Principal porta-voz da cascata de medidas americanas impostas contra o Brasil desde julho, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, foi o escalado pelo presidente Donald Trump para negociar o tarifaço imposto a produtos brasileiros.
A ligação entre Trump e Lula na última segunda-feira marcou uma mudança de tom na retórica do presidente americano em relação ao Brasil. Antes, ele criticava duramente o governo e o Judiciário brasileiros como forma de apoiar o ex-presidente Jair Bolsonaro. Agora, afirma ver “química” na relação com Lula, descreve o diálogo como positivo e se diz disposto a manter novas conversas.
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Do lado brasileiro, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o vice-presidente, Geraldo Alckmin, serão responsáveis por negociar o alívio das tarifas de 50% impostas a produtos nacionais, além de tentar reverter a ofensiva americana contra o Pix e a regulamentação das redes sociais. Também interessa ao governo brasileiro que a Casa Branca suspenda restrições aplicadas a autoridades, como as sanções financeiras que atingem o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.
O impasse sobre até que ponto os EUA podem ceder a estas demandas deve recair sobre Rubio, cuja escolha, natural para seu cargo, foi comemorada por bolsonaristas. Para o deputado federal Eduardo Bolsonaro, por exemplo, a presença do chefe da diplomacia americana na mesa de negociações foi um “golaço” de Trump.
Por outro lado, em diversas declarações à imprensa, o assessor especial da Presidência Celso Amorim afirmou que o perfil de Rubio não preocupa o governo e que o secretário seguirá as orientações de Trump.
Porta-voz de sanções contra o Brasil
Filho de imigrantes cubanos, Rubio é conhecido por adotar um discurso mais conservador e uma postura linha-dura nas tratativas internacionais. Desde que assumiu o cargo, equivalente ao ministro das Relações Exteriores brasileiro, ele tem sido o mais vocal membro do governo a endossar sanções contra países comandados por políticos de esquerda.
Foi o próprio Rubio, por exemplo, que anunciou Moraes e sua mulher, Viviane Barci, como alvos da Lei Magnitsky, que impôs sanções americanas ao casal. Na ocasião, ele disse que Moraes “criou um aparato de perseguição e censura que viola os direitos fundamentais brasileiros”.
Em agosto, Rubio também restringiu viagens e acusou membros do governo brasileiro de serem cúmplices de um “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano” devido à implementação do programa Mais Médicos no país.
Após o julgamento que condenou Bolsonaro por golpe de Estado e outros crimes, Rubio foi às redes sociais prometer que os EUA “responderiam adequadamente” ao “caça às bruxas” contra o ex-presidente brasileiro.
“America First” nas relações internacionais
Antes de sua nomeação, Rubio já era conhecido por suas críticas duras à China, ao governo de Cuba e o apoio irredutível a Israel. Em 2020, Pequim chegou a impor sanções contra ele devido a seu posicionamento em relação a protestos pró-democracia em Hong Kong. Contudo, no passado, defendeu uma política externa mais “tradicionalista” e assertiva dos EUA em relação aos rivais políticos do país.
Mais recentemente, porém, Rubio passou a trabalhar para implementar a abordagem “America First” de Trump nas relações diplomáticas, passando por ele a responsabilidade de transformar a retórica trumpista em agenda política. Por exemplo, a ideia de ocupar Gaza ou reivindicar a Groenlândia.
Ele foi ainda enviado ao Panamá para anunciar a promessa de Trump de “recuperar” o Canal do Panamá e conseguiu pressionar o país a desfazer acordos com a China. Em março, após uma discussão de Trump com o presidente ucraniano Volodimir Zelenski, foi à Arábia Saudita liderar diálogos com contrapartes russas, ainda que no passado tenha defendido o rompimento das relações com Moscou e chamado o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de “bandido”.
Rubio também desempenhou um papel de liderança na controversa repressão à imigração nos Estados Unidos, garantindo um acordo para enviar supostos membros de gangues para uma prisão de alta segurança em El Salvador e revogando milhares de vistos de estudantes, muitos após os estrangeiros terem participado de protestos contra Israel.
De ex-rival de Trump a principal aliado
Rubio atuou como senador da Flórida entre 2010 e 2025, ano em que assumiu um dos cargos mais importantes da Casa Branca.
Em 2016, concorreu às prévias do partido republicano contra o próprio Trump, a quem hoje é fiel. À época, eles trocaram farpas em debates, com Trump apelidando Rubio de “Little Marco” (“Pequeno Marco”) e de “vigarista” por faltar a votações no Senado. Rubio, que também acusou Trump de ser um “vigarista” e zombou do tamanho das mãos do então empresário.
Na ocasião, Rubio também atacou Trump por contratar imigrantes para trabalhar em seus empreendimentos, cujas vagas “poderiam ter sido preenchidas por americanos”. Ele ainda disse que Trump deveria ser declarado inelegível por ter recebido apoio de um ex-líder da Ku Klux Klan.
Mais tarde, Rubio afirmou que esses comentários foram feitos no contexto de uma primária competitiva, se comparando a um boxeador que golpeia um adversário no ringue. “Não significa que você odeia o cara, mas estávamos competindo pelo mesmo cargo”, disse à emissora americana CNN na ocasião.
(OTS, Reuters, AFP)