Em um vídeo divulgado nas redes sociais no dia 27 de maio, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) teceu elogios ao influenciador Paulo Figueiredo. “Eu abro a porta, eu sou o coração, mas você é o cérebro”, disse o político em referência às articulações que ambos têm feito nos Estados Unidos para pressionar por sanções contra autoridades e instituições brasileiras.
Neto do general João Baptista Figueiredo, último presidente brasileiro na ditadura militar (1979-1985), Paulo foi sócio de Donald Trump, em 2013, para a construção do Trump Rio de Janeiro Hotel, na Barra da Tijuca, visando expandir a rede hoteleira com o boom provocado pela Olímpiadas de 2016.
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O empreendimento não vingou, principalmente porque o deputado se tornou alvo de uma investigação policial por suspeita de corrupção. No mês de dezembro de 2016, Trump lançou sua primeira candidatura à Presidência dos EUA e retirou sua marca do negócio.
No final de 2015, Paulo Figueiredo deixou o cargo de diretor-executivo da empresa hoteleira e se mudou para os EUA, onde reside atualmente. A investigação sobre o empreendimento prosseguiu e o brasileiro teve o nome incluído na lista de procurados da Interpol e, em 2019, acabou sendo preso em Miami, sob suspeita de integrar um suposto esquema de pagamento de propinas a dirigentes do BRB, banco controlado pelo governo do Distrito Federal, em troca de recursos para a construção do extinto Trump Hotel.
O influenciador ficou preso por 17 dias no centro de detenção Krome, localizado em Miami, e cumpriu por mais dois anos medidas cautelares na Flórida. A ação contra o empreendimento hoteleiro foi trancada em 2021.
Congresso americano
Por meio de um vídeo publicado em seu canal no YouTube, Figueiredo afirmou que passou a frequentar o Congresso americano logo após as eleições presidenciais de 2022, “em busca de apoio”.
A partir desse momento, o influenciador se tornou o principal aliado de Eduardo Bolsonaro na ofensiva contra os ministros do Supremo Tribunal Federal.
Enquanto ele atua nos EUA, é alvo no Brasil do inquérito das fake news e também foi denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) no caso da suposta tentativa de golpe de Estado, integrando o chamado “núcleo 5”.
Durante uma sessão no Parlamento americano, em 21 de maio, o secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, afirmou que estava analisando a possibilidade de aplicar punições contra Moraes usando a Lei Magnitsky, que estabelece sanções contra grupo terroristas, pessoas ligadas a esquemas de corrupção ou acusadas de violações dos direitos humanos.
Cerca de uma semana antes dessa sessão, o deputado republicano Cory Mills, preside o subcomitê de inteligência das relações internacionais no Capitólio, havia se reunido com Paulo Figueiredo, Eduardo Bolsonaro e o presidente da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, Filipe Barros (PL-PR).
Após o encontro, o deputado licenciado disse: ““Essa interação que dá resultado no mundo real, não fica apenas no boca a boca”. “Vale lembrar também que ele [Mills] é uma pessoa que se relaciona com o poder executivo aqui nos EUA. Não deve demorar para ter encontros, inclusive, com o Secretário de Estado Marco Rubio”, completou.
Na mesma ocasião, Paulo Figueiredo afirmou: Fiquei realmente impressionado porque foi uma reunião com grau de objetividade muito grande. E um deputado já familiarizado com a situação do Brasil, o que mostra que todo esse trabalho de formiguinha, de bater de porta em porta, já surtiu efeito”.
Discípulo de Olavo de Carvalho
Paulo Figueiro segue os mesmos passos de Olavo de Carvalho, falecido em 2022 e a quem se refere como “professor”.
Em um vídeo no YouTube, o influenciador disse que está “absolutamente radiante de estar dando seguimento às ideias do professor Olavo de Carvalho”. “Você acha que Olavo morreu? Olavo não morreu não, Olavo vive através de nós”, destacou.
Assim como Olavo de Carvalho, Figueiredo usou a mídia brasileira para começar a ter visibilidade. Ele atuou durante anos na rádio Jovem Pan. Um relatório elaborado pela Polícia Federal aponta que Paulo Figueiredo usava seu programa “Pingos nos Is” para espalhar informações falsas e sujar a reputação de generais que não aderiram ao suposto golpe de Estado.
Ainda segundo o documento, no dia 28 de novembro de 2022, Figueiredo citou os nomes de Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, comandante militar do Sudeste; Richard Fernandez Nunes, comandante militar do Nordeste; e Valério Stumpf Trindade, chefe do Estado-Maior do Exército, e afirmou que eles não estavam “se colocado de forma aberta na articulação contra uma ação mais direta, mais contundente das Forças Armadas”.
Nos dias seguintes, esses militares viraram alvos de ataques nas redes sociais porque estariam traindo “o povo na porta dos quartéis”.
Outro aspecto parecido com o seu “professor” é que Figueiredo vende um curso sobre política e história alinhados às ideias da extrema-direita, tendo sido oferecido a sete deputados bolsonaristas às véspera da posse de Trump ao segundo mandato, em janeiro de 2025.