Ainda não há resposta para o título dessa reportagem, mas a identidade de Banksy, nome que consta em seu documento, não chega a ser uma informação essencial para a compreensão do seu trabalho. O importante é saber que ele é o personagem mais revolucionário da arte de rua e o artista mais relevante da atualidade. Protegido como segredo de estado pelo staff e amigos, o anonimato alimenta o mito – além de funcionar como uma bela jogada de marketing. Alguns garantem que Banksy é Robin Gunningham; outros dizem que se trata de Robert Del Naja, músico do Massive Attack. Os dois grafiteiros surgiram nos anos 1990 na cidade inglesa de Bristol, onde está a maioria das obras atribuídas a Banksy.

Seu nome começou a ganhar força em 2006, com o sucesso da mostra “Barely Legal”, em Los Angeles. Uma das obras era o vídeo do artista instalando um boneco de Mickey Mouse vestido com o uniforme laranja da prisão de Guantánamo em plena Disneylândia, em uma crítica corrosiva à presença americana no Iraque. “A arte convencional, como uma estátua ou uma pintura, é concebida para durar centenas de anos. A arte de rua, graças a sua curta exposição, só permanece quando é documentada. E para isso basta apenas alguém com uma câmera”, define o artista, sem mostrar o rosto, no premiado documentário “Exit to the Gift Shop”.

ARTE URBANA 1. Sua obra mais recente gerou polêmica: o comprador derrubou a parede e levou o grafite para a galeria 2. Uma de suas imagens mais icônicas: no muro que separa Israel e Palestina, manifestante troca as pedras por flores 3. Crítica à valorização: Banksy destruiu o próprio quadro por controle remoto após a obra ser comprada por uma fortuna em um leilão

Valorizado

Suas obras passaram a ser cobiçadas por colecionadores que veem nele uma versão pós-moderna e mais subversiva que Andy Warhol e Jean-Michel Basquiat. Resultado: os preços explodiram. Isso gerou polêmica a respeito
do próprio conceito de street art, uma vez que os compradores não pensam duas vezes antes de derrubar muros para levar os grafites de Banksy a galerias e museus. As imagens pintadas com técnicas de estêncil viraram sua marca registrada e tornaram-se cartões postais, atraindo até turistas – uma ironia que ele certamente previu.

O brasileiro Eduardo Kobra, um dos grandes nomes do estilo no País, afirma que suas imagens são pequenas mas provocam um impacto gigantesco: “Ele nos ensina que, apesar de a obra ocupar um espaço público, seu significado conta mais que o tamanho.” Kobra não acredita na contradição entre a crítica social e o alto valor que as obras atingem em leilões. “Banksy quebra a barreira histórica de quem defende que a arte de museu é intelectual e a street art é marginal. Ele mostra que o muro entre a galeria e a rua não existe mais.”

A escolha do local dos grafites é parte importante da mensagem. Em Belém, na Cisjordânia, ele reformou o hotel com a “pior vista do mundo” e instalou obras icônicas. Entre elas, um presépio cercado por um muro, com um buraco feito por uma bala de metralhadora em formato de estrela – é a “Cicatriz de Belém”. Para Henrique Montanari, artista conhecido como EDMX, o que mais chama a atenção é sua criatividade. “Ele é um grande contestador. Não é só estético, bonito de se ver. Há um conceito por trás”, afirma. Na opinião de Felipe Lavignatti, criador do projeto Arte Fora do Museu, seu trabalho muitas vezes é posto de lado pela aura de mistério que ele mesmo criou. “Em uma época em que a fama é sempre o objetivo principal, Banksy sequer dá as caras. É um ícone pop sem rosto, que subverte o sistema fazendo de sua arte também um ato de marketing”, afirma Lavignatti. O plano de Banksy, quem quer que ele seja, está dando certo.