Quem é Marina Lacerda, brasileira que relatou ter sido abusada por Epstein

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Marina Lacerda, brasileira que relatou ter sido abusada pelo empresário Jeffrey Epstein Foto: Reprodução/YouTube/ABC News

A brasileira Marina Lacerda, de 37 anos, uma das vítimas de Jeffrey Epstein, decidiu contar sua história pela primeira vez publicamente em uma entrevista à “ABC News”. Na quarta-feira, 3, ela e outras mulheres abusadas pelo americano participaram de uma coletiva de imprensa em frente ao Capitólio pedindo que o Congresso dos EUA libere todos os documentos das investigações contra o empresário ao público.

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Marina contou que os abusos começaram em 2002, quando ela tinha 14 anos, após receber a proposta de fazer uma massagem em Epstein em troca de 300 dólares. Na acusação feita contra o empresário em 2019, a brasileira aparecia identificada como “vítima menor 1”, que providenciou informações importantes para a prisão do americano.

A brasileira explicou que foi para os EUA aos nove anos de idade viver com a mãe e foi abusada sexualmente pelo padrasto no país. Após uma denúncia às autoridades, o homem foi preso e Marina precisou viver com a mãe e a irmã em um quarto dividido no Queens, em Nova York.

Aos 14 anos, uma amiga ofereceu a Marina uma oportunidade de ganhar 300 dólares em troca de uma massagem em Epstein. A brasileira, que trabalhava em três empregos, aceitou em uma tentativa de ajudar a família financeiramente. “Ela tinha dito que, sabe, eu ia massagear alguém, e não havia muitos detalhes”, contou.

A mulher relatou que durante os três anos seguintes, trabalhou para o empresário e foi forçada a ter relações sexuais com Epstein, acreditando que isso traria a oportunidade de um bom emprego. “Eu pensei que se eu apenas ‘acompanhasse a música’ eu não seria essa imigrante do Brasil, sabe, e que eu teria algo a esperar [do futuro].”

Quando Marina completou 17 anos, Epstein disse que “não a queria mais” porque estava “muito velha”. A brasileira acrescentou que empresário pediu a ela que “recrutasse” mulheres jovens para ele.

A brasileira apontou que, anos depois, em 2008, agentes do FBI foram até ela para fazer perguntas sobre Epstein. Na ocasião, o depoimento de Marina não chegou a ser apresentado porque o empresário fechou um acordo com os promotores do caso. A mulher só teve a oportunidade de falar novamente às autoridades sobre os crimes do americano 11 anos depois.

Caso Jeffrey Epstein

Quem é Marina Lacerda, brasileira que relatou ter sido abusada por Epstein

Jeffrey Epstein (Crédito: Divulgação)

Jeffrey Epstein foi acusado, em 2005, de construir paralelamente uma rede criminosa envolvida em abuso e exploração de meninas menores de idade no início dos anos 2000.

O empresário tirou a própria vida em 2019 aos 66 anos após ser preso pela segunda vez. O americano era acusado de tráfico sexual de menores e de conspiração criminosa.

Segundo a ata de acusação, ele teria levado menores de idade, algumas delas com apenas 14 anos, para suas residências em Manhattan e em Palm Beach, na Flórida, entre 2002 e 2005 pelo menos, “para participar de atos sexuais com ele, depois dos quais lhes dava centenas de dólares em dinheiro”.

O magnata — cujos amigos incluíam o presidente Donald Trump, o ex-presidente Bill Clinton e o príncipe Andrew da Grã-Bretanha — já havia sido condenado por pagar jovens por massagens sexuais anos antes, mas conseguiu evitar ser acusado criminalmente nesses casos assinando um acordo controverso, no qual se declarava culpado de um crime estadual de solicitar prostituição a um menor e registrado como agressor sexual.

Na época, o empresário passou 13 meses em uma prisão, da qual ele poderia sair durante o dia, voltando todas as noites para a cadeia, antes de ser libertado em 2009.

Há boatos de que Epstein mantinha um documento com nomes de pessoas muito famosas e influentes envolvidas no escândalo sexual. O FBI afirmou que não encontrou nenhuma prova da existência de uma “lista de clientes”.

Donald Trump e Jeffrey Epstein

Epstein e Trump

Jeffrey Epstein e Donald Trump (Crédito: Reprodução/Netflix)

A percepção de falta de transparência nas investigações judiciais sobre o falecido criminoso sexual Jeffrey Epstein criou uma fissura entre o presidente americano, Donald Trump, e sua base republicana, que até agora lhe jurava lealdade.

O presidente foi envolvido em teorias da conspiração depois que seu ex-assessor, o magnata Elon Musk, afirmou em junho, em uma publicação apagada posteriormente na rede X (antigo Twitter), que Trump aparecia “no dossiê Epstein”.

Trump, que foi fotografado com Epstein diversas vezes em situações sociais nas décadas de 1990 e início de 2000, disse a repórteres em 2019 que terminou seu relacionamento com Epstein antes que seus problemas legais se tornassem aparentes.

Em 2002, Trump, vizinho de Epstein na Flórida, foi citado na revista “New York” dizendo: “Conheço Jeff há 15 anos. Um cara incrível. É muito divertido estar com ele. Dizem até que ele gosta de mulheres bonitas tanto quanto eu, e muitas delas são mais jovens.”

Falando a repórteres no Salão Oval em 2019, Trump disse que ele e Epstein tiveram um “desentendimento” antes do empresário ser preso pela primeira vez. “Não falo com ele há 15 anos. Não era fã dele, isso eu garanto”, afirmou o presidente.

Segundo o “Wall Street Journal”, o nome do presidente estava entre as centenas achados durante uma revisão do Departamento de Justiça dos arquivos de Epstein, embora não tenham sido encontradas provas de irregularidades.

O caso gerou teorias da conspiração que se tornaram populares entre a base de apoiadores de Trump, que acreditavam que o governo estava encobrindo os laços de Epstein com os ricos e poderosos.

Um memorando do Departamento de Justiça divulgado em 7 de julho concluiu que Epstein se suicidou e afirmou que não havia “nenhuma lista incriminadora de clientes” ou evidências de que Epstein tenha chantageado pessoas importantes.

*Com informações da AFP e da Reuters