O Brasil e Israel encontram-se envolvidos em uma crise diplomática após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comprar o atual conflito na Faixa de Gaza com o Holocausto nazista. A fala ocorreu durante o discurso do petista na 37ª Cúpula da União Africana, na Etiópia, no dia 18 de fevereiro.

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A declaração de Lula provocou fortes reações do governo de israelense, que o declarou como “persona non grata” e convocou o embaixador do Brasil em Tel Aviv, Frederico Meyer, ao centro do Holocausto Yad Vashem, em Jerusalém, onde recebeu uma advertência pelas falas do petista. O Itamaraty demonstrou irritação com a atitude do ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, por considerar que a reunião no museu quebrou o protocolo, pois deveria ter sido em um local apropriado, privada entre os dois diplomatas, não pública e com a presença da mídia.

Após a reunião, o governo brasileiro convocou o embaixador Frederico Meyer para retornar a Brasília (DF) para consultas. Ele deve chegar em território nacional nesta quarta-feira, 21. Além dele, o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, foi chamado a comparecer ao Palácio Itamaraty, no Rio de Janeiro, na segunda-feira, 19, para que o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, demonstrasse a sua insatisfação pelo tratamento dado a Lula.

Segundo o colunista Jamil Chade, do UOL, membros do alto escalão do governo federal consideram que a presença de Daniel Zonshine no Brasil pode ficar “insustentável” e a relação com o embaixador vai depender da sua postura nas próximas semanas.

Quem é o embaixador Daniel Zonshine?

Daniel Zonshine ingressou no Ministério de Relações Exteriores de Israel em 1990, onde construiu uma carreira que o alçou a representante israelense em cinco países. No Brasil, a sua primeira passagem ocorreu como ministro-conselheiro entre 1998 e 2002.

Depois ele passou a ocupar o cargo de cônsul geral em Mumbai, na Índia, onde ficou entre 2005 e 2008, e embaixador de Israel na cidade de Yangon, em Mianmar. No ano seguinte, retornou a Israel para concluir o curso de mestrado em Estudo de Defesa na Universidade de Haifa e na Universidade Nacional de Defesa.

Desde 2018, Daniel Zonshine é responsável pelos Programas no Exterior da Agência Nacional para a Cooperação Internacional de Israel. De volta ao Brasil, ele foi escolhido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para substituir Yossi Shelley como embaixador de Israel no Brasil, cargo que ocupa há quase três anos.

O primeiro mal-estar entre Daniel e o governo Lula ocorreu quando o embaixador participou de uma reunião com Jair Bolsonaro e outros parlamentares na Câmara dos Deputados, em novembro de 2023.

No encontro, foi exibido um filme sobre as supostas atrocidades cometidas pelo Hamas durante os primeiros dias de confronto contra Israel. A guerra eclodiu no dia 7 de outubro de 2023, quando integrantes do grupo islâmico invadiu o território israelense.

Após o ocorrido, o governo teria decidido não expulsar Daniel Zonshine do Brasil para não atrapalhar a comunicação e diálogo com Israel para que brasileiros pudessem deixar a Faixa de Gaza.

Outro ponto que pode estar incomodando o Itamaraty é o fato de Daniel ter sido convidado para comparecer ao ato de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, em São Paulo, no dia 25 de fevereiro, no qual o ex-presidente afirma que vai provar a sua inocência contra as suspeitas de que seu governo agiu contra o Estado Democrático de Direito.

De acordo com Jamil Chade, o Itamaraty calcula o impacto de solicitar a Israel que troque de embaixador, pois, considera que essa atitude pode ser usada pela extrema-direita mundial e pela oposição contra Lula.

Mesmo assim, a pasta ressaltou que pretende agir com diplomacia, mas com toda firmeza a qualquer ataque que receber.