O cardiologista paraibano Marcelo Queiroga, 57 anos, viu em sua ascensão ao comando do Ministério da Saúde de Jair Bolsonaro (PL), em março de 2021, a possibilidade de se lançar na política partidária. Ele já era filiado ao Republicanos desde março de 2020, mas foi a partir de sua chegada ao primeiro escalão do governo federal que viu seu nome ser cogitado para disputar o governo da Paraíba. Mas ainda no início do ano o ministro abriu mão do projeto para trabalhar pelo sonho do filho, o estudante de medicina Antônio Cristóvão Neto, 23 anos, que busca uma vaga de deputado federal pela Paraíba natal. Zeloso, o pai coruja tem ajudado bastante a alavancar o projeto do rebento: deu um jeito de colocar a estrutura da pasta da Saúde para dar uma forcinha na campanha. Queiroguinha é presença constante no gabinete ministerial e tem participado, ao lado do pai, de eventos oficiais de liberação de recursos para municípios paraibanos. Também se prontificou a abrir portas para que prefeitos aliados possam se reunir com o ministro para tratar da liberação de recursos públicos.

De acordo com informações obtidas pelo jornal O Globo por meio da Lei de Acesso à informação, em doze meses, Queiroguinha esteve 18 vezes no Ministério da Saúde e outras 13 vezes no Palácio do Planalto – e em ao menos três delas se reuniu com o presidente. Os registros fotográficos dos encontros vão direto para suas redes sociais. “Debatemos sobre avanços para a Paraíba. Oramos juntos”, publicou o filho do ministro no dia 15 de março. Ele também esteve ao lado de Bolsonaro durante evento de entrega de casas populares em João Pessoa. Sentou-se no espaço reservado a autoridades e durante a cerimônia foi saudado nominalmente pelo mandatário. Em pelo menos uma ocasião, se apresentou como integrante do Poder Executivo. “Enquanto representantes do governo federal, precisamos ter um olhar de sensibilidade para esta região”, discursou ao anunciar um repasse de R$ 12 milhões para a região do Cariri.

PRIVILÉGIO O herdeiro de Marcelo Queiroga também tem se reunido – e posado para fotos – com o presidente Bolsonaro para “conversar sobre a querida Paraíba” (Crédito:Divulgação)

Campanha eleitoral antecipada? Improbidade administrativa? Tráfico de influência? O caso foi levado ao Ministério Público Federal por parlamentares da oposição, com pedido de providências. Uma das representações foi feita pelo líder do PSB na Câmara, o deputado federal maranhense Bira do Pindaré, que apontou “grave ato de imoralidade administrativa” do pai e do filho. “Queiroguinha já é conhecido como o menino da carteirada”, diz trecho do documento. O caso está em apuração na Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília, sob a responsabilidade da vice-procuradora-geral da República Lindora Araújo. Ela é o braço-direito de Augusto Aras, o chefe da instituição indicado por Bolsonaro cuja atuação tem sido bastante alinhada com os interesses do presidente. “O caso está em análise na assessoria criminal da PGR. Com diligências pendentes”, informou a assessoria, que não mencionou o prazo para a análise nem que diligências seriam essas. “A única informação disponível no momento é que o caso está em análise”.

“Qual é o problema de um filho visitar um pai no ambiente de trabalho? Tenho a consciência tranquila, ajo dentro da lei. Os recursos liberados são avaliados por técnicos” Marcelo Queiroga, ministro da Saúde

Na terça-feira, Marcelo Queiroga compareceu, como convidado, a uma audiência na Comissão do Trabalho, Administração e Serviço Público da Câmara convocada para discutir o assunto. O requerimento para ouvir o ministro também partiu da liderança do PSB.  “Qual é o problema de um filho visitar um pai no ambiente de trabalho?”, perguntou Queiroga quando instado a se manifestar sobre as constantes visitas do filho ao Ministério da Saúde. “Tenho a consciência tranquila, ajo dentro da lei. Todos os recursos liberados pelo ministério da Saúde são avaliados pela equipe técnica da pasta”, argumentou. Em pelo menos duas ocasiões, Queiroguinha despachou no gabinete ministerial quando o pai estava fora de Brasília. Também compareceu ao Palácio do Planalto quando o pai não estava no local. A campanha vai bem, obrigado.