perspectiva jurídica, ética ou humana”, diz.