O corpo da mulher nunca esteve em total liberdade. Por isso, apesar do avanço dos anos, a discussão sobre machismo e sexismo seguem conduzindo debates em prol da libertação feminina. Não à toa, a internet veio abaixo após reportagem da Folha de S. Paulo ter revelado que planos de saúde só estavam liberando a inserção de DIU (dispositivo intrauterino), que serve como contraceptivo, em mulheres casadas, após o consentimento de seus companheiros. Não estou falando de Gilead – o Estado distópico criado por Margaret Atwood em “O conto da aia”. Estamos falando de Brasil, mais especificamente Minas Gerais e São Paulo.
Quando Atwood escreveu o seu romance distópico, não parecia que a realidade, um dia, fosse chegar tão próxima do irreal. Estamos no século 21 e as mulheres precisam do sim de seus parceiros para ter o domínio de seus corpos. E quando elas não os têm? Uma amiga, que prefiro manter no anonimato, contou que quando era solteira quis colocar o DIU. No consultório médico, disseram que ela precisava participar de uma palestra sobre o tema – acompanhada, é claro, de seu companheiro. Ela, à época solteira, perguntou se era obrigatório tal acompanhamento. E disseram que o procedimento só seria realizado em mulheres comprometidas. Ela desistiu do DIU.
Passam-se alguns anos e a situação continua a mesma. Gilead já nem parece mais tanto uma distopia, os traços reais são mais fortes que a fantasia. Se Atwood precisar de inspiração para os próximos livros, aconselho uma visita ao Brasil, que, infelizmente, caminha para transformar a distopia em realidade.