É difícil imaginar que algum dia surgirá na história política do Brasil um líder tão covarde como Jair Bolsonaro. No Brasil ou em qualquer outro país, para falar a verdade. O depoimento do ex-presidente à Polícia Federal na última quarta-feira só pode ser classificado como um ato vergonhoso. É apenas mais um episódio que nos deixa estupefatos: como entregamos a um indivíduo desse nível a cadeira da Presidência da República?

O valentão de outrora agora se esconde atrás de uma desculpa esfarrapada para tentar fugir da prisão. Se existe Justiça no Brasil, não conseguirá. Seus seguidores, sempre tão críticos de Lula, devem lembrar que o atual presidente pelo menos teve a coragem de sustentar suas verdades. Isso o levou a enfrentar 580 dias de prisão, sempre de cabeça erguida, mesmo considerando que sua sentença era injusta. Lembra do Jair Bolsonaro, que se vangloriava de ser “o capitão”? Que falava duro nos discursos de 7 de Setembro? Que seus apoiadores chamavam de “mito”?

Pois ele mostrou que não tem sequer a dignidade de assumir uma simples publicação em uma rede social. Isso tem nome: é medo. Ao ser questionado sobre o vídeo que postou questionando a lisura das urnas eletrônicas, dois dias depois de perder a eleição, teve a pachorra de sair-se com essa: estava sob efeito de medicamentos. Coitadinho. Era apenas um paciente aparvalhado, que usou de forma confusa o celular. Não sabia o que estava fazendo. Defendeu que a eleição brasileira havia sido fraudada “sem querer”.

Se Bolsonaro for capaz de manter um único apoiador depois dessa patacoada, é sinal de que o Brasil merece mesmo um político como ele. Aproveito para lembrar que essa mesma desculpa poderia ser usada para os quatro anos em que esteve no poder, uma vez que fica cada vez mais claro que ele não tinha a menor ideia do que estava fazendo lá. Sua defesa, que teve a capacidade fenomenal de articular essa tese “brilhante”, merece os parabéns.

A culpada, portanto, é a morfina que Bolsonaro tomou no hospital de Orlando, na Flórida, para onde fugiu pouco antes da posse. Resta saber de quem é a culpa pelas dezenas de outras vezes que o ex-presidente mentiu deliberadamente sobre as urnas eletrônicas, sempre com o mesmo propósito: criar algum tipo de confusão que o permitisse dar um golpe de estado e se manter no poder. Infelizmente, para seus advogados, a morfina não pode ser usada como desculpa para ocultar sua cara de pau.